Filha

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Abri os olhos e ele não está, como de costume. Eu acho que deveria amarrá-lo à cama todas as noites. Vejo as horas e já é um pouco tarde, então surpreendente seria se estivesse aqui.

Me sento e observo a cidade lá fora. O dia está bem bonito e ensolarado. Pego o meu celular e abro meus contatos. O único com a letra "V" me faz pensar.

Essa história mexe muito comigo e com as lembranças do passado. Será que minha mãe teria me contado sobre a sua existência um dia? Talvez ela não quisesse tocar nesse assunto.

Eu daria tudo para tê-los perto de mim novamente.

- Anne.

Sou tirada dos meus pensamentos com seu toque em meu ombro.

- Oi? - Digo.

- Você nem notou minha presença. Estava tão distante. Aconteceu alguma coisa? - Se senta à minha frente.

Pela sua roupa, obviamente foi malhar.

- Só estava pensando em algumas coisas, precisamente nos meus pais, o que inclui o Vicente.

- Quer me contar o que te preocupa?

- É que... eu já sei que ele é o meu pai biológico e não teve culpa em não termos convivido juntos, mas... por que eu não consigo sentir afeição, ou sei lá... É o meu pai, eu deveria ter sentimentos mais específicos. Eu gosto  do Vicente, sei que é uma boa pessoa, mas parece que minha ficha ainda não caiu. Será que estou errada, ou sendo egoísta?

- Meu amor...- Segura minha mão. - Não é isso. Você passou toda a sua vida acreditando em uma verdade e de repente, depois de tantos anos aparece alguém te mostrando outro lado da história. Sua confusão de sentimentos é totalmente normal, por que não vai ser do dia para a noite que vai conseguir, por exemplo chamá-lo de pai. Tem uma coisa que sempre deve ter em mente. - Diz.

- O quê?

- Permitir a aproximação do Vicente e cultivar a relação, não é como se você estivesse traindo o Alessandro. Ele sempre será seu pai e nunca vai ser substituído. São duas pessoas diferente e talvez tenha medo disso... No seu coração tem espaço para os dois, tenho certeza disso.

- Tem razão, Arthur... posso amar os dois. Eu sinto que por muitas vezes ele tenta ser mais próximo, mas fica com receio de estar me pressionando. Tenho que me permitir e com o tempo vou me adaptar e aproveitar que o tenho comigo.

- Exatamente. - Sorri. - Você não está sozinha, Anne. Sempre que quiser conversar, estarei aqui.

- Obrigada, meu amor. Suas palavras sempre me tranquilizam. - Me aproximo e lhe dou um abraço apertado.

- Anne, estou todo suado. - Tenta me afastar.

- Não importa, só me abraça. - Peço.

Atendendo ao meu pedido, seus braços me trazem para perto de si.

- Por que não convida o Vicente para jantar hoje a noite. - Propõem.

- Acho uma boa ideia e uma ótima ocasião para apresentá-lo a Kate e aos meus amigos.

- Ótimo. Liga para todos. Vou tomar um banho. - Me dá um beijo.

Fico sozinha no quarto e início a chamada.

- Anne, tudo bem? - Atende depois do terceiro toque.

- Oi. Tudo bem, Vicente e com você?

- Confesso que um pouco surpreso com sua ligação.

- Está ocupado? - Pergunto.

Meu Professor 2Onde histórias criam vida. Descubra agora