Foram apenas três dias que ficamos fora de casa. Mas com certeza foram os três dias mais intensos das nossas vidas, por tanto parecia ter passado muito mais tempo, e andar pelas ruas conhecidas concretizava na minha cabeça o nosso feito, conseguimos, éramos campeões mágicos, os três, nem tudo ocorreu como eu sonhei, mas essa parte sem dúvida foi perfeita.
Chegamos na frente do orfanato, como estava de noite não foi difícil ver a luz que vinha lá do quintal, provavelmente uma grande fogueira. Escutamos vozes e as pessoas riam, cantavam, conversavam sem parar. Senti um frio na barriga e olhei os meninos, Blasco parecia novamente uma criança, animadíssimo e orgulhoso de si mesmo, Gil queria se apressar a entrar, Plem ia liderando o caminho nos ombros do grandão e eu seguia com Emilian. Estávamos de mãos dadas, provavelmente o caminho todo, mas só agora tinha percebido.
– Essa é sua casa? – Ele perguntou um tanto intimidado, talvez pela quantidade de vozes que vinham lá dos fundos.
– É sim, e suponho que será a sua por enquanto.
– Com você né?
– É, comigo.
Ele sorriu e perguntei se podíamos entrar, ele fez que sim. Passamos pelo portão e ouvimos uma gritaria vinda lá do fundo, provavelmente tinham visto Gil e Blasco. As pessoas aplaudiam e gritavam os nomes deles, não eram só as pessoas do orfanato, pela quantidade de vozes parecia ser a rua toda. A frente do quintal estava escura, mas ia se iluminando, pude ver bandeirolas amarrada em barbantes que estavam presos no telhado da casa até um pinheiro. As pessoas ainda falavam e eu pude escutar uma voz perguntar alto calando as outras:
– E Plim? Não veio? Onde ela está?
Saí das sombras e vi a multidão e Treysa que estava aflita perguntando.
– Estou aqui. – Disse sorrindo e as pessoas se viraram pra mim surpresas, Treysa pôs a mão na boca e com os olhos marejados abriu os braços vindo em minha direção. Eu a abracei e as pessoas aplaudiram, comemorando felizes. – Eu consegui Treysa, consegui.
– Eu sei.
A segurei com força. Seu rosto pairou na minha mente com frequência nos últimos dias e era realmente um conforto sem igual pode-lo ver na minha frente, sentir, provar seu afeto.
As pessoas falavam com os meninos, havia gente tocando violino, pandeiros e violões, o fogo estalando e risadas bem altas. Treysa se afastou e me avaliou.
– Você está péssima.
– Obrigada.
– Sério, olha só como tá magra.
– Novidade.
– Você... – Treysa viu Emilian parado que olhava as pessoas com espanto e satisfação, passavam ao lado dele, quase esbarrando, seus olhos se perderam nas poderosas chamas da fogueira. – Quem é esse?
– Ah, é uma história esquisita, mas ele se chama Emilian e vai passar um tempo conosco.
Treysa se aproximou do menino e os dois apertaram as mãos.
– É um órfão? – Perguntou Treysa com dó. – Você não tem família querido?
– Tenho. – Disse ele sorrindo. – Plim, ela é minha família.
Treysa sorriu sem saber se era um pensamento de criança.
– Ele é meu item. – Expliquei. – O puxei do portal.
– Você... – Treysa ficou confusa mas logo retomou a postura. – Entendo, então ele é sua responsabilidade. Muito bem Emilian, temos comida e bebidas, está com fome?
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Escama Negra
FantasíaPlim é uma órfã de dezesseis anos que odeia seu nome e detesta crianças. Depois de perder um de seus olhos num ataque com bandidos ela decide participar de uma competição especial, conseguir um dos cobiçados itens mágicos e se tornar uma cavaleira a...