Os Pinedos.

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– Não acredito que deixamos a canoa pra trás. – Resmungou Sará. – Algum malandro vai roubar, certeza.

– Isso aqui é como um sonho teatral. – Disse Cecilia sorrindo e abrindo os braços. – Que a levem, pois é feita de espuma e vento, não tem valor algum, como tudo por aqui.

– Pra mim parece real. – Disse Emilian e Sará concordou.

Nos aproximamos do portão principal, alguns guardas o vigiavam e pessoas entravam; viajantes a pé, famílias em carroças, alguns sujeitos levando mercadoria para a grande feira de Alba. todos passando por nós. Entramos na cidade, as pessoas conversavam, um sujeito gritou pra que saíssemos da frente e atravessou com uma carroça cheia de lenha, espirrando lama em nós. Cães magricelas vagavam por aí. Andávamos sem objetivo apenas observando Alba mais uma vez.

– E agora? – Perguntou Sará.

– Não sei. – Respondi. – Das últimas vezes o destino nos guiou.

– O que? Vamos ficar aqui esperando que...

Um sujeito correu na nossa direção parecendo aliviado e tocou em Emilian que ficou a ponto de atacar. O sujeito desmanchou o sorriso e voltou a ficar preocupado.

– Mil perdões. – Disse o homem, e reparei o desalento em seu rosto, ele usava roupas pomposas e até mesmo cheirava a rosas. – Achei que fosse outra pessoa, por acaso não viram um garoto de uns doze anos e uma garotinha de dez, eles tem o cabelo preto estão vestindo roupas boas e um tem uma adaga na cintura.

– Não senhor. – Respondeu Sará. – Não vimo não.

– Céus, estou perdido. Obrigado mesmo assim, preciso ir.

O homem começou a se afastar e Sará fez sinal que o sujeito devia ser doido, Cecilia precisou abafar um risinho. Ela não percebia como tinha razão, era um sonho teatral e os atores estavam se apresentando.

– Podemos ajudar. – Gritei antes que o homem se fosse, eu corri e o alcancei, os outros me chamavam e me seguiam. – Podemos lhe ajudar.

– Ah, graças aos Deuses, vamos nos dividir e procurar.

– Plim. – Resmungou Sará. – Não temos tempo a perder.

– Se acharem crianças na descrição que dei a vocês é só gritar Ivna ou Endrien, se responderem são eles.

Todos se olharam ao ouvirem o nome Ivna e eu sorri convencida para Sará. Nos dividimos em duplas enquanto Elarin, o sujeito que nos pediu ajuda, procurava sozinho. Eu estava com Emilian, procuramos em becos, no mercado, nas ruas adjacentes e nada. Ficamos muito tempo nisso quando Emilian começou a bufar e se inquietar reclamando de fome e cansaço, resolvi voltar ao nosso ponto de encontro. Quando aparecemos Elarin já estava ali com olhos fundos, os cabelos bagunçados apoiando o queixo com a mão, um completo derrotado, quando nos viu levantou a cabeça com esperanças que morriam ao nos ver sozinhos. Balancei a cabeça negativamente e ele voltou a ficar amuado. Nos aproximamos. Emilian ficou encarando o homem, me olhou e sussurrou que o sujeito devia estar chateado e triste, sofrendo por dentro, eu respondi que sim e Emilian sorriu por ter acertado. Ele andava praticando empatia da forma que eu o ensinara.

– Talvez meus amigos tenham mais sorte. – Disse Emilian aplicando o segundo passo do treinamento, que era quando detectar alguém numa situação ruim tentar concertar as coisas.

– Duvido. – Disse o homem. – Esses pestinhas quando querem se esconder ninguém consegue acha-los.

– Plim, Emilian. – Gritou Cecilia ofegante correndo em nossa direção. – Rápido, nós os achamos mas precisamos de ajuda.

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora