Salão de dragões.

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Viajamos pela estrada, por toda a manhã e por toda tarde. No começo todos estavam descontraídos, jogavam conversa fora, enquanto eu observava o tempo, a paisagem, o trotar dos cavalos, o subir e descer de Emilian na minha frente. O caminho começou repleto de planícies, depois cercado pela floresta até algumas montanhas começarem a despontar no horizonte. Já no fim do dia todos estavam calados. Cecilia ia amuada, quieta, o que no seu caso era um milagre. Sará que antes se achava o melhor dos cavaleiros reclamava da bunda dolorida. Ivna quieta como sempre apenas olhava pra frente vendo a fumaça do cachimbo de Orin subir e desaparecer. Eu penso que no fundo o silencio deles era como o meu, à medida que nos aproximávamos de Petúnia eu começava a perceber que minha vida nunca mais seria a mesma, o orfanato, as irmãs, as crianças, Treysa, grandão, Porto verde inteira, tudo ficando cada vez mais distante. E o futuro era tão incerto que dava um nó na garganta, um nó tão firme e apertado que a voz não poderia sair.

O céu ficou laranja, o vento mais frio, escurecendo e escurecendo. O som dos cavalos trotando, a vegetação farfalhando e nada mais.

– Chegamos. – Disse Orin apontando além da colina ao leste. – Petúnia.

Emilian inquietou-se na sela se espichando.

– Ali Emil. – Eu disse sorrindo, conseguia ver as luzes, as casinhas, uma catedral com a torre do sino despontando, tudo bem perto de uma enorme floresta que se estendia leste a fora.

– Onde? Ah, eu vi, ali, as luzes.

– Bora irmãozinho. – Disse Sará incentivando seu cavalo. – Vamos ser os primeiros.

– Vai com calma. – Pediu Orin sorrindo bem de leve com o cachimbo na boca.

– Plim. – Chamou Emilian se virando e olhando pra mim. – Vamos deixar ele ganhar?

Eu sorri pegando as rédeas.

– Claro que não.

Avançamos com o cavalo e consegui ouvir Cecilia atiçar sua montaria, Ivna veio logo atrás cutucando o flanco do seu mestiço. Corremos pelo caminho de terra, levantando poeira no comecinho da noite, assustando pirilampos e sapos, gritando e rindo enquanto a cidade sumia atrás de uma montanha e reaparecia, bem próxima, na nossa frente. Sará aquietou o cavalo dele comemorando.

– Eu disse que ele era o melhor.

Eu parei do lado dele acalmando o coração acelerado e admirando a entrada da vila.

– Você saiu na frente. – Disse Emilian. – E quase ganhamos mesmo assim.

Orin vinha pela estrada, o pônei de passinho acelerado. Estávamos parados na estrada e um homem vinha se aproximando lá na vila detendo-se na entrada, outras pessoas pararam ao lado dele formando um pequeno grupo. Eles nos olhavam e pensei que nossa baderna talvez não tivesse causando boa impressão. Orin emparelhou conosco.

– Vamos com calma agora, ainda não sabem se somos amigos ou inimigos.

Cavalgamos comportados, as pessoas da vila nos encaravam. Um homem estava a frente de todo o grupo, era um sujeito negro de cabelos brancos, com poucas rugas no rosto, era alto e forte, com uma barba rala e grisalha.

– Parem aí amigos. Vamos conversar. – Disse o velho e vi que mais pessoas se aproximavam. Alguns estavam armados, embora as espadas continuassem embainhadas. – O que querem em nossa humilde vila?

– Primeiro ver como está minha casa e minhas coisas. – Disse Orin se aproximando enquanto o resto de nós permanecia parado. – Sei que há muitos ladroes aí, e depois ver os velhos amigos porque não?

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora