Escolhas.

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Gil, Blasco e eu olhamos o suposto navio, realmente ele não era um conhecido do porto, era bem grande e bonito, e limpando o convés vimos um marujo da marinha imperial. Não restava dúvidas, aquele seria o nosso navio. Andamos pelo porto animados, eu vi gaivotas disputando comida com pombas, um cachorro sonolento foi pisado por um estivador que xingou, Gil ia animado fazendo previsões, Blasco concordando e eu ouvindo, ouvindo Gil, os murmúrios de Blasco, a bagunça dos pássaros, os trabalhadores, o mar e o vento.

                                                                                           *

Treysa quando ouviu nossa descoberta, tentou se animar mas não conseguiu esconder o receio, nós três a abraçamos, o pior já tinha passado, lá na floresta, agora seria molezinha, ela ia ver.

Emilian brincava com os gêmeos no jardim, conversei com ele sobre o dia, avaliando. Ele parecia bem, estava maravilhado porque tinham achado uma toca de coelho, os gêmeos e Lilin tentavam atrair o bicho com uma folha de alface, sem sucesso, discutiam que talvez seria melhor arranjar cenoura.

– Pode ser que tenhamos que viajar em breve. – Eu disse olhando Emilian que sorria sem saber onde olhar, pra mim, ou pros meninos que vigiavam a toca.

– Pro teste?

– Sim. Vai ser legal né? Uma viajem nós dois.

– Muito.

Eu deixei Emilian ir e ele saiu em disparada se agachando junto com os outros, avaliando a toca, definitivamente iriam arranjar uma cenoura.

                                                                                               *

Encontrei com Fabre no Estabulo de sua família. O senhor e Senhora Ferlin, tinham voltado para Campinaria, uma vila pertencente à família deles, onde o pai de Fabre como cavaleiro ordenado treinava alguns homens. Assim me sentia mais à vontade, observando Fabre cuidar de Rayza, limpar as penas, as garras, e dar de comer. Rayza era incrível, a fronte dela era branca e as costas negras, as penas das assas eram tão longas que pareciam um vestido da nobreza, daqueles que se arrastam no chão. Os olhos eram pequenos, negros azulados, o bico curvado era tão afiado que ela partia nozes sem esforço algum, na primeira vez que eu a vi ela guinchou tão alto que acabei me assustando, parecia uma águia colossal, eu e Fabre rimos da minha cara, era um animal e tanto, podia sentir seu poder, sua autoridade. Ninguém a não ser Fabre podia toca-la.

– Mas já sabe a data? – Ele perguntou pra mim enquanto penteava Rayza.

– Não, só vimos o navio, parece mesmo ser do império.

Fabre estava meio desanimado, acho que ele não queria que eu fosse, já tínhamos conversado, e eu não aceitara sua proposta, queria fazer muitas coisas e não me casar, não agora, ele disse que podíamos realizar nossos sonhos juntos, e eu acreditava, mas a verdade é que eu tinha medo, não conseguia me socializar bem, embora que com ele fosse mais fácil, era fácil conviver com Fabre. Porém só de me imaginar presa à alguém pela vida toda....

– Acho que vou junto, invadir o navio, tenho que ir à Alba mesmo. – Comentou Fabre e eu sorri.

– Vão te jogar no mar, isso sim.

– Então vou na Rayza, vamos ficar sobrevoando seu navio, e quando ouvir o som dela gritando lá do céu, saberá que estou com você.

Eu fiquei olhando ele acariciar Rayza, ele me observou sorrindo, encontrei seus olhos, fiquei tímida mas mantive o olhar, senti seus significados, tantas promessas.

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora