Lendas magicas.

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No quarto dia desde a luta do beco, Blasco, Gil e eu estávamos sempre juntos. Superamos o incidente de maneira bem madura e inteligente, lutávamos os três com pedaços de paus abrindo nossos pontos e machucando as feridas ainda não curadas. As irmãs nos proibiram de praticar e ficamos muito dentro de casa. Era chatérrimo ficar lá dentro só escutando o escândalo e a bagunça das crianças. Eu já estava à ponto de ficar maluca quando o velho irmão Gostantin recebeu a notícia de uma visita. O sacerdote Alfonso Lindmares, o sacerdote do Duque e irmão mais novo de Gostantin, tinha vindo com a corte do capitão Arnaut, que era filho do Duque, um legítimo Pinedo. As irmãs fizeram todos trabalharem, queriam deixar a casa em ordem para a ilustre visita. Claro que nesse mesmo momento as nossas feridas começaram a doer muito.

— Pra ficar sacudindo os bastões e se batendo vocês estão bons. — Disse Treysa.

— Pois agora vão ajudar. — Ordenou Catalina.

Limpamos a casa emburrados, principalmente eu que fui a encarregada de supervisionar o trabalho das crianças. Malditos fedelhos, correndo, gritando, derrubando e quebrando, isso porque estavam limpando. Eu amaldiçoei em silencio o nome de Alfonso. Mas só fiz isso porque não sabia que a notícia que ele carregava iria mudar nossas vidas pra sempre.

Depois de tudo pronto as irmãs se concentraram no banquete. Eu estava exausta, as feridas realmente estavam doendo e tudo o que eu queria era me estirar no sofá.

— Não vai desarrumar a sala. — Gritou Treysa pra mim.

Quase a mandei cuidar de seu próprio serviço e me deixar, mas só bufei, esgotada, olhando pro teto. Eu só via metade do que via antes, a sensação era estranha, ás vezes meu olho morto coçava e eu não tinha coragem de retirar as ataduras e ter que olhar praquela coisa horrível. Escutei umas risadinhas e vi que os gêmeos jogavam bolinha de gudes no carpete da sala perto de mim. Estava me preparando pra dar um cascudo em cada, quando vi Lilin escalando a estante de livros pra pegar alguma coisa lá no alto. Plem apareceu na sala com seu giz de cera, temi pela parede. Chamei cada um pelo nome e ninguém me respondeu, então fingi muita dor e que estava morrendo. Plem desesperado veio ao meu auxilio, segurou minha mão e eu fingi que era a preocupação com as crianças que iria me matar, e isso não era totalmente mentira. Plem reuniu todos perto do sofá pra fazerem silêncio. Mas eu sabia que aquilo não poderia durar, eles iriam se entediar e recomeçar a bagunça, a tarefa mais difícil agora era manter tudo arrumado até a chegada de Alfonso.

— Acho que preciso me distrair. — Eu disse isso de maneira bem dramática e as crianças concordaram com as cabecinhas. Os gêmeos sugeriram jogarmos todos bolinhas de gude, Plem disse que podíamos pintar, e Lilin apontou para os livros sorrindo. — Qual você ia pegar?

— O da "Uma era mágica".

— Esse tem desenhos legais. — Disseram os gêmeos em uníssono.

Eu me arrastei até a estante e peguei o livro. Por coincidência esse também era o meu favorito. Lá contava a história dos antigos bruxos do reino, dos itens mágicos, de monstros e até dragões que reinaram nessas terras como deuses. Eu senti desconforto em ler com só um olho, e minha vista boa parecia cansar mais fácil, só que as crianças estavam quietas, então eu só pararia de ler seu meu olho rolasse solto pelo chão. Folheamos o livro e eles pararam numa gravura, onde mostrava um guerreiro segurando uma espada envolta em chamas.

— Altair o guerreiro das chamas. — Eu li e todos se espremeram ao meu redor, uns puxavam o livro com cuidado pra ver melhor a gravura e outros apenas abriam as boquinhas excitados com a história. — Aqui diz que ele conseguiu seu item mágico na masmorra do velho gordão, lá nas terras equinas.

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora