Resolvemos descansar num salão. Fiquei observando um corredor de piso limpo, com tochas iluminando o lugar. Imaginava o trabalho que dera para fazer esse teste, a quantidade de salas, de desafios, e mais do que tudo; a quantidade de tochas que gastaram. Ivna, Cecilia e Emilian se recuperaram. Emilian tinha cortes na barriga e nas costas, não eram tão sérios, e só acho que não foram graves porque Emilian estava transformado quando atacado.
Ficamos sentados no piso frio, recostados nas paredes de pedra. Eu tinha passado a pomada milagrosa de Orin nas costas de Sará e ele se recuperava aos poucos. Mesmo assim era horrível de se ver os ferimentos que sofremos logo no primeiro teste. Eu estava me perguntando se tudo aquilo valia apena. Todos em silencio, exaustos, apenas o resultado da primeira prova do dia. Fora toda a dor, era duro disputar contra os sonhos de outros esquadrões. A imagem de Laís não saía da minha mente, eu sabia bem qual sentimento ela experimentava, o fracasso que sentiu, decepcionar aqueles que confiam em você pode ser o pior de tudo. Eu queria reconhecimento e consegui, nomearam-me capitã, seguiam meus conselhos, minhas ordens, confiavam em mim, alcancei isso. Mas ao mesmo tempo que era gratificante trazia uma carga enorme, e percebi que o teste todo se tratava disso, de corresponder a confiança dos outros, de provar nosso valor. Ali não existiam nobres nem plebeus, só quem estava pronto ou não, quem dava tudo de si ou quem hesitava. Precisávamos passar no teste e valeria apena, por isso eu me sentia mal ao usar de métodos baixos, precisávamos provar quem eram os dragões, mostrar como erraram em nos subestimar.
Levantei com esforço sentindo os ferimentos que recebi por Sará, mesmo depois de tirar o anel os ferimentos ficavam com quem tinha feito a ligação, mas Sará tentou ser mais cuidadoso nas lutas, e acredito que não tenha feito isso por ele mesmo, mas sim por mim.
– Vamos. – Disse olhando Ivna e Cecilia recuperarem o folego, Emilian estava de pé, mesmo ferido ele se mantinha ao meu lado.
– O que será que vai ser agora? – Perguntou Cecilia levantando-se. – Espero que nada com fogo.
– Apoiado. – Disse Ivna.
Sará riu e o encaramos confusas.
– Nem me digam. Sei porque chamam esse esquadrão de Dragão Negro, desde que entrei nele virei churrasquinho várias vezes.
Caminhamos pelo corredor tranquilos. Estávamos bem, os ferimentos não tinham sido graves ao não ser o de Sará, mas ele já se recuperava graças a pomada contra queimadura. Chegamos num outro salão, ele não era muito grande mas tinha o piso negro e bem liso e, parado mais a frente estava um sujeito de capuz. Ficamos atentos e caminhamos pelo salão, nossos passos ecoando pela sala que tremeluzia à luz de tochas.
– Parabéns, passaram do primeiro teste. – Disse o sujeito. – Agora precisam beber desse cálice.
O sujeito estendeu um cálice e ficamos olhando, me adiantei e fui a primeira a beber, depois todos deram um gole. Parecia água, não tinha gosto de nada.
– Muito bem. Agora veremos o quanto confiam em sua capitã. – Disse o sujeito e aquilo me arrepiou. – Aqui estão três medalhinhas, podem barganhar a vida contra os inimigos. Mas precisam chegar do outro lado com pelo menos uma dessas. E aviso quanto mais medalhas conseguirem mais impressionados ficarão o jurados, a licença de esquadrão não depende unicamente de chegar até as ultimas provas mas sim se os jurados acharem que estão prontos.
– Eles estão assistindo tudo? – Perguntei.
– Sim senhora.
Pensei se eles teriam se impressionado com Laís e seu grupo, talvez ela tenha conseguido no fim das contas. Olhei animada para Ivna.
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Escama Negra
FantasyPlim é uma órfã de dezesseis anos que odeia seu nome e detesta crianças. Depois de perder um de seus olhos num ataque com bandidos ela decide participar de uma competição especial, conseguir um dos cobiçados itens mágicos e se tornar uma cavaleira a...