Despedidas em larga escala.

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O dia estava sendo repleto de despedidas, por tanto, um dia horrível. Lídia e os pais se despediram do nosso grupo. Lídia abraçou Fid desejando boa sorte, ele e Davel estavam no mesmo esquadrão, os cavaleiros de Lins, e iriam para uma vila ao sudeste de Alba. Lídia chorou dizendo que sentiria saudades de nós, ela também me abraçou e eu acabei gostando de seu carinho, me encantava saber do amor de Lídia por nós, eu nunca tinha feito nada por ela, pelo contrario, mas ela gostava de mim e eu gostava muito dela, apesar da tagarelice. Lídia me presenteou com uma caixinha cheia de chás.

– Os azuis são para os dias difíceis. – Explicou ela com o nariz vermelhinho e os olhos fitando os saquinhos com chá. – O vermelho para se acalmar, vermelho de emergência. Para um dia dolorido os brancos e o rosa é para se lembrar de mim.

Eu a abracei mais uma vez. Chamusca também se despediu, estava emburrado por ter perdido uma boa quantia de dinheiro nas cartas para Fid, mas eles se cumprimentaram quase chorando, os dois tentando disfarçar. Acenamos para eles que ficavam, e um manto fino de saudade já começava me cobrir.

Fidlian e Davel se despediram perto do centro da cidade onde uma pequena caravana os esperava. Davel do seu jeito brincalhão se despediu de Dora, sua melhor amiga, os meninos desejaram sorte para o filho de ferreiro. Fid, pequenino, me abraçou sem jeito, eu disse que sentia orgulho dele e ele sorriu dizendo o mesmo pra mim, se despediu de Emilian que estava calado o dia todo e os dois partiram com seu novo esquadrão.

Com certeza a despedida mais difícil foi a dos meninos. Dora estava com eles, estávamos nos estábulos, o vento soprava e eu observava Emilian de costas, sentado num tronco velho olhando a paisagem além mar. Eu me sentia vazia, sem forças e nem vontade de nada, queria poder deitar na cama e ficar ali por anos, séculos, deixar a poeira me cobrir e não ser nada além de um esqueleto velho e sem vida. Se pudesse partiria com os meninos, levaria Emilian, mostrando que não me importava esquadrões, castelos ou dinheiro, podíamos viver no mato só nós e nossas conversas. Escutei um cavalo relinchar, Gil tentava acalmar um garanhão negro e uma garota admirava-se com a destreza dele. Dora o chamou de exibido, e Blasco deu um pedaço de maça para uma égua mansa que o encarava, as pessoas chegaram e um instrutor começou explicar como eles fariam a viagem.

– Arnaut vai nos liderar não? – Perguntou Abga a decidida.

– Infelizmente não. – Respondeu o instrutor e todos os recrutas desanimaram. – Ele precisou resolver assuntos urgentes mas mandou um de seus homens que os liderará, e soube que ele vem de grifo.

As pessoas se animaram.

– Não, não vem. – Disse um garoto. – Já está aqui, olhem o grifo dele.

Todos foram para onde o rapaz estava. No fundo do estabulo havia uma baia maior e mais bem protegida, através das grades de ferro podia-se ver um grifo maravilhoso, de fronte branca e costas negras, sorri surpresa, precisava ver mais perto pra ter certeza. Aproximei-me, tentando furar a aglomeração, todos animados olhavam o animal, ele piou alto e as pessoas se assustaram mas mantiveram sua posições, alguns diziam como o grifo era lindo, outros mal podiam esperar para ter o seu próprio animal, as pessoas empurravam, se aproximavam, alguém se desequilibrou, foi prensado na grade e ela abriu.

– Cuidado! – Gritou o instrutor.

O grifo assustado se levantou, gritou alto e as pessoas afastaram-se, o rapaz caído levantou de forma brusca, o animal acertou o braço do garoto com suas garras afiadíssimas provocando um corte profundo, alguém tentou ajudar e foi bicado violentamente, todos estavam assustados.

– Pelos deuses alguém os ajude! – Gritou Dora assustada.

Eu avencei, os meninos me chamaram querendo me impedir, Emilian estava perto observando tudo. O grifo agitava-se irritado e assustado, iria atacar de novo todos podiam ver, me aproximei devagar ele me encarou, os olhos pequenos e cinzentos, o peito arfando.

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora