Petúnia.

4.2K 574 43
                                    


Emilian contou as moedinhas na mão, eu já tinha ensinado o valor do dinheiro, mas ele ainda mantinha o costume infantil de se deslumbrar pela quantidade.

– São dez moedas! – Disse ele sorrindo e andando ao meu lado, Ivna deixou escapar uma risadinha e Emilian a encarou começando a ficar bravo.

– Oh, desculpe.

– Por que riu de mim?

– Não, nada, me perdoe.

– Ela riu porque essas moedas são barões furados.

Emilian pegou uma e olhou através do buraquinho no centro da moeda. As pessoas se cumprimentavam na rua, muitos ainda se espreguiçando, o sol surgia e alguns cães magros já saiam a caça de comida.

– Barão furado? – Perguntou Emilian me encarando através do furo da moeda.

– Essas moedas não valem quase nada, dez ainda é pouco, pelo jeito tamo quebrado.

– Não sei nem se vai dar pra comprar o que Orin pediu. – Comentou Ivna, ela olhou Emilian que se admirava com as moedas e voltou a sorrir. – Sabe, eu também nunca tinha visto esse tipo de moeda.

Olhei pra ela, avaliando, afinal ela era filha do duque.

– Claro que não minha senhora. – Brinquei, mas Ivna perdeu o sorriso, me encarou e depois olhou pra frente não dizendo mais nada por um tempo.

As pessoas acordavam, e alguns meninos já carregavam papeis com propaganda dos candidatos, eu recusei todos e até acabei insultada, mas meu tapa-olho e cicatriz ajudavam a amedrontar os malandrinhos. A vila de Petúnia parecia um lugar tranquilo, a beira de uma enorme floresta e também no sopé de uma montanha, era protegida e escondida, deviam ter poucos conflitos pela história, só alguns ladrões e pequenas invasões de orcs, já que o desfiladeiro ficava perto, apesar de ninguém passar por ali. A vila era repleta de casinhas, todas arrumadinhas e enfileiradas como um exército bem organizado. As pessoas se cumprimentavam, enquanto Ivna e eu passávamos pelas ruas os homens prestavam uma pequena reverencia, e faziam isso para todas as mulheres que surgiam, carroças passavam repletas de mercadorias, homens anunciavam a fé em uma praça onde os ouvintes se apinhavam concordando com a cabeça, escutando tudo de olhos fechados. Uma taverna estava aberta logo pela manhã, era possível ouvir uma música de violino animada, gargalhadas e gritos de comemoração, Emilian ficou encarando o lugar e eu tive que puxa-lo para continuarmos. Alguns malandros estavam tentando aplicar golpes nas pessoas, e vira e mexe precisávamos ficar espertas para trombadinhas não esbarrarem na gente. Orin tinha dito que a venda ficava perto da prefeitura, a maior construção dali, um prédio branco alto, e do lado estava a vendinha, uma galpão comprido e estreito, vimos de longe e fomos avançando.

Um grupinho apressado que quase esbarrou em mim chamou nossa atenção, eles se reuniram com outros perto da prefeitura, um sujeito forte e largo andava com um arco na mão, fiquei apreensiva olhando, ele parecia animado, as pessoas batiam nas costas dele. Todos começaram a caminhar rumo à montanha.

– O que será que está havendo? – Perguntou Ivna.

– Sei lá, não é assunto nosso.

– Parece divertido. – Disse Emilian curioso.

– Jovens! – Disse Nestor, o velho prefeito, atrás da gente, ele parecia apressado. – Desculpe não poder prosear, mas tenho assuntos.

– Com o grupo que vai pra montanha? – Perguntou Ivna.

– Exato.

– O que eles estão fazendo? – Perguntou Emilian.

– Ora, venham comigo e saberão, venham.

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora