A viagem ia sendo mais melancólica do que a anterior. O navio, levando em conta seu tamanho, encontrava-se praticamente vazio. Alguns soldados passavam cumprimentando, também havia alguns marinheiros e, meus "companheiros". Eu me sentia sozinha, escutando a água e alguns pássaros marítimos, lembrando de Gil e Blasco, de como Alana dormia ao meu lado, conversando, brincando, como nos velhos tempos. Dora e seu sorriso maroto, falando sobre romances e histórias de aventuras, Fid, Davel. Como eu os iria reencontra-los? Estaríamos todos diferentes, modificados pelas nossas escolhas? Olhei o céu azul, nuvens atoas pelo céu. Emilian tinha enjoado novamente, cuidei dele como tinha feito antes, e preparei um dos chás de Lídia, ele melhorou muito mais rápido dessa vez, e foi conversar com Sabastian e seu tio Dorian, irmão do antigo conde e que estava em Alba trabalhando para o duque mas conseguiu permissão para regressar à Porto Verde afim de orientar o sobrinho que herdara o condado. Emilian falou um pouco mais alto e eu pude ouvir sua voz, ele passava muito tempo com Sabastian, os dois tinham se dado muito bem, como jamais Emilian tinha feito com outra criança de sua idade. Sentei no chão e abri um livro, senti o aroma do mar, o vento, não era um lugar ruim para ler não mesmo.
– Muito bem, cambada, temos que trabalhar.
Olhei pra cima, não tão cima assim, e vi Orin. O anão me encarava.
– Tá boa a leitura? – Perguntou colocando o cachimbo na boca.
– Até que sim.
– Então espero que seja sobre itens mágicos, e como usa-los, particularmente sobre garotinhos de cabelos negros irritadinhos, esses parecem difíceis de saber como usar.
Fechei o livro sorrindo irônica.
– Vamos cambada! Não vou repetir.
Nos reunimos no centro do navio. Sem perceber parei ao lado de Cecilia, ela me encarou como se eu fosse um catarro no chão e foi pra perto de Ivna. Sará veio sonolento, esfregando os olhos com um guarda o segurando pelo braço, ele estava sem camisa. O corpo dele era muito atlético e eu fiquei admirando os músculos, percebi que Ivna até estava vermelha, mas Cecilia ainda muito pequena nem deu atenção, estava empolgada com a enorme espada nas costas. Além dos músculos eu consegui ver cicatrizes espalhadas por toda a parte, fora as tatuagens, que suspeitei, escondiam outras cicatrizes.
– O que é isso agora? – Perguntou Sará.
– É de consenso geral que não deveríamos fazer isso aqui. – Comentou Orin. – Testar os itens mágicos num navio pode ser uma péssima ideia, é possível que acabemos todos agarrados em tabuas soltas no mar. Mas não temos muito tempo até os exames, e sinceramente pelo o que eu vi no teste não teremos problemas, a não ser com Ivna e dela trataremos depois, com uma ajuda especial. Ivna estava acanhada como sempre, mas todos olhamos pra ela, a máscara segura em suas mãos. Ninguém sabia que ela tinha conseguido ativar seu item.
– Ah, estou muito empolgada nobre mestre. – Disse Cecilia sorrindo quase não conseguindo parar quieta. – Sei que meu item é muito mais do que mostrei no teste.
– Difícil é ser pior. – Alfinetou Sará.
Cecilia fingiu não ouvir e voltou a encarar Orin.
– Itens desconhecidos são difíceis de trabalhar. Mas não impossível, não saber o que ele faz é o que mais dificulta, mas em todos esses anos nunca vi um item que não tenha uma ligação especial com seu dono, por isso a pessoa mais qualificada para descobrir o que ele faz, são vocês mesmos. Os itens costumam deixar pistas, rastros, é preciso ter atenção. – Emilian ficou ao meu lado, ouvia tudo bem atento. – Muito bem, Cecilia, você vai primeiro.
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Escama Negra
FantasiaPlim é uma órfã de dezesseis anos que odeia seu nome e detesta crianças. Depois de perder um de seus olhos num ataque com bandidos ela decide participar de uma competição especial, conseguir um dos cobiçados itens mágicos e se tornar uma cavaleira a...