Sempre estranhei o fato de alguém como Pina Baltana estar no meio de nós, delicada, bem educada, e de sangue tão nobre, realmente estranho. Claro que havia vários outros nobres nos esquadrões, mas em sua maioria eram garotos em busca de fama e gloria. Mulheres que foram criadas para serem damas não costumavam participar dessas coisas nem ter permissão pra tanto, mas lá estava Pina com sua espada na mão encarando o inimigo. Eu achava tudo isso estranho, na época, agora eu já aprendi que a vida é muito mais do que aparências, aprendi isso com Ivna o sangue mais nobre que conheci, herdeira de todo o ducado de Lins, descendente direta de Cénisse, e a vida dela era como era. Fora Alana que desejava salvar a família da falência, por isso sabia que Pina deveria ter seus motivos. Mas quando em outra ocasião perguntei o porque dela participar dos testes a resposta me pegou de surpresa; "Eu só queria saber". Hoje a conhecendo como conheço, relembrando o dia do teste, a forma que lutou na arena, eu a entendo, ela tinha tudo, dinheiro, beleza, bom nome, e mesmo assim "queria só saber", entender do que era capaz, descobrir quem realmente era. E isso é algo que eu consigo respeitar.
– Comecem. – Gritou Pero Ponz.
Célia avançou no mesmo segundo e o grupo por um instante ficou sem reação, e seria tarde demais para Gyla se Cecilia não estivesse focada. Célia instigou Jade e quando o bote saiu Cecilia colocou sua enorme espada na frente e a cobra bateu com força no aço arrastando a meio-elfa pela terra, Gyla amparou Cecilia e as duas detiveram o avanço da serpente. Azer com uma espada curta tentou acertar Célia, mas a cobra a protegeu do golpe, Davel disparou flechas e Jade aparou todas as setas magicas.
– Não dê moleza Célia. – Gritou Baltos sentado na sombra. – Ou vai acabar como eu.
Célia sorriu.
– Eu nunca dou moleza.
Jade saltou de cima da mulher e se enrolou em Davel, o garoto gritou de dor e juro ter ouvido ossos estalarem. Cecilia e Gyla tentaram ajudar, Célia as atacou e Cecilia tentou amparar os golpes mas a Pacificadora era demais pra garotinha, Célia fintou um ataque, Cecilia tentou aparar o golpe mas a Pacificadora com uma velocidade inacreditável já havia mudado de golpe estocando a garota, a meio-elfo tentou desviar e a lamina pegou de raspão em suas costelas, Célia mirava no abdômen de Cecilia e fiquei imaginando se ela queria matar a garota. Cecilia gemeu e cambaleou, Célia sem hesitar preparou mais um ataque e quando a espada acertaria a garota em cheio Gyla a envolveu numa de suas bolhas de sabão. Célia sorriu e nem tentou atacar Cecilia já conhecendo a resistência da bolha, assim partiu para cima de Gyla.
Azer tentava livrar Davel da serpente, mas o filho de ferreiro não aguentou, gritando que desistia. Jade olhou para Célia que assentiu para a cobra, Davel caiu no chão e Azer se abaixou para ver como estava o companheiro. Alguns encapuzados surgiram para levar o garoto. Do meu lado Liandra assistia tudo calada, o maxilar tenso, Davel foi carregado numa maca e Azer ficou olhando o garoto ser levado. A maca passou perto de nós e Davel olhou para Liandra.
– Desculpe. – Disse ele e Liandra sorriu negando com a cabeça.
– Você lutou bem.
Os encapuzados não pararam e quando Davel estava longe ele gritou.
– Lute por nós capitã, pelo nosso nome!
Liandra engoliu seco perdendo o sorriso, deu uma rápida olhada em mim e voltou a assistir a arena.
Célia avançava com tudo e Gyla acabou com a guerreira na sua frente e a cobra atrás.
– Desiste? – Disse Célia mais num aviso do que numa pergunta.
Gyla estava com a mão esquerda na forma de zero e sorriu ao olhar pra cima.
– Desisto nada. – Disse e abriu a mão.
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Escama Negra
FantasyPlim é uma órfã de dezesseis anos que odeia seu nome e detesta crianças. Depois de perder um de seus olhos num ataque com bandidos ela decide participar de uma competição especial, conseguir um dos cobiçados itens mágicos e se tornar uma cavaleira a...