Entre Os Melhores.

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Tomar banho depois de duas semanas nos tuneis foi uma das melhores sensações da minha vida. Ivna pegava água da tina com uma bacia e jogava nas minhas costas e eu consegui ver a água cair no chão preta de sujeira. Esfregamos bem, usamos sabão com cheiro de rosas, ficamos em silencio boa parte do tempo, como se finalmente o peso dos dias nos tuneis nos encontrava. Ivna do nada começou a chorar, em silencio, as lagrimas descendo, eu peguei na mão dela e Cecilia ficou nos encarando, nós três rimos em meio das lagrimas, aliviadas, contentes de tudo ter passado. É, tinha sido um teste e tanto.

Emilian e Sará apareceram bem mais limpos. As pessoas nos cumprimentavam onde passávamos, nos chamavam pelo nome ou às vezes de Dragões. Orin e Adriel nos acompanharam num banquete feito apenas para nosso esquadrão, meu cabelo tinha crescido assim como de todos nós, depois cortaria o de Emilian e o meu, o de Cecilia já cobria novamente a orelha. Emilian estava mais quieto e muito sonhador, ficava parado olhando o vazio e havia vezes que eu pensava que ele ficara cego novamente, então chamava seu nome e ele me olhava, olhos azuis enormes, dava um sorriso e eu segurava sua mão.

Orin e Adriel conversavam conosco felizes e orgulhosos ao mesmo tempo com um pesar na voz, talvez uma tristeza por saber o que passamos no túnel, dias difíceis, o desespero de não enxergar, não ouvir nada nem falar por quinze dias. Embora eu não tivesse ficado cega nem nada, a prova tinha acabado comigo, a pressão de cuidar de todos era enorme e ficamos sabendo de capitães que praticamente enlouqueceram na prova, ouvindo os encapuzados esgueirando na noite, não podendo dormir, escutando o desespero dos colegas que achavam que ficariam cegos pra sempre ou surdos. A prova era dura e exigiu paciência, coragem, força, fé, amor, dureza, frieza, tudo o que poderiam arrancar de mim arrancaram.

Comemos e fomos nos soltando aos poucos à mesa. Sará arrotou e todos brigamos com ele e acabamos gargalhando. Orin fumava seu cachimbo, e enquanto todos falavam e riam eu percebi ele me encarar, estava bem ao lado dele e ouvi claramente quando ele disse estar orgulhoso de mim, de todos.

Dormimos todos num mesmo quarto e a sensação de poder descansar sem temer ser atacado era maravilhosa. Demorou um pouco pro meu cérebro aceitar a situação, mas depois de algum tempo caí num sono profundo. Todos dormiram muito bem, e acordamos incrivelmente tarde.

O lugar onde estávamos era um palácio construído nos subterrâneos, todos esses lugares que percorremos era uma cidade/mina construída pelos anões, mas que fora abandonada há muito tempo, quando as minas secaram e eles tiveram que procurar outro local para viver. O lugar era incrível, as casinhas construídas na pedra, o chão com piso negro e liso, guardas passavam por nós cumprimentando e parabenizando. As pessoas ainda estavam preocupadas com o restante das provas, agora era a reta final e tudo acabaria logo.

Ficamos sabendo que os capitães os jurados e até alguns guardas assistiram a prova dos tuneis. Confesso que me senti meio mal, todos nos vigiando contemplando nosso sofrimento, enquanto Emilian e Cecilia estavam cegos, Ivna surda e Sará mudo e enfraquecido. Mas as pessoas nos respeitavam, até mesmo admiravam. Orin contou como tudo era transmitido por um espelho magico, um item de valor inestimável que transmitia o que ele quisesse até uma determinada distancia. Um item que segundo Adriel foi responsável por muitos êxitos do império.

– Uma ferramenta e tanto para espionagem.

Orin nos contou como a prova acabou sendo mais cruel do que os organizadores esperavam, e de que a distância percorrida acabou se mostrando um obstáculo e tanto, já que as pessoas caminhavam cegas e debilitadas, demorando muito mais para realizar o percurso.

– Quando perceberam que a prova iria durar por volta de dez ou mais dias, pensaram seriamente em cancelar tudo. – Contou Adriel.

– Realmente. – Concordou Orin. – Mas uma coisa os fez acreditar que a prova iria conseguir ser realizada.

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora