Soror Mea.

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Se ficasse olhando o rosto dos espectadores, conseguiria notar a transformação, parte por parte. Quando feições humanas tornavam-se animalesca. A cada gota de sangue que pingava dos lutadores; o grito da multidão. Naquela noite as portas da selvageria estavam escancaradas, passava aquele que quisesse. Eu e Cecilia fechávamos os olhos, não queríamos ver, Sará no ringue sendo cortado, cortando, e a multidão clamando por mais. Emilian observava absorto, bateram uma espécie de sino e cada lutador foi para um canto do ringue onde os treinadores davam instruções, a lona estava ensopada de sangue, e tudo apenas no primeiro tempo, ainda teriam mais quatro.

– Ele não vai aguentar. – Disse Cecilia com lagrimas nos olhos.

Procurei Risá e a vi subindo no ringue. As vozes diminuíam e todos a olhavam. Ela encarou o pai que ficou estático. Ela segurava um saco grande de moedas.

– Que luta em pessoal? – Perguntou Risá e todos gritaram de volta atestando que estava boa mesmo. – Pena que ela foi feita pra arrancar dinheiro de vocês.

As pessoas começaram a murmurar.

– Sará é realmente bom, não perdeu nenhuma nesses dias, mas quem apostaria nele contra o grande Eller?

– Desce daí Risá! – Gritou o pai dela tentando entrar no ringue, Sará observava tudo do banco, estava muito ferido e tinha um corte fundo no peito, onde um soco com pó de vidro tinha pegado em cheio.

– Ah, papai, vamos contar tudo, Sará vai ficar apanhando até o quarto tempo, onde provavelmente as apostas abrirão novamente. – Risá notou no olhar do pai e do treinador de Eller uma raiva florescendo. – Acertei em cheio, aqui, nesse saco tem um pagamento que o Marcel treinador de Eller fez ao meu pai e os dois acertaram a luta pra ficarem com a grana das apostas, peguem! O dinheiro é de vocês. – Risá jogou o dinheiro para o publico que ficou em polvorosa tentando catar as moedas, o pai dela a segurou pelo pulso e torceu o braço da garota contra as costas. Sará levantou do ringue e afastou o pai com um empurrão.

– O que tá fazendo garoto?

– Deixa ela.

– Você também vai me trair?

Sará parecia um tanto assustado, mas sustentou o olhar do pai.

– O senhor não disse que usariam pó de vidro. E não gosto de lutas arranjadas, eu posso ganhar sozinho pai.

– É arranjada mesmo? – Gritou um velho no meio da multidão.

– Eles nos enganaram!

Marcel chamou Eller e os dois junto da família toda começaram a ir embora do salão.

– Onde vai Marcel? – Gritou o pai de Sará. – A luta ainda não acabou.

– Vocês vão pagar Pollok. – Gritou Marcel. – E me deve muito dinheiro.

A multidão urrava de raiva e começaram a arremessar coisas ao ringue. Risá pegou Sará pela mão e os dois saltaram, eles fugiram pelo o corredor e nos fomos atrás. O som da multidão descontente ecoava num volume menor ali, mas ainda conseguíamos ver o tamanho da frustração de todos. Sará ainda sangrava e respirava com força. Entramos onde ele tinha se preparado antes e Risá o fez sentar.

– Vamos ter que cuidar dessas feridas. – Disse ela olhando os ferimentos, Sará me encarou depois observou a irmã.

– Obrigado, você tentou me avisar e eu...

– Risá! – Gritou Carlo o irmão mais velho entrando no quarto. – Você ficou maluca? Papai está uma fera, ele vem aí, só está tentando acalmar a multidão. Pelo jeito nosso esquema de luta acabou de vez.

Escama NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora