Era uma cidadezinha charmosa, com casinhas todas iguais e enfileiradas. Emilian tinha pego uma camisa dum varal, tivemos que dobrar a manga que estava cumprida demais, ficou folgada mas ele não se importava nem eu. Pessoas passaram por nós quase trombando com a gente.
– Cuidado. – Gritei.
– Desculpa. – Disse um garoto me encarando. – É que o espetáculo vai começar.
– Vai mesmo. – Disse uma menininha que corria atrás dele.
Os dois viraram uma ruela sumindo entre as casas.
– O que temos que fazer? – Perguntou Emilian. – Esse é o treinamento?
– Acho que sim, só pode ser né? Quer ver o espetáculo?
Emilian sorriu.
– Claro.
Numa praça a multidão se reunia. Velhos, crianças, homens e mulheres, sentando no chão, conversando empolgados. Um sujeito magro passava com um chapéu e as pessoas depositavam moedas nele, no meu bolso não havia nada e quando o chapéu passou por nós dei um meio sorriso pro cobrador. Ele olhou para Emilian e depois pra mim e continuou passando o chapéu sem dizer mais nada. As cortinas do palco se abriram e os cochichos foram sumindo. Sons de tambores, depois cornetas, e entra um anãozinho.
– Hoje contarei uma história linda e bela. Que esclarece enigmas de uma jovem donzela. – A voz do anão era grave e poderosa. O espetáculo prosseguiu, tiveram músicas e danças, Emilian estava adorando principalmente a personagem principal, uma pequena elfinha que estava perdida na floresta, a atriz que interpretava a pequena elfa era incrível, nos fazia rir, chorar, não errava uma fala. Tinha enorme presença e o mais incrível; era apenas uma criança de uns seis anos.
Estávamos todos empolgados com o grande final, a pequena elfa e seu amigo fiel, um garoto de pele escura que gaguejava no fim de toda a frase dando duplo sentido as coisas e arrancando gargalhadas da plateia, se viram numa terrível enrascada, foram capturados, precisavam fugir, a elfa dá a mão para o garoto vai salva-lo, mas ele não queria toca-la, na verdade ela era uma meia-elfa todo o tempo e não estava perdida na floresta a abandonaram ali, pra que morresse na solidão. Mas o garotinho supera os preconceitos e agarra a mão da menina, ela o puxa fora do poço e os dois escapam. Uma linda musica estava sendo tocada, todos aplaudiam quando algo se desprendeu de cima do palco e caiu direto na cabeça do garoto, a multidão prendeu a respiração, o garoto jazia no chão estatelado, silencio absoluto, fazia parte do espetáculo? Alguém gritou, uma mulher invadiu o palco a elfinha paralisada observava a cena de olhos arregalados. As cortinas se fecharam.
O publico estava assustado uma criança começou a chorar.
– Quero meu dinheiro de volta! – Gritou um sujeito.
– O garoto se machucou seu monte de estrume, tenha respeito pelos pais.
– Quem é estrume?
Uma confusão estava para explodir, Emilian olhava tudo com um meio sorriso, se ele se metesse na briga pessoas iriam se arrepender.
– Vem Emilian.
– Pra onde vamos?
– Acho que sei de quem é esse sonho.
– Sonho?
– Sim, acho que é onde estamos. – Disse Passando por entre as pessoas, me aproximando do palco. – No mundo dos sonhos, só pode ser.
– Mas sentimos frio, dor, tudo.
Emilian tinha razão, mas eu não podia acreditar que tudo isso era real, principalmente por conta da atriz que fazia a meia-elfa.
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Escama Negra
FantasiPlim é uma órfã de dezesseis anos que odeia seu nome e detesta crianças. Depois de perder um de seus olhos num ataque com bandidos ela decide participar de uma competição especial, conseguir um dos cobiçados itens mágicos e se tornar uma cavaleira a...