CARINA
O sexto sentido que desenvolvi durante os últimos anos me mantinha viva no comando do cartel e no momento ele me dizia que aquele moreno alto e muito, mas muito, másculo mesmo, era problema e que não seria inteligente tentar solucioná-lo.
Para completar, estava como indicação do Ernesto. Não sei por qual razão Rico gostava tanto daquele elemento? O homem não me inspirava nenhuma confiança.
O bonitão estava colocando todas as apostas na sua aparência e, o pior, acreditava que simplesmente me hipnotizaria ao ponto de realizar todos os seus desejos. Homens e suas expectativas arrogantes em relação às mulheres! Deprimente!
Provavelmente, achava que não passava de uma figura decorativa na organização. Muitos homens tinham essa ideia até eu os colocar para lamber as minhas botas, ou melhor, os meus saltos Louis Vitton.
Segui com Guillermo e Mel para casa enquanto, pelo telefone, estava atrás de Rico. Queria que me explicasse sobre o tal sujeito e dissesse o porquê de ainda manter Ernesto ao seu lado. O que aquele sujeito tinha que lhe inspirava confiança?
— Não consigo falar com o Rico. — disse no carro.
— Ele está com problemas com a esposa e um dos filhos. — disse Guillermo.
— Porque não me ouve! Quem não sabia que Luzia seria um problema?! — disse zangada.
A esposa do Rico era uma dor de cabeça que me aborrecia há um bom tempo, mas nos últimos seis anos, quando enfim fisgou um dos meus homens diretos, começou a ser um incômodo muito chato.
Creio que sua mágoa começou quando Tomaz me escolheu como única e a deixou como membro do seu harém para emprestar aos amigos quando bem entendesse. Revoltou-se por ser relegada à segunda categoria, o que ainda era muito em se falando dela.
Nestes últimos meses, Luzia ameaçava Rico de todas as maneiras, principalmente sumir com as duas crianças. Tinha me oferecido para resolver, mas o pobre coitado era apaixonado por ela e me pediu para esperar que ele daria um jeito no problema.
— O que houve com o menino? — perguntou Mel.
— Precisa de uma cirurgia e ela não quer usar o dinheiro da Ángel para custear. — disse Guillermo, enquanto eu revirava os olhos com a hipocrisia.
— Moralista idiota! Respira graças ao meu dinheiro e agora se recusa a receber ajuda quando é para o filho?! Será que o idiota do Rico não vê isso?
— Está preocupada com o tal moreno e a irmã dele que estavam com o Ernesto? — questionou Mel, olhando para mim e mudando de assunto, pois sabia o quanto o tema Luzia me aborrecia.
— Claro, ele quer fazer negócio e algo nele me deixou desconfiada.
— Carina, você desconfia de qualquer coisa que se mova. — disse Mel.
Quando ela usava meu verdadeiro nome, era para dizer que estava exagerando, mas era o meu exagero que nos manteve vivos até agora.
— Não desconfio de vocês. — disse com um sorriso, enquanto Guillermo estacionava na porta de casa.
Morávamos na mesma casa em que um dia entrei como escrava de Tomaz. Agora o local era meu, minha casa, onde me mantinha segura de possíveis ataques inimigos.
Como líder do cartel, cada dia era uma vitória por continuar viva. Se um dia desejei viver intensamente, agora sabia o que era isso, pois o dia seguinte dependia sempre de manter os inimigos à distância.
Finalmente, Rico atendeu a porra do celular. Reconhecia os seus problemas, mas, ao lado de Guillermo, era o meu braço direito e, se não me informasse corretamente o que precisava, vidas seriam perdidas e o dinheiro comprometido.
Bem, fiz do cartel a minha grande empresa onde todo o tipo de narcótico era comercializado, mas me considerava uma excelente patroa: aquelas que os funcionários sempre lembram no Natal.
— Perdona, Ángel, tive problemas com o niño. — disse, atendendo.
— Guillermo estava me explicando à situação. Por que não leva o garoto para operar logo? — Já sabia a resposta, mas queria ouvir dele.
— Luzia não quer usar dinheiro de drogas, falou que Deus não protegerá o niño na cirurgia.
— Como é? Deixará essa falsa moralista tirar do seu filho o direito de sobreviver?
— Ángel, é complicado.
— Não, não é, porque vivem do dinheiro do tráfico, comem e se vestem desse dinheiro. Se fosse assim, morreriam atropelados por um caminhão devido ao castigo divino. — disse zangada.
— Resolverei, não se preocupe — disse por fim.
Era sempre assim, Rico tinha medo da vaca da Luzia, mas tinha mais medo de mim, portanto buscava um meio termo.
— Precisarei de você amanhã cedo aqui em casa. — Fui logo dizendo, sentia por ele, mas os pescoços de muitos dependiam de atitudes coerentes da minha parte, inclusive o dele próprio e da Luzia.
— Estarei bem cedo na fazenda. — disse e desligamos.
Mel e Guillermo já tinham ido dormir, por isso sabia que o melhor era descansar. Como uma rotina que se tornou diária desde que assumi o cartel: entrei no quarto, vistoriei o cômodo, tranquei a porta, fiz minha higiene pessoal e, verificando minha pistola sob o travesseiro, deitei na cama, agradecendo mais um dia por estar viva.
Fechei os olhos aquelanoite e a imagem do moreno bonitão voltou à minha cabeça, ele me escondeu algo.Como surgiu como reforço no ataque? Um ataque que posso considerar bemestranho, afinal nenhuma quadrilha se pronunciou, será que foi a mando delepara chamar a minha atenção? Fazia sentido. Homens, quando querem pousar decavaleiros de armadura, são capazes de qualquer coisa. O problema é que alguémtinha que avisar para "o lindo" que nem de longe eu seria uma donzela emperigo. E, se ele acreditava que me renderia ao seu charme protetor, tinha queo avisar que não precisava de ninguém me protegendo, apesar que...
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Ángel
ChickLitA rebeldia e a liberdade de Carina eram os seus guias na vida, até que um dia todos os limites foram ultrapassados e se viu jogada em um mundo que para sobreviver teria que dominá-lo. Assim nasceu a Ángel, líder de um dos cartéis mais violentos da C...