DANIEL

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Não sei o que estava me dando, talvez fosse a vontade incontrolável de deixar claro o que passava pela minha cabeça, por isso não podia perder a chance de falar com ela.

Pular na frente daquela bala tirou o véu que ainda tentava esconder o meu real sentimento pela Ángel.

Éramos opostos, inimigos em uma batalha, porém em algum momento não havia mais antagonismo, aos poucos, tudo mudou. Talvez tivesse acontecido quando ela descansou a cabeça pela primeira vez na curva do meu pescoço ou senti prazer estando de quatro à sua frente ou simplesmente quando fizemos amor vendo as estrelas em Lores.

Sabia que ela resistiria a todo custo, afinal de contas, eu a traí. E naquele momento, sua resistência estava reforçada com o apoio fraternal do Guillermo e do Ramon, por isso juntei forças e saí da cama, ficando de joelhos à sua frente. Minha última cartada em comovê-la para obter o seu perdão e podermos conversar sobre o que sentíamos, seria o vínculo que construímos como dominadora e submisso.

Ela me olhou séria e pensativa, tenho certeza que em sua cabeça também se passava o que significaria o vínculo que criamos nos momentos em que foi minha domme.

— Relembrar sua posição de submisso não muda em nada a sua posição de prisioneiro – disse.

— Não quero mudar a situação de prisioneiro, e sim lembrar a você que sou seu em todos os sentidos — admiti.

— Fazer de você o meu pet não fará com que esqueça a sua traição – disse e saiu do quarto.

Fechei os olhos e soltei o ar preso nos pulmões, pois a atitude da Ángel indicava que não haveria a menor chance para nós, muito menos como minha dominadora.

Praticamente me arrastei até a cama para conseguir deitar novamente, precisava descansar. Também tinha de pensar como me aproximar novamente da Ángel.

Ángel não apareceu mais no quarto durante aquele dia e, naqueles que se seguiram, apenas Isabel, esposa de Ramon, veio acompanhada de um guarda.

Tinha de fato virado um prisioneiro. Engraçado que, pela minha cabeça, não se passava o que poderiam fazer, e sim que estava tão perto da Ángel e ao mesmo tempo tão longe.

Como o ferimento estava completamente cicatrizado, Isabel passou a não trazer mais a minha comida, tornando-se responsabilidade de um guarda que se revezava com outros todos os dias para que não me deixasse criar qualquer tipo de laço.

O quarto era bem pequeno com um banheiro minúsculo com apenas vaso sanitário e uma pia, o que, ao passar dos dias, me fazia ter um desejo insano por um banho.

Pela minha contagem, devia estar naquele quarto há mais de três semanas, totalmente isolado, pois a pequena janela do quarto só me dava visão para outra construção, sendo impossível ter uma noção exata de como era o que eles chamavam de fortaleza.

O completo isolamento estava me enlouquecendo, pois o guarda que trazia a comida não falava comigo, apenas apontava a arma para que me encostasse na parede, enquanto deixava a bandeja em cima da mesinha.

Pensei que ter aberto meu coração para Ángel sobre o que realmente sentia e confessado que tê-la traído tinha sido pressão da minha profissão e da equipe, faria com que ela avaliasse nos dar uma chance, afinal me disse que um sentimento que nutria por mim era o que a impedia de puxar o gatilho em minha direção.

Fugir não passava pela minha cabeça por saber que seria praticamente impossível devido ao procedimento padrão dos guardas, e depois não fazia ideia de como se dividia aquela construção e como era protegida.

Pensei em Amanda e torcia sinceramente que estivesse bem, agora sabia que realmente nós dois não tínhamos o menor futuro.

Também lembrei de Joaquim, sabia que ele estaria tentando achar a filha e que talvez estivesse empenhado junto ao Suarez para me encontrar com o real motivo de achar a Ángel e assim saber o paradeiro da Maria. Enfim, o meu destino com certeza não estava em minhas mãos e estava sentindo de novo o gosto de não ter o controle e estar completamente submisso.

O problema que a dominadora em questão não estava a fim de interagir comigo e virei apenas um prisioneiro.

O que não contava era que tudo ainda podia mudar.

Na noite seguinte, dois guardas entraram no quarto. Já estava dormindo e foi impossível não me assustar.

— Levante — gritaram em espanhol.

— Calma! Qual o problema? — perguntei ansioso.

— Ande — disse com o rifle apontado para o meu peito.

Meu único pensamento foi que a Ángel não me perdoou e a distância será a melhor opção para se livrar do inconveniente no qual me tornei.

— Coloque isso — disse um dos guardas, entregando-me um saco de pano preto antes que saíssemos do quarto.

Pensei em reagir, mas os dois estavam armados e era óbvio que, no momento em que controlasse um deles, o outro me abateria, por isso o melhor a fazer era obedecê-los.

Descemos uma escada e seguimos por um corredor, ouvi uma porta pesada ser aberta, saímos da construção onde estava o meu quarto e, com os pés descalços, senti o chão batido.

Caminhamos por dois minutos no máximo quando ouvi outra porta sendo aberta e o guarda atrás de mim cutucou-me com a arma para que continuasse a andar.

O guarda me guiou até um ponto no ambiente em que entramos e mandou que lhe desse os meus punhos. Obedeci e senti quando fui algemado.

— Não pode me dizer o que está acontecendo? — insisti na pergunta, porém continuei sem resposta até que, alguns minutos depois, ouvi a porta sendo aberta e fechada em seguida.

Não podia acreditar que estava preso no escuro com um saco na cabeça e sem saber nada do que aconteceria.

Soltei o ar frustrado quando senti algo frio na minha pele. Com o barulho e o fato de que sentia o pano ceder, descobri que era uma tesoura.

— Quem é você? — perguntei ansioso.

Como me concentrar quando o cenário ao meuredor tirava todo o meu controle.

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora