Ángel

DANIEL

Tinha o plano traçado com o Joaquim para pressionarmos Rico e Guillermo, jogando os dois contra a Ángel, porém ela soube virar o jogo com as informações sobre a família do Joaquim.

Ainda tinha como mantê-los sob controle, porém não contava com a ação da Ángel, muito menos tinha conhecimento que ela soubesse pilotar um avião. A pesquisa que fizeram sobre ela sem dúvida estava muito incompleta.

— E agora? Temos que sair daqui — disse Joaquim depois que a porta se fechou.

— Você foi o grande culpado disso ter acontecido — disse Amanda.

— Não é hora para isso — disse apenas.

— E como sairemos daqui? — perguntou Amanda. Respirei fundo e desloquei o meu polegar, conseguindo assim tirar a mão da algema.

Coloquei o dedo no lugar e depois, com a mão dentro da minha bota, peguei a chave reserva para as algemas, soltei minha outra mão e deixei a chave com Amanda para que libertasse os demais.

O objetivo agora era tentar contato com a base e pedir ajuda, afinal nenhum de nós conseguiria decolar com o avião e, principalmente, precisávamos dos reforços para não os deixar escapar.

— Teve sucesso? — perguntou Amanda, aproximando-se.

— Não — disse, mostrando a ela o painel destruído pela Ángel para não nos deixar pedir ajuda.

— Restaram apenas as facas que estavam nas botas, nem de longe são armas suficientes para entrarmos nas matas — disse Amanda.

— E o transponder do avião, Daniel? — perguntou Joaquim.

— O segundo tiro que ouvimos ela dar destruiu ele por completo — disse.

— Não há outra saída, teremos que entrar na mata e precisamos ir antes que anoiteça — disse um dos agentes do FBI que tinha vindo ajudar no transporte.

— Faz sentido — disse.

Colocamos o corpo do piloto e do agente que a Ángel matou no meio do avião e os cobrimos, eles seriam resgatados assim que conseguíssemos ajuda.

— Tirem os coletes da polícia e vamos pegar todos os suprimentos que pudermos carregar — ordenei.

Todos fizeram o que falei, porém não tivemos muita sorte. Andamos alguns metros e fomos rendidos por um grupo armado, reconhecemos Ernesto entre eles.

— Olha o que o gato trouxe — disse ele.

— Ernesto, sabe a besteira que é apontar uma arma para nós, o fato é que precisamos chegar a uma base militar e, colaborando, podemos chegar a um bom acordo para todo mundo — disse.

Ele me olhou e, depois de alguns segundos, começou a rir com cinismo.

— O Mendez gostará muito de vendê-los no mercado negro — disse e golpeou minha barriga com o rifle.

Foi impossível tentarmos qualquer tipo de reação. Fomos amarrados e levados pelo grupo sob a mira das armas.

— Para onde estão nos levando? — questionou Amanda.

— Para o inferno, gostosa — disse Ernesto, passando a mão na bunda de Amanda, ela tentou reagir, mas ele a empurrou nos braços de outro cara e o grupo começou a se divertir com ela. Era uma cena assustadora.

Eu e Joaquim tentamos de alguma maneira reagir para ajudá-la, porém fomos golpeados. Aquele momento de pânico só encerrou quando Mendez chegou acompanhado de outros capangas.

— Ernesto, não acredito que está perdendo tempo com esses idiotas ao invés de estar caçando a Ángel! — gritou furioso.

— A Ángel? — perguntou surpreso.

— Ela estava no avião, esses idiotas acharam que podiam prendê-la — disse.

Ele entendeu a situação e, na mesma hora, se recompôs, mudando o foco da ação.

— Ela está com o Rico e o Guillermo? — perguntou Ernesto.

— Um camponês me disse que havia dois homens com ela. Só podem ser eles.

— Querem chegar ao Ramon — disse Ernesto.

E naquele momento comecei a compreender de fato como a Ángel trabalhava. Ela se rendeu porque havia quem assumisse o cartel, Ramon. Tinha esquecido completamente dele, não imaginei que a sua importância fosse igual ao do Rico e do Guillermo.

— Vamos para a clareira, onde deixaremos os prisioneiros, depois dois grupos de cinco homens se espalharão pela mata até encontrá-los — disse Mendez.

— Sim, senhor — respondeu Ernesto.

Não imaginei que prender a Ángel nos colocaria como reféns e iniciaria uma guerra entre cartéis.