DANIEL

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Joaquim seguiu dirigindo enquanto Suarez e Amanda mantinham contato com a base da Polícia Federal Colombiana para saberem o destino das prisões e apreensões. Quanto a mim, fiquei em silêncio, tentando controlar pensamentos que estavam me devorando, que não me ajudavam em nada com o que aconteceria quando chegássemos à porta do hotel e encontrássemos a Ángel.

Quando chegamos à rua do hotel, percebemos a confusão causada por um carro que bateu em uma das viaturas. Joaquim estacionou próximo e, assim que desci do nosso veículo, meus olhos se encontraram com o da Ángel e soube o que era alguém lhe dedicar um ódio mortal.

Claro que aquela não era a minha primeira prisão em investigações que agi disfarçado, porém nenhuma existia a energia que me ligava ao criminoso como a que havia com a Ángel.

Fiquei parado, esperando que ela me dissesse algo, talvez uma frase de ódio que me mantivesse na defensiva da minha postura como policial, porém Ángel ficou em silêncio, assim como Rico e Guillermo. Era óbvio que eles a imitariam.

Seguiram no caminhão do exército para interrogatório na base, com as posições de policial e criminosa bem definidas.

— Você conseguiu! — disse Amanda com um sorriso vitorioso nos lábios.

— Nós conseguimos — respondi com o gosto amargo da vitória na boca, bem diferente do que imaginava que sentiria quando cheguei à Colômbia.

— Finalmente esse fantasma sairá das nossas vidas — disse, aguardando a minha concordância, porém, antes que dissesse algo, fomos interrompidos pelo Suarez.

— Nem sinal da Mel e dos filhos do Rico. A policial disfarçada não faz ideia de como saíram — informou Suarez.

— Diante da distração da prisão da Ángel ainda tinha alguma esperança que pegaríamos a Mel? Montaram o cenário perfeito — comentei.

— No final, a sociopata conseguiu ter empatia — disse Amanda.

— Isso era fato, ela protege os que ama. Mas ela conseguiria a distração usando apenas o Rico e o Guillermo sem se sacrificar. Essa atitude é que não entendi — avaliei pensativo.

— Todos cometem erros, esse foi o da Ángel — disse Amanda.

— Será? — perguntei apenas.

— Tirará sua dúvida quando a interrogar — disse Joaquim.

— É — comentei simplesmente. — Creio que não temos mais nada para fazer aqui. Vamos para a base, temos que concluir os interrogatórios e comunicar ao FBI para que a transferência dos presos seja feita para os Estados Unidos o quanto antes.

Chegamos à base militar uma hora depois que deixamos o hotel. Controlava a ansiedade e lembrava de todas as instruções a serem seguidas por um bom policial.

O responsável colocou a Ángel, o Rico e o Gui em salas diferentes com intuito de começar o interrogatório para que, sozinhos, acabassem falando algo e pegássemos pontas soltas. Mas, depois de uma hora em que o silêncio era absoluto, Amanda não aguentou a pressão e levou o Henrico, um dos transportadores da Ángel que prendemos no Brasil, para a sala onde a Ángel estava, o que me forçou a ir atrás.

— O que adianta a sua arrogância? O seu próprio pessoal a traiu — disse Amanda, mostrando o Henrico.

— Presumia que algo assim tivesse acontecido, pegaram o garoto, não foi? — questionou Ángel calmamente para Henrico, ignorando-nos.

— Desculpe, Ángel — disse o pobre coitado, caindo de joelhos.

— Por isso é que o seu filho não podia ir com você. Quando traço regras, elas são para o bem de todos — disse.

— E agora? — perguntou o pobre homem, olhando-a completamente submisso.

— Ela está presa, não pode fazer nada contra você — disse Amanda.

A afirmação da Amanda tinha lógica, mas não estava convicto, pois, olhando para Ángel, era possível ver que estava totalmente no controle. Com toda certeza, contaria com o apoio externo assim que tivesse contato com o mundo exterior

— Ángel, minha mulher e meus filhos...

— Não mato mulheres e crianças, mas também não tenho motivo para manter a sua família em uma das minhas vilas, portanto sabe o que acontecerá com eles quando saírem — disse.

— Tire ele daqui — eu disse, pegando o braço dele.

— O que posso fazer para me desculpar? — perguntou à Ángel, ignorando-me.

— Preciso dizer?

E quando ela deixou a insinuação no ar, percebi que o que aconteceria a seguir seria preocupante, estiquei o braço do Henrico para se levantar e sair da sala, mas ele escapou do meu toque e rapidamente empurrou o guarda que veio buscá-lo, pegando a arma que estava no coldre.

— Parem! — gritou, apontando a arma para a gente.

— Não tire minha família da sua proteção — pediu antes de colocar a arma na boca.

Tentei agir rápido, porém não consegui, e ele se matou. Olhei para a Ángel chocado e percebi que ela nem sequer piscou. Com toda certeza, quem estava na minha frente era a líder de cartel, uma de suas facetas que estava vendo em primeira mão, deixando-me preocupado.

— A culpa é sua — gritou Amanda para Ángel, totalmente descontrolada.

— Não. A culpa é de vocês com o seu sistema de justiça que foge à realidade do mundo — disse Ángel com o controle que sabia que seria difícil de ser quebrado.

— Leve-a para a cela — ordenei para o guarda, precisava de um tempo para pensar o que fazer.

Um guarda se aproximou, abrindo as algemas, enquanto outro cuidava do corpo. O que teve a arma tomada por Henrico estava em choque, afinal era culpado por deixar o coldre aberto e sabia que o seu erro teria sérias consequências.

Antes de sair, ela fez questão de me olhar e dizer:

— Você não aprendeu nada, tigre. Mas não se incomode, vou lhe ensinar — completou.

— Tire ela daqui — gritei para o guarda, enquanto a Ángel deixou a sala rindo e totalmente no controle. Quem nos observasse poderia jurar que estávamos de joelhos aos seus pés como bons submissos. Será que prendê-la não foi a melhor jogada?

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora