Observava a enorme fila à minha frente, tinha mais de quarenta trabalhadores entre mulheres e crianças. Com toda certeza, Ramon não teria como alojar a todos na vila onde morava e teriam que ser levados para outras vilas. Isso resultaria em choros e separações.
Conversei com Antônio sobre como os alojaria, ou seja, da possível separação dos membros da sua vila para que começasse a prepará-los.
— Tenho certeza que fará o melhor, Ángel, só não queremos sair da sua proteção — disse.
— Darei um jeito — falei, não querendo decepcionar a fé que eles colocavam em mim.
Levamos mais tempo do que estava pretendendo por conta das pessoas que nos acompanhavam e foi com alívio que finalmente nos aproximamos da cachoeira e Guillermo correu na frente, encontrando o Juan, um dos homens de confiança de Ramon e meu também.
— Ramon mandou fortalecer as bases quando vocês dois e o Rico não mandaram mensagem de segurança — disse Juan, aproximando-se de mim, em companhia do Guillermo, e continuou: — cadê o Rico?
— Ele foi assassinado pelo Mendez — disse.
— Porra! — respondeu zangado.
— E quanto ao Lopez, algum problema? — perguntei, não querendo pensar o quanto estava triste pelo Rico e como diria aos filhos dele sobre o que houve.
— Sim, por isso também a segurança foi fortalecida.
— Está causando estrago? — perguntei preocupada.
— O filho da puta fez acordo com um grupo de guerrilheiros e está aterrorizando as vilas, tentando achar as nossas fábricas. A do Mendez e do Uchoa foram praticamente destruídas.
— Creio que estávamos na última aldeia do Mendez que ele fez questão de proteger pessoalmente. Tiramos essas pessoas de lá e agora pretendo realocá-las. Onde é possível, Juan? — perguntei. Sabia que, quanto antes aquelas pessoas conseguissem uma casa, seria melhor.
— Pegando a trilha acima e seguindo mais quatro quilômetros chegamos a uma das nossas vilas e conseguimos alojar umas dez pessoas.
— De duas a três famílias — disse pensativa e continuei: — e o restante?
— Ramon conhece melhor as estruturas das aldeias do que eu, por isso terão que ir para a fortaleza e lá ele dirá onde poderão ser alojados — disse Juan.
— Tranquilo. Faremos o que disse — avisei.
— Podemos levá-la agora até o Ramon, Ángel — disse Juan, sinalizando para dois dos nossos soldados.
— Não, seguiremos todos juntos — disse decidida.
Juan sorriu e me deu as costas, colocando em prática o que combinamos.
O fato é que não era o tipo de líder que me escondia, e sim, a que chegava junto com os seus homens, por isso sabia que garantia uma fidelidade de quase cem por cento. Ao contrário de muitos líderes de cartel que, quando conseguem algo parecido, é através do medo, não do respeito.
Seguimos viagem, dessa vez, contando com a segurança do grupo do Juan. Depois de quase um dia viajando, chegamos até uma das minhas vilas.
De acordo com Antonio, três famílias foram separadas e alojadas na vila. O restante seguiu conosco. Entre eles, a pequena Ángel que deixou a companhia da irmã e ficou ao meu lado no final do grupo.
— É perigoso — avisei a ela — é mais tranquilo que fique com a sua irmã.
— Por favor, Ángel — pediu, e eu não soube como negar para aqueles lindos olhos negros.
Seguíamos tranquilos por mais alguns quilômetros quando um dos nossos homens foi atingido.
— Escondam-se — gritaram Guillermo e Ramon.
Os homens armados tomaram posição de defesa e corri com a pequena Ángel para escondê-la com a intenção de retornar para a briga.
Encontrei um pequeno abrigo com três árvores caídas e mandei que ela se abaixasse, escondendo-se ali.
— Não me deixe — falou com medo.
— Preciso ir ajudar os outros. Garantir que sua irmã e seu tio fiquem em segurança — disse, quando ouvi passos atrás de mim.
Fiz sinal para a menina que ficasse quieta, quando o desconhecido me surpreendeu.
— Sabe quanto estão pagando pela sua cabeça? — disse Diego.
Diego Santos era o líder de um dos piores grupos guerrilheiros que viviam na Colômbia, as atrocidades cometidas por ele tinham fama internacional.
— Tenho certeza que posso cobrir qualquer valor que lhe ofereceram — falei, tentando ganhar tempo e pensar na reação.
— Coloque a arma no chão — disse.
Puxei a pequena Ángel para minhas costas enquanto analisava uma maneira de escapar. Nesse meio tempo, tive uma grande surpresa.
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Ángel
ChickLitA rebeldia e a liberdade de Carina eram os seus guias na vida, até que um dia todos os limites foram ultrapassados e se viu jogada em um mundo que para sobreviver teria que dominá-lo. Assim nasceu a Ángel, líder de um dos cartéis mais violentos da C...