Daniel

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Acreditei que, por trabalharmos juntos para conseguir acabar com o Mendez, de certa forma, conseguiria entrar em um acordo com a Ángel, porém, quando ela apontou a arma para mim, percebi que nada havia mudado.

Não contei com o Guillermo bem atrás de mim, pois toda a minha atenção estava voltada para o Mendez e a garota, por isso tive que me render sem chance para reação.

Dois aldeões se aproximaram e, a mando de Ángel, me levaram até uma das casas onde encontrei Joaquim e Amanda.

Amanda se machucou feio na briga que tivemos pelo controle da vila, Joaquim tentava cuidar dela com os poucos recursos disponibilizados pelos aldeões.

Aproximei-me para olhar o ferimento e vi que realmente era sério, tentando pensar em uma forma de obter ajuda de uma maneira mais eficaz.

— Precisamos de um hospital — disse para Joaquim.

— Eu estou bem — disse Amanda, tentando diminuir a gravidade do que acontecia com ela.

O chefe dos aldeões deu todos os medicamentos que tinham para ajudar com o ferimento, mas o máximo que conseguimos foi deter a hemorragia e diminuir a dor.

— Pensei que a Ángel faria algum acordo — disse Joaquim quando aplicamos a morfina em Amanda e ela dormiu.

— Também pensei nisso, mas o ódio dela por mim supera qualquer tipo de negociação. Acho que temos que nos contentar por não ter nos matado — disse.

— Só queria que ela dissesse onde está a minha filha — disse Joaquim pesaroso.

— Daremos um jeito de descobrir, agora pelo menos teve informação da sua família. Não tive a oportunidade de dizer antes, sinto muito pela sua mulher e o seu filho.

— Obrigado, Daniel — respondeu com a tristeza evidente no olhar.

Horas se passaram e o cansaço nos dominou, por isso não estranhei que, quando abriram a porta, a claridade tomou conta do ambiente, o dia havia amanhecido.

— Como está sua amiga? — perguntou o aldeão que sabia ser o tio da pequena Ángel.

— Precisa ir para um hospital — respondi.

Antes que ele me respondesse, Ángel entrou acompanhada de Guillermo e mais dois homens armados. Ela me olhou de uma forma dura e enigmática que não me permitia descobrir o que estava pensando.

Será que agora ela terminaria o que pensou em fazer quando estávamos no avião?

Ángel se aproximou de onde Amanda estava deitada e, olhando-a superficialmente, finalmente falou:

— Acho que ela aguentará a viagem — disse para Guillermo.

— Que viagem? — perguntei.

Ela me ignorou e encaminhou-se para sair quando resolvi insistir.

— Ángel, lutamos juntos, esperava um pouco do seu senso de justiça — disse.

Ela parou e me olhou séria como se tivesse novamente ultrapassado os limites.

— Saiam — disse para os demais.

— Ángel? — questionou Guillermo, diante da ordem que recebeu.

— Está tudo bem, Gui. Leve o Joaquim com você.

— Você não deveria esperar nada de mim, afinal me denominou um monstro digno de ser encarcerado — disse ela quando ficamos a sós.

— Com esse comentário, está deixando claro que se considera acima da lei.

— Não é questão de estar acima da lei, e sim de sobreviver. Acreditei que me entendia, mas pelo visto me enganei.

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora