ÁNGEL

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Quando Diego atirou, o meu único pensamento foi proteger a pequena Ángel e possibilitar que ela escapasse.

Jamais imaginaria que Daniel apareceria e se jogaria na frente da bala.

Porém a sua defesa não seria o suficiente para nos proteger, então aproveitei que o seu gesto me jogou no chão para pegar a minha pistola que Diego me mandou soltar.

Tudo aconteceu muito rápido e, se não fosse por minha agilidade, tinha a certeza que o Diego poderia ter virado o jogo.

— Seu idiota! Por que fez isso? — perguntei enquanto averiguava a extensão do ferimento do Daniel.

— Ele vai morrer? — perguntou a menina.

— Não — respondi nervosa.

— E o moço mau?

— Está morto — disse no momento em que Guillermo se aproximou.

— Ángel, você está bem? — perguntou apreensivo.

— Estou. E o pessoal do Diego? — perguntei ansiosa com a mão em cima do Daniel, confirmando que o seu coração estava batendo.

— Conseguimos fazê-los recuar, Ramon chegou com reforços. O que o Daniel está fazendo aqui?

— Gui, ele pulou na minha frente quando o Diego atirou — disse confusa.

— Porra! — disse simplesmente, expressando bem a bagunça que estava na minha cabeça.

— Está com algum kit de primeiros socorros? — perguntei a Guillermo quando Ramon se aproximou junto com o Juan.

— Ángel, você está bem? — questionou Ramon.

— Estou, mas preciso de ajuda para ele — disse.

Ramon gritou dois homens e eles trouxeram uma lona que foi improvisada como maca. Precisávamos ir para um lugar seguro para que Guillermo pudesse dar uma olhada no ferimento do Daniel. Do grupo, ele era quem tinha mais conhecimento nesta área.

— Ele estava sozinho? — perguntei a Juan.

— Creio que não, Ángel, pois dois soldados estavam entre os mortos.

— Alguma chance de um terceiro soldado ter escapado? — questionei, e Ramon respondeu.

— Não. Verificamos os mortos e não houve fugitivos com exceção de um dos homens de Diego.

— Que irá para Lopez dizendo que estou na floresta.

— Exatamente. Por isso que, antes de darmos os primeiros socorros ao seu amigo, precisamos estar em um lugar seguro — completou de forma que senti que analisava se Daniel era realmente um amigo.

— Ele não é um simples amigo, depois conversamos — disse.

Seguimos por uma trilha e, depois de meia hora de caminhada, Ramon nos dividiu em grupos menores para disfarçar nossa passagem pela mata.

— Os grupos já foram divididos pensando nas aldeias para onde irão — disse Ramon quando paramos em uma ravina.

— Melhor assim — disse, aproximando-me de Guillermo que cuidava do Daniel.

— Gui, como ele está? — perguntei agachando-me ao lado deles.

— O tiro atingiu o ombro e felizmente a bala atravessou, dei morfina e antibiótico, fiz um curativo para deter o sangramento até chegarmos à fortaleza.

Observei Daniel por um tempo com muito vontade de passar a mão nos seus cabelos e senti-lo. Porra! Estava realmente apaixonada por aquele idiota, acreditei que com a distância superaria. Mas ele ter pulado na frente de uma bala por minha causa mexeu com as defesas que estava tentando reerguer.

— Para quem a queria presa, pular na frente de uma bala para protegê-la é uma mudança e tanto — disse Guillermo.

— Esse é o agente infiltrado que prendeu vocês? — questionou Ramon querendo saber mais da história.

— Sim — respondi simplesmente.

— Estou com você a bastante tempo para ver muitos que tentaram o mesmo que ele mortos — observou Ramon.

Olhei séria para ele, sabendo o quanto minhas atitudes com o Daniel não correspondiam ao meu passado e à minha posição, por isso dei a resposta que podia para o momento.

— É muito complicado para definir agora. Sei que como líder deveria meter uma bala na cabeça dele, mas não sou apenas a líder.

— É um ser humano e fico feliz que a vida que temos não a tenha transformado em um monstro insensível — disse Ramon, porque o nosso objetivo sempre foi sobreviver.

— Quanto ao Daniel, vamos cuidar dele e ficar de olho em suas atitudes e, se em algum momento, colocá-la em perigo, eu resolvo — disse Gui, usando o tom de irmão mais velho que sempre foi importante para que não me sentisse sozinha.

Sorri para os dois em agradecimento e finalmente passei a mão pelos cabelos do Daniel.

— Fique com ele. Vou ajudar o Ramon para seguirmos viagem — disse Guillermo, levantando-se acompanhado de Ramon. Percebi que queriam me dar espaço.

Sozinha ao lado do Daniel, senti a quantidade de emoções que ele me causava, principalmente as dúvidas sobre as suas atitudes.

Se ele voltou atrás de mim deveria ter trazido o Joaquim com ele. E por que apenas dois guardas? Além disso, por que não ficou como observador e se envolveu?

Caramba! Tinha tantas perguntas, porém agora sabia quem de fato era o Daniel e tinha a consciência de que, na situação em que nos encontrávamos, o controle era todo meu.

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora