ÁNGEL

172 18 6
                                    

Deixei o quarto/cela em que coloquei o Daniel, refletindo sobre o que tivemos e me conscientizando sobre a minha grande falta de sorte, pois o tigre estava bem longe de ser uma simples foda.

O espaço do primeiro andar do meu módulo foi preparado de forma prática e simples, como gostava. Claro que tinha uma cesta cheia das guloseimas da Isabel em cima da mesinha. Ela sempre dava um jeito de me paparicar. Porém só experimentaria no dia seguinte, no momento, o cansaço só permitia um banho e cama.

Esta foi a primeira noite de muitas que passei com o tigre, tê-lo ao meu lado com todo o controle tinha um sabor especial.

No mês que se seguiu, aproveitei para arrumar e garantir a segurança nas aldeias, saindo em comboio com Guillermo e Ramon.

Dividíamos a frustração de não termos matado Lopez ainda, tínhamos plena consciência que tê-lo solto na floresta era uma ameaça, principalmente quando estava prestes a atravessar a mata para chegar à fazenda onde Mel e as crianças estavam.

O bom de tudo isso era que curava minhas frustrações nos braços do Daniel que, sabiamente, estava sendo paciente em busca do meu perdão.

— Tem dois dias que não vem me ver — disse ele depois que transamos e estávamos sentados no chão do quarto, próximo às correntes.

— Está contando os dias que não nos vemos? — perguntei em tom de deboche.

— Acreditando ou não, você me faz falta — disse com um meio sorriso.

Fiquei séria e passei a mão suavemente pelo seu rosto.

— É muito difícil confiar em você. Confiança no meu meio é algo precioso e quando ela é quebrada é quase impossível ser restaurada.

— Mesmo quando entrego totalmente a minha confiança para você? Porque é o que acontece todas as vezes que permito que me imobilize — disse.

— Entendo seu ponto de vista. Mas é a história do sapo e do escorpião, talvez ser policial e prender a criminosa seja da sua natureza — disse.

Ele soltou o ar frustrado e desviou os olhos dos meus, mantendo a visão na parede em frente. Já sabia que esse comportamento era a forma com a qual Daniel encontrou para mostrar que estava zangado sem bater de frente comigo.

— Se está frustrado com a minha atitude, posso providenciar que volte para sua noiva e seus amigos em segurança. E assim encerramos o que quer que esteja acontecendo entre nós — conclui.

Com a vida que estava levando, tendo o risco iminente do Lopez, ou seja, de ser morta, e a avaliação que fazia sobre os meus reais sentimentos pelo Daniel, avaliava que talvez o melhor fosse que nos afastássemos.

Ele voltou o olhar em minha direção, passou a ponta dos dedos pelo meu rosto suavemente e disse algo que mexeu ainda mais comigo.

— Não haveria nada pior para mim do que me afastar de você. Fico frustrado por não ter conseguido ainda o seu perdão, mas não desistirei.

— Daniel, sabe que nós dois somos uma situação impossível, por que ainda insiste tanto? — questionei.

— Porque para mim nada é impossível, principalmente quando chego à conclusão do que quero. E eu quero você — disse.

Respirei fundo, soltei o ar e o encarei, perdendo-me em seus olhos e ouvindo o meu coração dizer para o meu cérebro: "por que não aproveitar mais um pouquinho de algo restrito a pessoas bem diferentes de mim?"

Aproximei-me o suficiente para encostar meus lábios nos dele e deixei que o beijo doce virasse um apaixonado e assim ele me carregou, levando-me até o enorme colchão que lhe servia de cama.

Fizemos amor de forma plena e adormeci ao seu lado sem me importar em deixar o quarto de imediato como fazia questão.

O dia estava amanhecendo quando despertei e olhei para o lado admirando cada detalhe do Daniel. Por que aquele homem surgiu daquele jeito na minha vida? E por que não conseguia me afastar? Tinha certeza que acabaríamos nos machucando como antes com a sua traição, porém, enquanto não acontecia, meu coração traidor se regozijava com momentos como aquele.

— Bom dia — disse ele com a voz rouca e o os olhos semicerrados.

— Bom dia. Preciso ir, vou sair com Ramon e Guillermo — disse.

— Ainda não encontraram o Lopez?

— Não.

Levantei e peguei o hobby no gancho, Daniel me seguiu e, quando me virei, estava presa em seus braços. Sabia que, se ele quisesse me ferir, estaria com um grave problema, porém deixava-me apenas correr o risco e ver no que daria.

— Tome cuidado — disse e beijou meus lábios com carinho.

— Sempre tomo cuidado — brinquei, afastando-me e saindo da cela. O segurança que ficava se prontidão se aproximou e fechou a porta.

Meia hora depois, eu me encontrava com Ramon e Guillermo.

— Pelo visto, Daniel está sendo um ótimo passatempo — disse Guillermo e piscou o olho para Ramon.

— Maravilhoso, por isso que digo que estou fodida, não consigo confiar nele — disse, torcendo a boca.

— Ele continua jurando amor eterno? — perguntou Guillermo com sarcasmo.

— Continua — respondi simplesmente.

— Talvez tenha como lhe ajudar nesse quesito — disse Ramon, e olhei-o curiosa.

— Como assim?

— Ontem um dos meus vigias viu um grupo do exército cercando a área. Ofereça a liberdade dele com carona de fato para casa e poderá testar se é de confiança.

Olhei para ele sabendo que era uma boa ideia.

— Preciso ver esse grupo — disse. — Estão por perto?

— Sim.

— Vou pensar sobre a sua sugestão de acordo com o que encontrar — conclui.

— Vamos? — perguntou Guillermo.

— Vamos.

Peguei a submetralhadora e os rapazes fizeram o mesmo, assim nos unimos ao grupo de nossos homens e deixamos a fortaleza.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 08, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora