Quando o meu olhar se encontrou com o da Ángel, meu coração se apertou no peito e lembrei da garota que dançou comigo na festa em Lores, que fez amor olhando as estrelas no jardim da casa e foi preciso muita concentração para entender que minha ação era necessária para colocar uma traficante na cadeia.
O ódio que ela deixou evidente no olhar doeu fundo. Acabávamos de deixar claro que estávamos em lados opostos e que essa situação em que nos encontrávamos teria consequências.
Sem pensar muito, ela atirou na Amanda e depois mirou no carro, sua intenção era nos tirar da estrada, favorecendo a fuga. Para sua sorte e nosso azar, uma das balas atravessou a ferragem e acertou o motor, fazendo com que o desempenho do carro fosse prejudicado e tivéssemos que parar enquanto o carro deles acelerava fugindo.
— Porra! Aquela vaca atirou em mim — gritou Amanda, levando a mão ao ombro.
— Foi de raspão — disse, mal olhando para ela e parando o carro.
Naquele momento só me interessava em prender a Ángel. Como parti para o tudo ou nada e tinha acabado com o meu disfarce, era a minha única saída.
Joaquim parou atrás do carro e nós entramos no seu veículo, seguindo em perseguição, por mais que não desse mais para pegarmos a Ángel.
— Perdemos a Ángel — disse Suarez.
— Tenho um plano B preparado para usar caso ela escapasse — disse, e Amanda me olhou curiosa, esquecendo o arranhão no braço provocado pelo tiro da Ángel.
— Qual? — perguntou Amanda.
— Cerquei o hotel com um grupamento militar. Sei que o dono é fiel ao cartel da Ángel e sabia que hoje a Mel passaria o dia por lá.
— E agora, chefe? — perguntou Joaquim sentado atrás do volante.
— Vamos voltar para a cidade enquanto verifico a situação das demais unidades envolvidas na caçada.
Telefonei para o responsável pelas viaturas que seguiram Gustavo. Ele me informou que Gustavo foi morto no tiroteio, mas pegamos alguns membros da quadrilha que poderiam nos dar informações úteis em outras investigações ligadas ao tráfico saído da Venezuela.
Liguei para o responsável pelo cerco ao hotel e ele me disse que aguardava apenas o mandado do juiz e confirmou que Mel estava no hotel juntamente com os filhos do Rico, segundo informação da policial disfarçada que colocamos como camareira.
— Acredita que Ángel se entregará para salvar a Mel e os filhos do Rico? — perguntou Amanda.
— Tenho quase certeza que sim — disse, lembrando como as pessoas eram gratas a ela por seus sacrifícios em prol deles.
— Ela é uma sociopata. Estando encurralada, descartará salvar quem quer que seja — disse Suarez.
— A Ángel não deixa na mão quem está ao seu lado — disse. E pensar sobre essa condição fez com que me sentisse um verme sem alma, porém a justiça tinha que ser cumprida. Ela não podia ser juiz e júri para quem não era seu apoiador.
— E então, voltamos para a cidade e simplesmente aguardamos? — perguntou Joaquim.
— Iremos para o cerco do hotel e, caso não consigamos pegar a Ángel, garantiremos que a Mel não escape. Com ela, pegaremos o Guillermo, daí chegaremos à Ángel novamente — disse decidido.
Enquanto Joaquim seguia dirigindo o carro com destino ao hotel, permaneci em silêncio, pensando no que viria pela frente, sabendo que estar do lado oposto à Ángel, tornando-me um inimigo, era um peso que não sabia se suportaria.
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Ángel
ChickLitA rebeldia e a liberdade de Carina eram os seus guias na vida, até que um dia todos os limites foram ultrapassados e se viu jogada em um mundo que para sobreviver teria que dominá-lo. Assim nasceu a Ángel, líder de um dos cartéis mais violentos da C...