Ángel

ANGEL

ÁNGEL

Não sei o que me deu, deixando que aquela moça sofresse as torturas do sádico do Mendonza, sempre busquei uma maneira de ajudar garotas como a Ranya.

Sei que não sou nenhum anjo, que tenho muitos pecados, mas todas as minhas ações, por mais erradas que fossem, tinham um sentido e, se parasse para pensar, aquela atitude, deixando que a garota fosse torturada, só tinha uma explicação: não gostei de vê-la com o Daniel, de saber que ela o beijou, afinal ele era meu, o meu tigre.

Mas no final tudo se resolveu e a situação serviu ao propósito. Agora Daniel era de fato meu, o meu pet para brincar e me divertir como quisesse.

Claro que sabia que ele deveria ser recompensado e escolhi ajudá-lo com a formação do seu grupo. Por isso estava disposta a colocá-los juntos com o Rico nas operações de transporte que tínhamos pela frente.

— Está feliz — disse Melina quando se juntou a mim na varanda de casa.

— Diria que estou satisfeita — comentei, colocando um pedaço de bolo na boca.

— Pelo visto, o Daniel está rendendo muitos momentos interessantes — observou, tentando obter informações sobre a minha noite anterior.

— Digamos que o tigre sabe como me agradar.

— Hum... será que a Ángel enfim encontrou o amor?! — perguntou, erguendo as sobrancelhas, curiosa.

— Amor? Mel, você sabe que não sou merecedora dele. Daniel é apenas a minha diversão do momento.

— E o que dará em troca? — perguntou Guillermo, aproximando-se de nós e sentando-se à mesa.

— Por que deveria dar algo em troca? — perguntei, sabendo bem ao que Guillermo se referia.

— Se ele é o seu submisso, terá que compensá-lo com algo, a não ser que ele tenha realmente pedido para se submeter, o que acho pouco provável — completou, erguendo uma das sobrancelhas de forma incrédula.

— Vou ajudar o grupo dele a se estruturar, ficarão com o Rico para ajudar nas negociações de cargas — esclareci, finalmente.

— Ángel, é uma parte importante do negócio — disse Guillermo, preocupado.

— Sei disso, mas o Rico ficará de olho nele, e eu também, portanto temos o controle e qualquer passo em falso cortamos as asinhas, ou melhor, as garras do tigre — disse tranquilamente.

— Se você está dizendo, fico mais tranquilo.

— Inclusive, vamos nos encontrar no hotel mais tarde para traçarmos algumas diretrizes. Preciso que a carga chegue à África do Sul sem demora.

— Rico está tomando as providências, mas está tendo problemas com algumas pessoas na alfândega.

— Portanto, hora de testarmos os contatos do tigre. Talvez ele tenha uma rota que nos livre dos obstáculos — disse.

— Vamos ver se ele vale a pena — disse Guillermo, ainda desconfiado. Não o culpava, esse tipo de posicionamento nos deixava longe de confusão.

— Uma das suas tarefas nessa reunião é justamente observar o tigre e o grupinho dele.

— Por falar no grupinho dele, percebeu que a loira que o acompanha fez amizade com a Luzia? — disse Melina.

— A loira se chama Amanda, é irmã do Daniel. Percebi, sim, elas se aproximaram e é algo que teremos de ficar de olho, não confio na Luzia e a tal Amanda me lança olhares bem estranhos.

— Estranhos como? — perguntou Guillermo.

— Não sei dizer, mas com toda certeza não são simpáticos.

— Ángel...

— Já sei o que dirá, Gui, mas temos como nos defender e, depois, o Rico os checou antes de nos apresentar — disse, interrompendo-o.

— É, isso você tem razão.

Terminamos de tomar o café e segui com o Guillermo para o hotel. Quando chegamos à minha suíte, Rico já me aguardava.

— Buenos dias! — disse ele, contente.

— Guillermo, acho que temos alguém bem feliz por aqui — disse, sentando-me.

Guillermo riu da minha colocação e provocou o Rico:

— Pelo visto, a Luzia agradou bastante ontem à noite.

Tive que segurar a cara de asco, diante da observação. Uma, porque não tinha a menor simpatia pela Luzia e, depois, porque já tinha entendido que toda vez que ela fazia algo assim era porque queria algo do pobre do Rico.

— Ontem, ela estava inspirada, acho que a casa do Benício aqui na cidade será um sucesso — disse, tão envolvido com as lembranças, que não percebeu o meu desdém. O que era bom, afinal não era minha intenção destruir os momentos de felicidade dos meus amigos.

— Que bom que sua noite foi agradável, pois temos providências a tomar — disse, voltando o assunto para os negócios.

Contei ao Rico da participação de Daniel em algumas das negociações e que ele ficaria sob a sua supervisão.

— É um bom pessoal, acho que lucraremos com a associação. A irmã dele, Amanda, e o namorado conversaram bastante comigo e Luzia.

— Conversar com a Luzia e a opinião dela não é uma referência que leve em consideração.

— Ángel! — disse Rico, indignado. Apenas torci a boca, e continuamos a discutir algumas vendas que estávamos articulando.

Ainda decidíamos a melhor forma de ação quanto a um grupo que estava conseguindo um espaço maior do que o previsto em Cartagena quando Daniel chegou acompanhado de Joaquim, felizmente não trouxe a irmã, verdadeiramente não curtia a Amanda, ela tinha algo de muito estranho.

— Olá, tigre — disse, e ele me olhou atravessado.

Ainda faria com que ele baixasse a vista e deixasse claro quem de fato estava no controle. Porém, seria devagar, afinal amava aquela rebeldia.

— Ángel — disse, observando-me.

Era evidente que ele esperava uma atitude da minha parte, o que já era um começo para lhe mostrar quem de fato estava no comando.

— Estava aguardando você, temos alguns assuntos para discutir — disse e sinalizei para que ele sentasse junto com Joaquim no sofá que ficava em frente a mim.

Notei que em seus olhos passou aquela sombra que deixava evidente a decepção por não tê-lo feito sentar-se ao meu lado, o que me fez sorrir satisfeita, era bom que ele tivesse esse gostinho de frustração.

— Para começar, gostaria de dizer ao Daniel que darei uma chance para ele e sua equipe, lembrando que não sou uma ONG, portanto, não agiu corretamente, serão devidamente penalizados — completei a frase, olhando diretamente nos olhos do Daniel.

— Como disse desde o início, pode confiar no nosso trabalho — completou confiante.

— Se consegue garantir — observei irônica e continuei: — vou explicar onde queremos a participação de vocês — concluí.

Levamos a hora seguinte explicando a participação deles na entrega da cocaína na África do Sul. Daniel e Joaquim garantiram que teriam como agir, atendendo às nossas exigências.

Terminamos a reunião e Daniel, antes de sair com Rico para discutir alguns detalhes, olhou-me com a vontade insana de dizer que ficaria mais um pouco, porém sabendo que não apreciaria uma decisão da parte dele, esperou que eu dissesse algo, mas apenas me levantei e fui para o quarto.

Não era a hora de brincar com o tigre. Ele estava muito ansioso, portanto teria que esperar o meu chamado.