ÁNGEL

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Não tinha muita vivência na mata, apenas o que aprendi com Ramon em umas férias que fiquei com sua família. Por isso estar com o Gui e o Rico me dava mais segurança.

— Para onde vamos? — sussurrei para Rico quando paramos em uma gruta para descansarmos e bebermos água.

— Para o norte, com mais um dia de caminhada chegaremos à vila do Ramon.

— Certo. Vamos? — perguntei, ficando em pé.

— Vamos — disse Rico.

— Como você está com a descoberta do Daniel? — perguntou Guillermo.

— Prefiro não falar sobre o assunto — disse, adiantando o passo.

— Ángel, não sabemos o que será deles naquele avião, existe uma grande chance de serem mortos antes de conseguirem ajuda, está confortável com isso? — disse Rico.

— Qual o problema dos dois? Eles nos prenderam e estavam dispostos a nos jogar um contra o outro, por que toda essa preocupação? — questionei, voltando para perto deles.

— Sabemos que o Daniel estava tomando um espaço na sua vida. Nunca levou um submisso a Lores — disse Guillermo.

— Esse foi o meu erro, ter confiado. Agora ele terá o castigo que merece e, por favor, esse assunto morre aqui — disse, adiantando o passo, evitando pensar no tigre, quando uma bala passou voando por cima da minha cabeça. Fomos descobertos.

Corri para trás de umas árvores, enquanto Gui e Rico faziam o mesmo. Antes de atirar, tentamos visualizar onde estava o atirador. Creio que Rico o encontrou primeiro, pois atirou de volta.

Guillermo atirou e conseguiu atingir um deles que agora já sabíamos que se tratava de um grupo de pelo menos cinco elementos.

Enquanto os rapazes atiravam, comecei a correr por entre as árvores com a intenção de pegar o grupo por trás. Apontei o rifle e atirei derrubando mais um deles. Quando pretendia pegar o último, ouvi gritos e a voz de Mendez.

— Ángel, não sabia que viria me visitar — disse Mendez e, na mesma hora, pensei: porra.

— O que você quer? — gritei de volta, preocupada por não estar ouvindo as vozes de Rico e Guillermo.

— O que acha? Você como minha puta — disse quando Gui atirou acertando um dos guardas que estava próximo a ele.

Não sabíamos quantos estavam com Mendez, porém não era hora de desistir. Quando ouvimos a voz do Ernesto, aproximando-se da clareira entre as árvores com o Rico na mira da sua arma, percebemos que fomos vencidos.

— Se não quiserem que eu meta uma bala na cabeça do Rico, é melhor se entregarem — disse.

Mil vezes, porra! Por culpa do Daniel, estava em uma das piores situações que já enfrentei desde que tomei o cartel.

Guillermo jogou a arma longe e fiz o mesmo, em seguida, nos aproximamos com as mãos para cima em sinal de rendição.

Os homens de Mendez nos cercaram e fomos colocados de joelhos enquanto Rico sussurrava um me perdoe para mim e Guillermo. Era culpado por ter acreditado em Ernesto, não por ter se rendido quando uma arma foi apontada para a sua cabeça.

— Nós dois temos muito que conversar — disse Mendez, parando bem à minha frente.

Fomos amarrados e levados até um acampamento provisório onde encontrei com quem menos queria no momento.

Daniel me olhou querendo dizer muita coisa enquanto esperava que ele compreendesse a vontade assassina que estava nos meus olhos. Contava que Mendez o matasse quando o encontrasse no avião, não que o colocasse do meu lado.

— Hoje a caçada foi perfeita — disse Mendez, puxando-me pela cintura. Acreditou que, por estar com as mãos amarradas, eu não poderia reagir. Porém acertei uma joelhada no seu saco que o fez se encurvar.

— Puta! — gritou, acertando-me uma bofetada. — Vai aprender quem manda — disse e colocou o Rico de joelhos.

Percebendo as intenções dele, tentei reagir para proteger o Rico.

— Seu problema é comigo — disse.

— Eu sei, mas vou pegar um deles — disse referindo-se a Gui e Rico. — Só para lhe mostrar quem manda — concluiu e atirou.

Meu coração quase saiu pela boca quando vi o corpo do Rico no chão. Corri ao encontro de Mendez. Com toda certeza, daria um jeito de matá-lo, mas Guillermo agiu rápido, bloqueando-me, pois as minhas chances eram mínimas, e aquele animal teria toda chance de me matar.

— Calma! Se continuar assim, ele a matará — disse em meu ouvido quando dois homens o puxaram de perto de mim.

Mendez se aproximou, colocando o revólver desta vez apontado para a cabeça do Guillermo.

— Um passo em falso e estouro a cabeça desse aqui também — disse Mendez.

Sentia o olhar de Daniel sobre mim. Só não gritava para ele que era o culpado de tudo aquilo, porque minha atenção estava voltada para o imbecil do Mendez e o que ele poderia fazer com o Gui.

— O que você quer? Com certeza tem um preço — esbravejei.

— Que me leve até o Ramon — disse.

— Isso nunca acontecerá. Pode meter uma bala na minha cabeça e na do Guillermo. É o nosso acordo para o caso de um dia estarmos nessa situação — afirmei secamente.

— Posso mudar isso — disse rindo. — Vamos com calma, no momento, iremos para a minha vila e lá começo a lhe amaciar.

Os homens de Mendez ergueram acampamento. Eu e Gui fomos colocados com Daniel e os demais.

Daniel tentou se aproximar, mas desistiu de abrir a boca quando sentiu o ódio com que o olhei.

No meu pensamento, só estava o fato que não pude proteger o Rico e nem ao menos lhe dar um enterro.

Seguimos pela mata e novamente pensava em como escapar, matar o Mendez e torturar o Daniel por um longo tempo até que ele pagasse por tudo que tinha feito, já que ainda não tinha conseguido vencer a trava que me segurava para matá-lo.

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora