ÁNGEL

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ÀNGEL

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ÀNGEL

Cheguei à casa sozinha, Rico e Gui tinham um encontro com alguns dos nossos contatos. Era hora de testar um novo esquema de envio para as drogas chegarem sem problemas aos Estados Unidos e à Inglaterra.

Como foi a noite passada? — perguntou Mel, entrando no meu quarto.

— Boa — respondi simplesmente, olhando para o seu reflexo no espelho do meu banheiro, enquanto escovava os dentes.

— Boa?! Tenho certeza que levou o Daniel para o calabouço e, foi apenas boa?!

Dei risada da cara confusa que a Mel estava fazendo.

— O tigre é fantástico — disse com uma gargalhada e logo depois fiquei séria — o que se torna um grande problema — completei.

— Por quê? Ele não é de confiança? — questionou interessada.

— Ainda não o conheço, Mel. Não tenho como confiar nele.

— Mas não já teve provas que pode confiar nele? — perguntou, insistindo.

— Com o que faço, nunca temos provas suficientes de que podemos confiar. A não ser quando existe uma história, como eu, você, Gui, Rico e Ramon.

— Mas não dá para viver assim — comentou pensativa.

— Não tem outro jeito, Mel. Relacionamentos, para existirem nesse meio, devem vir com os dois pés atrás.

— Não concordo com isso. Como você sabe, sou uma romântica, mesmo com a nossa vida real nos ameaçando a cada segundo — disse.

Antes que respondesse à sua observação, o filho mais novo dela e do Gui, Mário, começou a chorar e ela precisou ir vê-lo.

Sentei na minha cama e fiquei pensando sobre o tigre e questionando ao universo o porquê da minha vida e da dele não serem diferentes.

Porém a resposta era óbvia, não somos como todo mundo e não podemos namorar e nos divertir sem o medo que o outro nos traia ou, pior, nos mate.

Enfim, tinha que me conformar, escolhi aquela vida. Poderia ter ido embora, mas não quis deixar as pessoas que sofreram comigo no cativeiro de Tomaz sem uma proteção. E acabei chegando ao ponto de ter inimigos em muitos cantos e continuar viva significava não confiar em ninguém.

Tranquei meu quarto para dormir um pouco, pois à noite tinha um encontro com negociadores venezuelanos. Se tudo desse certo, a negociação das armas aconteceria em breve.

Tráfico de armas era um comércio que pretendia aumentar o quanto antes, ele seria o meu ponto máximo para ter sob controle as guerrilhas na Colômbia, Bolívia e nas Guianas, essa posição facilitaria a rotina nas minhas fábricas de cocaína e o seu transporte até os pontos de distribuição.

Saí do quarto perto das nove da noite e Guillermo já me aguardava.

— Podemos ir? — perguntou.

— Sim, e o Rico?

— Depois do que fizemos pela manhã, ele precisou verificar alguns informantes e ver o que estão planejando.

— Espero que consigamos controlá-los sem que tentem mais nenhuma idiotice. Sei que Mendonza está descontente comigo — completei cínica — e pode se unir a outros contra nós.

— Daniel, não faz ideia da confusão em que ela a meteu com Mendonza quando a provocou com a garota — disse.

— Nada que não esteja acostumada a lidar — disse resumindo.

— Sei disso.

Deixamos a casa com destino ao meu pequeno sitio que ficava próximo, gostava de marcar encontros em locais que estavam sob o meu domínio, facilitava em muito na transação, se é que entendem.

Duas horas de conversa, regada a muita tequila, e consegui os acordos que estava querendo com a promessa que a primeira carga chegaria dentro de duas semanas.

— Aguardo o seu contato — disse, despedindo-me de Gustavo.

— Informo o dia da entrega. Rico ficará à frente do recebimento?

— Exatamente — respondi.

— Ok. Bom fazer negócios com você, Angel — disse com o sorriso presunçoso que começava a me incomodar.

— Espero poder dizer o mesmo — disse, deixando a ameaça de forma velada, caso falhasse com a entrega.

— É o primeiro de muitos negócios que fecharemos, pode esperar — disse, concluindo.

Gui o levou até a porta junto com os seus homens, enquanto eu pegava o telefone para falar com o Rico.

— Tudo certo com a carga, Angel? — perguntou assim que atendeu.

— Sim, dentro de algumas semanas, Gustavo entrará em contato com você. E quanto à nossa situação nas ruas?

— Ninguém quer lhe desafiar, mesmo com o apoio de Mendonza — completou.

— Ótimo — respondi satisfeita. — Amanhã lhe espero cedo em casa, temos alguns assuntos para discutir.

— Certo, Angel.

Encerrei a ligação com o Rico e segui com o Gui de volta para casa.

Estava satisfeita com o rumo que os negócios estavam tomando e, pela primeira vez, me sentia confiante. O problema é que, no meu mundo, confiança demais atraía falhas. Como por exemplo, naquele momento, Luzia questionava o Rico sobre o que conversamos e assim ficava por dentro dos detalhes da operação, o que, sem dúvida, era um grande problema, pois ela nunca foi de confiança.

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora