ÁNGEL
Cheguei a Monteria e minha vida voltou, como posso dizer, ao que era esperado dela. A única diferença era que, quando me masturbava sozinha, à noite, no escuro do meu quarto, relembrava cada segundo ao lado do meu tigre, pelo visto, tinha encontrado o meu vício. Mas, como todo vício era vencido com reabilitação, a distância entre nós dois estava cumprindo esse papel.
— O filho do Rico já está em casa — disse Mel quando cheguei à sala.
— Que bom, conversei com o médico. O problema dele parece que está resolvido — respondi.
— Rico ficou tranquilo quando se meteu, Luiza estava com umas teorias contra o médico e o hospital que estavam prejudicando a resolução do problema.
— Preciso dar um jeito nessa Luiza, o meu limite está chegando ao fim — comentei quando Guillermo e a pequena Carina chegaram à sala.
Ela, como de costume, correu para o meu colo e a carreguei. Era através das crianças do Rico e do Guillermo que eu satisfazia o meu desejo por filhos.
— Ángel, por favor, não tome uma decisão sem conversar com o Rico — disse Mel.
— Vou pensar. Gui, o que pedi está pronto? — perguntei, sentando à mesa com a Carina no colo.
— Está, estamos despachando o material hoje através das rotas da Venezuela.
— Ótimo.
— Soube do Benício? — perguntou Gui.
— Ele me falou que está dividindo a sociedade com o Gutierrez.
— Gutierrez está querendo colocar alguns acréscimos na boate — disse Gui de forma enigmática por causa da presença da filha.
— O que são acréscimos? — perguntou Carina com a boca cheia de bolo.
— São coisas a mais e, pelo visto, terei que fazer um acréscimo no meu bolo porque a senhorita comeu tudo — disse, fazendo cosquinhas nela.
Terminamos o café e Rico chegou para conversarmos sobre umas entregas que tinham sido feitas e providências a tomar sobre algumas pessoas que estavam nos devendo.
— É a primeira vez que estão nos devendo?
— Uma das quadrilhas é a de Jordas, é a primeira vez que acontece e prometeram regularizar o quanto antes. Já a outra quadrilha é a de Manolo, é a segunda vez que nos enrolam.
Parei um pouco para pensar, sabendo que aquelas eram as decisões que odiava tomar, mas o negócio me forçava a ser impessoal e decidida.
— Deem fim no Manolo, não há mais chances nem perdão. Claro que o Jordas deve estar presente para ver que a minha benevolência tem limites, inclusive que aquilo que me deve tem de ser acrescido em trinta porcento.
— Considere feito, Angel — disseram Rico e Guillermo, deixando-me sozinha na sala.
Dois dias depois, fui ao centro da cidade, precisava conversar com um dos meus líderes de fábrica que tinha chegado à cidade com informações do que acontecia na floresta. Sabia que o Mendez estava caçando a localização das minhas fábricas e precisava evitar a todo custo que chegasse a elas.
— Ramon, quais as notícias? — perguntei enquanto bebíamos uma tequila no meu espaço reservado no bar do hotel.
— Conseguimos controlar, Ángel. Achamos dois pequenos grupos de Mendez que procuravam nossas localizações pela mata, capturamos e interrogamos antes de matá-los — completou sério.
Ramon era um amigo querido, tinha por ele um carinho semelhante a Rico e Guillermo, era a minha segurança junto ao andamento das funções nas vilas para que tudo corresse como esperado.
— Mendez está se tornando uma dor de cabeça muito maior do que esperava, acredito que talvez tenhamos que lhe fazer uma visita e juntos acabarmos de uma vez com aquele idiota.
— Não é seguro que esteja conosco na floresta, Angel.
— Ramon, não é seguro para mim em lugar nenhum — disse o óbvio.
— Dê-me mais um tempo. Meus homens estão na mata e acharemos o acampamento dele.
Bebi um gole da tequila, enquanto tive uma ideia.
— Capture os olheiros e os deixe vivos, pelo menos até nos entregarem o que queremos, será bem mais fácil do que nossos homens na mata sob o risco de serem mortos, assim como fizemos com os dele.
— Pode funcionar, Ángel.
— Vai funcionar — disse, passando a nossa conversa para o próximo tópico.
Conversamos durante mais algum tempo até que fomos para um dos hotéis de minha confiança onde costumava almoçar com os amigos.
Estava à mesa com Ramon, Guillermo e Rico almoçando em um ponto discreto da varanda quando olhei para as portas de vidro e vi Daniel, no salão fechado, acompanhado do tipo estranho que esteve com ele na boate de Benício e dois homens do cartel de Juanes.
Pelo visto, o tigre estava querendo fechar mais alguns negócios, o bom que foi esperto o bastante para procurar um parceiro. Mas como sabia que não me aborreceria? Ou não se preocupou com isso? Era bom ficar de olho.
— Conversou com Daniel sobre com quem poderia negociar, Guillermo? — perguntei.
— Não, Angel, no meu entender ele só deveria negociar conosco.
— Pelo que parece, ele está querendo testar outros contatos — disse.
— Quer que fale com ele? — perguntou Rico, olhando para a mesa onde Daniel estava.
— Não na frente dos homens de Juanes. Fizemos o nosso acordo de trégua e não quero que ele pense que estou descumprindo. — Pensei um pouco e decidi fazer diferente — Pensando bem, não fale nada, Rico, vamos deixar o Daniel andar pelas próprias pernas e qualquer coisa as cortamos — concluí, bebendo o vinho.
Meus homens riram da minha piada de duplo sentido e terminamos o almoço. Enquanto Guillermo pagava a conta, Daniel se aproximou sozinho.
— Boa tarde — disse, olhando diretamente para mim.
— Boa tarde — respondi e esperei que ele continuasse a conversa.
— Bom vê-la pela cidade — disse.
— Já devia saber que com o tipo de negócio que tenho é impossível ter um balcão de atendimento — disse séria, enquanto Rico, Guillermo e Ramon seguravam o riso — Não sabia que o Juanes tinha aberto um canal 0800? — perguntei, olhando para Rico, e todos desataram a rir à mesa, enquanto Daniel estreitou os olhos em minha direção, mas depois creio que ele pensou melhor sobre ser arredio e disse:
— Negócios e alianças precisam ser fechadas, afinal é bem mais fácil vencer com o pente da pistola cheio do que com apenas uma bala — disse, fazendo o trocadilho de que eu era apenas uma bala. Foi a minha vez de olhar feio para ele. — Tenham um bom dia — disse e deu as costas.
— Parece que o tigre esqueceu quem manda — disse entredentes quando ele se afastou.
— Podemos resolver isso para você, Ángel — disse Ramon com o aval de Rico e Guillermo.
Olhei para ele por alguns segundos e respondi:
— Não, eu mesmo dou o troco dele.
Pelo visto, estava na hora de mostrar para o tigre que eu estava no controle da coleira. Coitado dele se não pagasse o meu dinheiro no prazo certo.
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Ángel
ChickLitA rebeldia e a liberdade de Carina eram os seus guias na vida, até que um dia todos os limites foram ultrapassados e se viu jogada em um mundo que para sobreviver teria que dominá-lo. Assim nasceu a Ángel, líder de um dos cartéis mais violentos da C...