DANIEL

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Não sei por quanto tempo dormi. A escuridão me dominava por mais que lutasse tentando reagir.

Nesses pequenos momentos, em que conseguia vencer a escuridão, via a Ángel ao meu lado. Ela parecia preocupada, enquanto passava um pano pelo meu rosto aliviando um pouco dos efeitos da febre.

— A febre está alta, Gui — eu a ouvi dizer, porém não consegui escutar a resposta, pois fui vencido novamente pela escuridão.

Finalmente tive forças para abrir os olhos e tomar consciência de onde estava, porque meu coração já tinha me dito com quem estava.

— Finalmente acordou — disse Ángel sentada ao meu lado na cama.

— Oi — disse com a voz rouca. — E o cara que atirou em você? — perguntei lembrando do tiro.

— Está morto. O FBI pode riscar um nome da sua lista — disse.

— Ah... onde estamos? — perguntei quando vi o amplo quarto.

— Na casa do Ramon.

Levei alguns segundos para concluir que estava sozinho, totalmente no domínio do Ángel.

— Acho que estou bem encrencado — disse, tentando me sentar, porém fui vencido por uma tontura e acabei caindo no travesseiro.

— Melhor ficar quieto — disse ela com a mão no meu peito, com a naturalidade que levava todas as minhas dúvidas para o quesito do que realmente me ligava àquela mulher.

— Está cuidando de mim — disse, relembrando suas promessas em nossa última conversa.

— Estou, em retribuição a ter salvado a minha vida e também porque preciso fazer algumas perguntas.

— Quais... perguntas? — perguntei e tive um acesso de tosse.

Ángel pegou água na mesinha ao lado e me ajudou a tomar.

— Por que Joaquim não veio com você? E por que apenas dois soldados? Diminuiu consideravelmente as suas chances de me capturar. Para completar o cenário, me protegeu de Diego.

Ela ficou em silêncio, esperando a minha resposta.

— Queria vê-la novamente, essa é a única certeza que tenho — respondi sincero.

Ángel me olhou séria. Era fato que pensava sobre o impacto do que disse. Mas, antes que ela respondesse, Guillermo e Ramon entraram no quarto.

— Pelo visto sobreviverá, policial — disse Guillermo.

Senti pela maneira que ele falou que o jogo tinha virado e que estava ali para proteger a Ángel.

— Acho que sim — disse.

— Depois do que dissermos, pode ser que a Ángel nos coloque para fora do quarto por achar que não a respeitamos como líder, mas saiba que, mesmo que ela se irrite e nos vire as costas, faremos o que vamos prometer, porque, antes de nossa líder, ela é família e não permitimos que machuquem membros da nossa família — disse Ramon.

Ángel olhou de um para o outro, franzindo os olhos, mas não disse nada, ou seja, se lhe faltou coragem em cumprir as ameaças que me fez, dava a liberdade a Ramon e Guillermo em cumprirem as deles.

— Você salvou a vida da Ángel, por isso o salvamos. Além disso sei que o que aconteceu entre vocês foi importante e, devido à realidade de cada um, ficou complicado ter uma definição de sentimentos. Porém foi a última vez que traiu a Ángel, pois estará aqui como prisioneiro. Um passo em falso, e eu mesmo puxo o gatilho — disse Guillermo.

Respirei fundo sentindo o peso daquela ameaça, principalmente quando a Ángel se manteve em silêncio, ficando neutra.

— Ángel, estamos combinados? — perguntou Ramon para Ángel.

— Sim — disse séria —, o que estão fazendo é pelo meu bem e pelo que protegemos, portanto os dois têm o meu apoio para colocar em prática o que Guillermo disse — concluiu, olhando-me.

Era fato que estava sozinho e que precisava de tempo para avaliar todas as minhas atitudes quando a Ángel estava envolvida.

— Entendo o que disse, Guillermo. Agradeço o que fizeram salvando a minha vida e posso lhe garantir que não sou louco para, diante do que me cerca, tentar qualquer tipo de gracinha — completei.

— Que bom que os limites foram estabelecidos e...

Antes que Ángel terminasse de falar, ouvimos uma batida na porta do quarto e Ramon foi verificar.

— Achamos que deve estar com fome — disse Ramon acompanhado de uma mulher morena com características indígenas

Gracias — disse.

— Essa é a minha esposa, Isabel — disse Ramon, apresentando-a para mim.

— Isabel vai lhe ajudar, porque nós três precisamos averiguar umas informações — disse Ángel, saindo do quarto, acompanhada de Ramon e Guillermo.

Fiquei sozinho com Isabel que me ajudou a recostar melhor a cabeça possibilitando que tomasse a sopa que tinha trazido.

Isabel só falava espanhol e, diante do seu sorriso tímido, achei melhor não fazer perguntas e evitar pensar além do fato de que estava morrendo de fome.

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora