Fechava os olhos e ainda não acreditava na loucura que estava metido. Virar refém de um homem como Mendez e estar preso em uma jaula no meio da selva.
Preocupava-me com a minha integridade física, mas, antes que pensasse no mesmo pela minha noiva e o resto da equipe, ocorria-me apenas que, se Mendez levasse adiante as ameaças que fez à Angel, ela estaria correndo risco de vida.
O sol nasceu e, depois de uma noite péssima, uma mulher encostou-se às jaulas em companhia de um guarda trazendo cuias com um mingau, que não sei bem definir do que era, juntamente com um pedaço de pão.
— Ela não — disse o guarda quando a mulher se dirigiu para a Ángel.
Ángel agradeceu à velha que tentou com o olhar dizer que sentia muito e, depois que eles se afastaram, vimos um grupo de aldeões serem levados para o armazém que com certeza funcionava como a fábrica de cocaína.
— Pode ficar com o meu pão — disse estendendo a mão com o pão para Ángel.
— O meu também — ofereceu Guillermo.
— Gracias Gui, porém se tentar passar pela divisória arrebentará todo o pão e assim não comemos nem eu nem você.
Observei o que ela disse e sabia que fazia sentido sua observação sobre passar o pão. O que achei graça foi a maneira como me ignorou.
— Coma — disse para Guillermo.
— Vai continuar sendo criança o bastante para me ignorar desse jeito? — perguntei.
— O Rico morreu, eu e Gui estamos presos, a Mel está sozinha com as crianças e, pela primeira vez, o Ramon está verdadeiramente ameaçado pelo Mendez. O que quer, Daniel? Quer minha simpatia? Depois eu que sou a sociopata — disse zangada.
Estava prestes a responder quando a garotinha de ontem, chamada Ángel, se aproximou e jogou dois zapotes, uma fruta típica da Colômbia, ao lado da jaula e correu para que não a perseguissem.
Ángel pegou as frutas, deixou-as próximo ao corpo e começou a comê-las, sentada em uma posição em que os guardas não conseguiam saber o que estava fazendo.
No meio da tarde, a mesma garotinha voltou aproximando-se da jaula da Ángel.
— Meu tio disse que é o máximo que conseguimos — falou, deixando uma pequena faca e correndo em seguida. Vi quando Ángel a pegou e escondeu na bota.
Anoiteceu e as pessoas foram levadas novamente para o galpão onde ficavam presas. O guarda nos deu água e se afastou. Pelo visto, era apenas uma refeição por dia, o suficiente para que não morrêssemos.
— Como você está? — perguntei à Amanda, encostando-me à grade que dividia a minha jaula e a dela.
— Estou morrendo de fome e com sono, Daniel, precisamos fugir daqui.
— A essa altura, Steve contatou o exército colombiano e Suarez deve estar fazendo as buscas. Temos que ter fé.
— Daniel, nenhum treinamento me preparou para algo assim — confessou.
— Vamos dar um jeito.
— Ou esperamos a Ángel dar o jeito — disse Thomas.
— Não transforme essa mulher em heroína — reclamou Amanda.
— Com certeza ela não é vilã — disse Joaquim, e me peguei olhando para ele pensativo sobre a verdade no que disse.
A vila estava em silêncio quando a garotinha apareceu novamente ao lado da Ángel.
— Tem como salvar a gente? Mendez vai pegar a minha irmã para substituir a Anália. Mamãe dizia que você nos salvaria — disse chorando.
Ouvi a conversa, pensando que estar na pele da Ángel naquele momento era bem difícil.
— Tenha calma. Sei que é corajosa e entende que farei o possível para conseguir a nossa liberdade, mas preciso pensar na melhor ação a tomar — disse.
— Eu sei — respondeu a menina, choramingando.
Ángel segurou a mão dela, tentando consolá-la, e nos distraímos na cena quando Ernesto nos pegou de surpresa e agarrou a garota.
— O que você está fazendo aqui, sua rata? — perguntou, puxando a menina.
— Largue-a — disse Ángel.
— Como se você mandasse em alguma coisa — gritou Ernesto.
— É uma criança e estava apenas curiosa — eu disse, ficando em pé próximo à Ángel ao lado da jaula onde Ernesto estava segurando a pequena Ángel.
— Cale a boca.
— Ernesto, o que quer para deixá-la em paz? — perguntou Ángel.
— Agora você está falando a minha língua — disse Ernesto de uma forma nojenta.
Olhei para Ángel preocupado e apreensivo, não consegui decifrar o que se passava em sua cabeça. Restava-me apenas rezar para que ela soubesse o que estava fazendo.
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Ángel
ChickLitA rebeldia e a liberdade de Carina eram os seus guias na vida, até que um dia todos os limites foram ultrapassados e se viu jogada em um mundo que para sobreviver teria que dominá-lo. Assim nasceu a Ángel, líder de um dos cartéis mais violentos da C...