DANIEL

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Fechava os olhos e ainda não acreditava na loucura que estava metido. Virar refém de um homem como Mendez e estar preso em uma jaula no meio da selva.

Preocupava-me com a minha integridade física, mas, antes que pensasse no mesmo pela minha noiva e o resto da equipe, ocorria-me apenas que, se Mendez levasse adiante as ameaças que fez à Angel, ela estaria correndo risco de vida.

O sol nasceu e, depois de uma noite péssima, uma mulher encostou-se às jaulas em companhia de um guarda trazendo cuias com um mingau, que não sei bem definir do que era, juntamente com um pedaço de pão.

— Ela não — disse o guarda quando a mulher se dirigiu para a Ángel.

Ángel agradeceu à velha que tentou com o olhar dizer que sentia muito e, depois que eles se afastaram, vimos um grupo de aldeões serem levados para o armazém que com certeza funcionava como a fábrica de cocaína.

— Pode ficar com o meu pão — disse estendendo a mão com o pão para Ángel.

— O meu também — ofereceu Guillermo.

Gracias Gui, porém se tentar passar pela divisória arrebentará todo o pão e assim não comemos nem eu nem você.

Observei o que ela disse e sabia que fazia sentido sua observação sobre passar o pão. O que achei graça foi a maneira como me ignorou.

— Coma — disse para Guillermo.

— Vai continuar sendo criança o bastante para me ignorar desse jeito? — perguntei.

— O Rico morreu, eu e Gui estamos presos, a Mel está sozinha com as crianças e, pela primeira vez, o Ramon está verdadeiramente ameaçado pelo Mendez. O que quer, Daniel? Quer minha simpatia? Depois eu que sou a sociopata — disse zangada.

Estava prestes a responder quando a garotinha de ontem, chamada Ángel, se aproximou e jogou dois zapotes, uma fruta típica da Colômbia, ao lado da jaula e correu para que não a perseguissem.

Ángel pegou as frutas, deixou-as próximo ao corpo e começou a comê-las, sentada em uma posição em que os guardas não conseguiam saber o que estava fazendo.

No meio da tarde, a mesma garotinha voltou aproximando-se da jaula da Ángel.

— Meu tio disse que é o máximo que conseguimos — falou, deixando uma pequena faca e correndo em seguida. Vi quando Ángel a pegou e escondeu na bota.

Anoiteceu e as pessoas foram levadas novamente para o galpão onde ficavam presas. O guarda nos deu água e se afastou. Pelo visto, era apenas uma refeição por dia, o suficiente para que não morrêssemos.

— Como você está? — perguntei à Amanda, encostando-me à grade que dividia a minha jaula e a dela.

— Estou morrendo de fome e com sono, Daniel, precisamos fugir daqui.

— A essa altura, Steve contatou o exército colombiano e Suarez deve estar fazendo as buscas. Temos que ter fé.

— Daniel, nenhum treinamento me preparou para algo assim — confessou.

— Vamos dar um jeito.

— Ou esperamos a Ángel dar o jeito — disse Thomas.

— Não transforme essa mulher em heroína — reclamou Amanda.

— Com certeza ela não é vilã — disse Joaquim, e me peguei olhando para ele pensativo sobre a verdade no que disse.

A vila estava em silêncio quando a garotinha apareceu novamente ao lado da Ángel.

— Tem como salvar a gente? Mendez vai pegar a minha irmã para substituir a Anália. Mamãe dizia que você nos salvaria — disse chorando.

Ouvi a conversa, pensando que estar na pele da Ángel naquele momento era bem difícil.

— Tenha calma. Sei que é corajosa e entende que farei o possível para conseguir a nossa liberdade, mas preciso pensar na melhor ação a tomar — disse.

— Eu sei — respondeu a menina, choramingando.

Ángel segurou a mão dela, tentando consolá-la, e nos distraímos na cena quando Ernesto nos pegou de surpresa e agarrou a garota.

— O que você está fazendo aqui, sua rata? — perguntou, puxando a menina.

— Largue-a — disse Ángel.

— Como se você mandasse em alguma coisa — gritou Ernesto.

— É uma criança e estava apenas curiosa — eu disse, ficando em pé próximo à Ángel ao lado da jaula onde Ernesto estava segurando a pequena Ángel.

— Cale a boca.

— Ernesto, o que quer para deixá-la em paz? — perguntou Ángel.

— Agora você está falando a minha língua — disse Ernesto de uma forma nojenta.

Olhei para Ángel preocupado e apreensivo, não consegui decifrar o que se passava em sua cabeça. Restava-me apenas rezar para que ela soubesse o que estava fazendo.

ÁngelOnde histórias criam vida. Descubra agora