Eu posso dizer que não foi fácil me convencer a descer daquele carro. O primeiro motivo foi que a música estava extremamente alta, e eu odeio sons altos, exceto que este esteja dentro dos meus fones de ouvido. O segundo é que todo mundo que me odeia está aqui. E o terceiro é o mais evidente. É a merda da casa do Henri! Se ele me vê aqui, vai me matar como já disse que faria inúmeras vezes.
Callie disse que ele estava bêbado o suficiente para nem mesmo me reconhecer quando ela passou mais cedo. Também disse que ele estava ficando com uma garota, logo não teria que ficar enchendo o saco. Mas não foi suficiente.
-Eu achei que podia contar com você.-Diz, finalmente tirando seus óculos escuros no meio do nosso dilema que eu espero que termine em voltarmos para casa e eu continuar vivo.
-Você pode contar comigo... Até para roubar um banco, se quiser, mas isso já é de mais.
-Ok. Já entendi tudo. Você não quer mais ser meu amigo, é isso.-As crises existenciais de Callie são as coisas que mais detesto nela.-Eu já deveria saber!
-Tudo bem! Eu vou para a merda da casa do Henri, mas só por dez minutos.-Reconheço que agi por impulso, mas dez minutos deve ser o suficiente para me esconder dele em qualquer canto e fingir que não estou lá. Eu não aguento tanta pressão psicológica, e a minha amiga bêbada é mestre nisso.
Quando entramos, sinto que vou levar um soco na cara a qualquer momento. A casa de Henri é grande, deve caber muito bem nós dois bem longe um do outro. E também tem muita gente espalhada, as chances de eu encontrá-lo devem ser mínimas. Os olhares de "o que diabos ele está fazendo aqui?" são constantes.
Recuso a bebida que uma menina que nunca vi na vida me oferece, e é nesse momento que perco Callie totalmente de vista. A luz que pisca constantemente não me ajuda em momento algum. Mesmo sendo seu cabelo tão excêntrico, não o encontro em lugar algum quando posso enxergar segundo sim, segundo não. A merda dessa luz me deixa totalmente tonto. Sigo na direção que acredito que ela iria, se eu tiver sorte a encontrarei antes de Henri me encontrar.Me aproximo de um corredor iluminado em um dos cantos da sala gigante, onde, pelo menos a luz não está piscando e destruindo os meus neurônios. Não tem muitas pessoas por perto. No fim do corredor em questão há uma escada, imagino aonde esta deve dar. E também imagino que Callie não está lá em cima. Mas não deixo de pensar que Henri pode ter uma câmara de tortura no seu quarto. Essa foi a pior coisa que já pensei. Seguro o riso enquanto cogito voltar para o meio de todas aquelas pessoas e procurar a minha companheira perdida dando meia volta.
E é então que eu quase esbarro com Jonz. O meu ex amigo que segundo informações, deixou de falar comigo porque sou gay, mas sem dar satisfação alguma.
Eu não quero falar com ele, mas sou quase obrigado a pedir desculpas, pelo menos.-Não esperava te encontrar por aqui.-Diz, sem mais nem menos. Eu tenho vontade de lhe ignorar. Entretanto ele não parece mais estar com medo de eu "dar em cima" dele, só olha para trás de vez em quando.
-Muito menos eu.-Respondo, sem qualquer sentimento na voz.-Estou procurando a Callie.
-Ah.-Jonz ri.-Pelo que conheço dela, pode ter ido vomitar ou algo assim.
-Você não a conhece.-Digo imediatamente. A confusão na sua cara é evidente.-Não mais, você parou de falar com a gente por um motivo idiota.
Mais confuso ainda, responde:
-O que? Como assim? Quem te contou?
Continuo esperando por uma explicação. Eu não contava com isso, mas já que tocamos nesse assunto, agora eu quero saber... E talvez dizer que eu sua atitude foi ridícula. Ele olha ao redor antes de começar a falar, como tem feito, parece estar procurando por alguém.
-Tá bom, cara. Eu vou falar a verdade.-Volta a dizer, deixando de questionar. Cruzo os meus braços esperando para enfrentar a resposta, seja ela qual for.-Só porque confio bastante em você.
-Já entendi.-Digo sem paciência.
-Foi o Henri West quem falou que eu não deveria andar com você. Eu não não tenho problema nenhum se você é gay.
Não sei o que dizer para transformar sua resposta em uma polêmica. Quando decido perguntar o porquê de seguir tal ordem, as palavras não me vêem, desaparecem. Sei que Jonz está falando a verdade dessa vez. Minhas mãos soam e quase me falta o ar após descobrir que Henri é mais estranho do que imaginei.
Jonz se afasta quando percebe alguém atrás de mim, a princípio penso que pode ser Callie, afinal, ele já foi ameaçado por ela com um canivete enferrujado. Mas não, e percebo quando viro-me para olhar.Dou de cara com quem eu não deveria encontrar de jeito nenhum. Que merda! Eu sabia que isso tinha tudo para dar errado. Henri não está muito feliz em me ver, e eu posso perceber isso muito bem. Noto que está totalmente sóbrio também.
Quando estou prestes a me explicar, já dando passos curtos para trás, esqueço como se fala.
Eu não tenho razão nenhuma hoje, afinal, estou em sua casa de penetra.
Suas mãos agarram a abertura do meu casaco e me empurram violentamente em direção ao corredor atrás de mim. Tento fazê-lo me soltar mas é impossível.
Quando me dou conta, estou em um dos cômodos daquele corredor, no banheiro da casa de Henri na companhia do mesmo. Eu nunca imaginei que essa noite poderia ficar tão esquisita.
Só me larga quando me empurra contra a parede, volta para trás e fecha a porta atrás de nós. Eu não posso fingir que não estou com nem um pouco de medo.-Eu... já estava indo...-Explico, ao mesmo tempo em que ele se aproxima e o meu olhar abaixa para não ter que encontrar os seus olhos verdes. Muito perto, talvez o seu corpo esteja até encostando no meu. Realmente está. Se sua intenção com tudo isso for me intimidar, está tomando outras proporções.
Henri está tão perto que sinto a sua respiração.
-O que merda você está fazendo?-Ele pergunta. Eu também gostaria de saber. Gostaria muito. Por enquanto, não faz menção de se afastar, agora estando a talvez uns cinco centímetros de mim.
Ele não estaria tão perto de mim se me odiasse tanto assim. Penso, mas logo expulso esse pensamento. Eu tenho que me concentrar em não morrer.-Desculpa.
Eu realmente me assusto quando ele soca a parede ao meu lado, a qual estou quase atravessando de tão encostado que estou.
-Você tá com medo?-Ele questiona, que idiota. Ouvimos a maçaneta da porta girar, e então Henri se afasta de imediato. Callie, e nunca fiquei tão feliz de vê-la.
-Olha, você não vai querer matar o único amigo que eu tenho. Eu forneço a melhor erva da cidade, mas os meus pais só me deixam sair se ele for junto, por favor.-Começa a lamentar, mostrando as mãos como quem se rende, eu queria poder rir de alívio mas ele ainda não saiu. Segue até a porta parecendo um pouco mais bravo do que antes.
-Sumam daqui. Agora.-É tudo o que diz.
Ofegante, não escondo que estou alivado, quero que Callie se sinta culpada pela fria que nos meteu.
-Cara... O que foi isso?-Pergunta, e ela realmente quer saber, afinal, presenciou a cena mais estranha das nossas vidas.
-Não sei.-Vou até a porta para sair desse lugar o quanto antes.-E não pretendo descobrir.
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Bullying
Storie d'amore"Ele me importunava todos os dias e eu chegava a perder a paciência. E foi então que eu descobri que ele queria chamar a minha atenção... mas não era somente isso o que ele queria." AVISO: possível gatilho. * violência (física e psicológica), abuso...