Capítulo 41 - Promessa

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Felizmente, Henri percebeu que eu tinha chegado ao meu limite por completo. Me ajudou a levantar e me beijou, dizendo que deveria ter pego leve. Me surpreendi, a princípio achei que ficaria irritado por não ter "terminado", mas não, sou suspeito em dizer que acho que está se esforçando mais. Ou apenas estava no seu melhor humor no momento.

E então, encontro-me deitado ao seu lado, com a cabeça no seu peito. O seu braço me envolve. O nosso impulso sexual terminou mais cedo do que eu imaginei, mas acho que isso se deve aos assuntos pendentes que temos.

Callie já está em casa, posso vagamente ouvir um pouco da sua música de rock clássico, incrivelmente, hoje não é o tipo de musica agressiva que costuma ouvir. É mais lento e suave. Combina perfeitamente com o comportamento de Henri no momento.
Eu falei que o amava, mas esse problema não tão grande o quanto parece. Culpo o calor do momento, me fez precipitar. Evito pensar nessa maldita frase que não foi dita naquele maldito dia para outra pessoa. Eu tenho evitado tudo isso.

Entretanto, eu não acho que o amo de fato, por mais que agora consiga admitir, mesmo que com dificuldade, que estou me apaixonando. Ele também não me ama, é evidente, tem muito pouco tempo que nos conhecemos de verdade.

Não vou tentar forçar essa relação para levá-la para novos extremos, sei muito bem que ele é mais sensível do que eu em relação a esse assunto.
Mas eu estou pronto, e bem. Estou muito mais do que bem neste momento, mesmo que a minha garganta ainda esteja doendo.

-Você disse aquilo...-Diz, de repente, quebrando silêncio que mostrou-se presente durante todo esse tempo. Cheguei a achar que estava dormindo, mas não. Também pensava.

-Não era verdade.-Respondo, sem dúvida alguma sobre o que ele está falando.-Eu nunca falei isso para ninguém... não tendo certeza.

-Nem para...

-Não.

Acho que entendeu o recado. Permanece em silêncio por mais alguns segundos.

-Mais alguma pergunta?-Questiono. Pois estou disposto a responder, desde que não seja sobre o assunto anterior.

-O que acha que sabe sobre mim?

Penso. Não vejo sua cara, então não posso saber o que está tramando através da sua expressão.

-Nada mesmo...

-Tem certeza?

-Sim.

-Você sabe que não pode mentir para mim.-Reafirma.-Ou...

-Eu estou falando a verdade.-Interrompo antes da sua ameaça vazia. A minha mentira arriscada o convence, ou pelo menos eu acredito que sim.-É tudo o que quer saber?

-Por enquanto...

Eu esperava que ele fizesse a mesma pergunta que eu, mas não faz. Não quer falar sobre si mesmo.

-Você... não fala muito sobre você... ou sobre o seu pai.-Não pude deixar de comentar. O quebra cabeça cedido por Callie não foi o suficiente. Mesmo que isso não seja da minha conta, é algo que me consome diariamente.

Respira fundo.

-Não é interessante.-Pelo visto decidiu inovar e não me ofender dessa vez. Parece que estamos indo bem.-Por que se importa?

-Bem... eu o conheci...

-Ele te falou alguma coisa sobre mim?!-Sua pergunta inusitada revela o seu medo de ser exposto. Não o julgo, pode ter medo de que eu desista de tudo caso saiba do seu transtorno. Entretanto, não vou dizer o que sei. Não quero que se torne inseguro em hipótese alguma.-Ele... obviamente conversou com você, né? Era uma consulta...-Ri de sua própria insegurança, porém sendo mais inseguro ainda. Tenho que admitir que desconheço esse lado seu.

Imagino se o pai conta para todos os pacientes sobre o transtorno do filho apenas para constrangê-lo.

-Não...-Sussurro.-Eu não sou de falar muito.

Respira fundo novamente, dessa vez aliviado. Posso perceber, faço isso com frequência. Me puxa para mais perto e acaricia o meu cabelo.

-Você se livrou de ouvir as maiores merdas que alguém poderia contar.

Ri novamente.

-Agora eu fiquei curioso...

-Ele deve ter contado pelo menos que a esposa o largou com um filho inútil, né?-Pergunta. Imagino o que eu teria de ouvir se tivesse me mostrado mais interessado naquele dia.-Se não, considere-se sortudo.

-Não mesmo...

-Notou que o armário de bebidas está vazio? É porque ele tomou todas e me bateu como se eu fosse o culpado por tudo.

A julgar pelas circunstâncias, Henri pode estar falando a verdade. Eu não sei que palavras usar para dizer-lhe que está tudo bem.

-E você começou a achar que realmente era...-Afirmo, como se pudesse continuar a sua história.

-O que? Não! Eu nunca fui tão ingênuo assim.

Suspiro, sentindo um leve peso na consciência por não poder esclarecer a história sobre o seu transtorno.

-Meus... pêsames.

-Eu não preciso. O maldito já conseguiu parar, mas eu continuo sendo o grande problema dele.

Meu silêncio se faz presente, e o seu também. Eu não sei o que dizer, não sou especializado nesse tipo de assunto. Tudo o que consigo dizer é que sinto muito, mas ele não quer ouvir isso. Sabe que realmente não sinto, pois não fui eu quem sofri no seu lugar.

-É a sua vez de perguntar...-Digo, de repente.

-Não quero saber. Vou acabar descobrindo depois.-Sua frieza não me surpreende e não combina nada com o calor do seu corpo.-Eu quero que me prometa...

-Prometer? O-o que?

-Que não vai esconder nada de mim. Nunca.

É uma promessa arriscada a se fazer quando já estou escondendo algo que poderia mudar tudo. Há esperança no seu pedido, e eu não quero decepcioná-lo de jeito nenhum.

-Sim...-Não penso muito antes de aceitar o seu pedido e assinar o contrato invisível. As chances de tudo dar errado são maximas, mas tudo o que posso fazer é arriscar.-Eu prometo.

Levanto a minha cabeça para vê-lo. Pode ser que eu esteja com saudades do seu olhar depois dos minutos que passei sem o ver.

-Está prometido então...-Seu meio sorriso mostra-se presente. Ergue-se um pouco para poder me beijar. Me faz esquecer por enquanto, que estou praticamente com uma corda no pescoço.

Lhe entreguei tudo -ou quase- o que queria. O que mais me resta? Uma pequena parte da minha integridade psicológica? Isso está quase indo embora. Só consigo pensar nele e nesses momentos ardentes os quais temos juntos. Como fui idiota de me apaixonar tão rápido assim?! E ainda mais sobre tais circunstâncias!
O maldito sentimento me consome o tempo todo. É como se eu estivesse caindo e só Henri pudesse me segurar, e se não o fizesse, eu poderia morrer.

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