Capítulo 43 - Sentimento

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Quartas-feiras nem sempre são felizes, então tivemos aula de física hoje, e o professor estava pouco se fodendo se os ausentes iriam perder o conteúdo novo ou não. Recusei me juntar a dupla dinâmica do nosso ex grupo para que eu pudesse me concentrar e anotar tudo, para então passar para Henri.

A culpa me consome constantemente, já que foi suspenso por minha causa. Espero que volte ainda essa semana, não só porque já quero vê-lo, mas porque não quero que corra o risco de acabar perdendo nessa maldita matéria.

O nosso encontro na segunda resultou em uma breve despedida. Não quis entrar em detalhes sobre o que estava passando de jeito nenhum, e eu respeito a sua atitude. Também economizou palavras, somente dizendo "te vejo depois". Voltei para casa, para então poder parar e pensar durante algumas horas no meu quarto, como ainda não tinha tido a oportunidade desde os últimos acontecimentos.

Depois tentei estudar um pouco, mas só conseguia pensar nele. As vezes isso se torna irritante, não cabe mais nada na minha mente.

*

-Já sei, está pensando nele.-Callie me encontra num dos bancos do pátio logo após o seu horário sagrado. Agora atento, olho para os lados. Ninguém por perto, para a sorte de nós dois.

-Para com isso.-Peço, já sem paciência.

-Qual foi... eu nem falei o nome.-Senta-se ao meu lado, abrindo a sua bolsa para pegar uma maça.-E além do mais, ninguém desconfia, não é mesmo?

Tento ter uma noção inteira sobre pessoas que podem ou não ter desconfiado de alguma coisa. Não me lembro de ter terceiros por perto nas vezes em que nós tivemos momentos íntimos. Na maioria das vezes Henri é cuidadoso em relação a isso, mas nem sempre. Acho que isso se deve ao seu transtorno que o faz se meter em situações arriscadas e depois se arrepender.

Lembro-me do diálogo que tive com Karen no dia da maldita festa, sobre o famigerado colar perdido. Ela sugeriu que eu me afastasse dele, mas não deixou transparecer, exatamente, que poderia estar desconfiando de alguma coisa. Entretanto, aquela patricinha pode ser bem mais esperta do que eu posso imaginar.

-Se você ficar calada, ninguém vai!

-Seja sincero, Kody. Você tem algum problema com isso?-Pergunta, agora séria. Me surpreende que ainda possa me fazer alguma pergunta sem ironia ou intenções ridículas.-Se não me engano, quando você estava com o Seth... E toda aquela história veio a tona, não me lembro de ter visto você preocupado assim.

-Não! Mas ele...

Interrompo a minha fala. Ela não entenderia... nunca.

-Já sei, ele é o problema.

*

Descobri que Henri fica aborrecido quando não respondo as suas mensagens ou quando demoro alguns minutos. Ao chegar em casa, respondi, avisando que estava dirigindo. Espero que tenha entendido.

Tenho pensado mais sobre tudo depois do diálogo que tive com Callie ontem. Eu sei bem que ele é o meu maior problema, mas o que eu posso fazer quando esse problema é o que me atrai? Estou ciente de que ele eventualmente faz mal para mim, mas tenho certeza de que me faz mais bem do que qualquer coisa.

Diferente de antes, a sensação de que não me aprova me sufoca de um jeito insuportável. Eu não me importava com o que pensava de mim, mas agora sim. E se ele diz que eu estou errado, procuro corrigir o erro o mais rápido possível para não estragar tudo de vez, como costumo fazer.

-Eu não sei o que vocês aprontaram, mas o Andrew parou de chantagear a Lizie depois de toda aquela treta na semana passada...-Camille nos encontra no corredor, ainda antes da primeira aula.-Que tal começar abrindo o jogo?-Sorri, como quem diz "se eu ensinei a pescar, eu mereço pelo menos um dos peixes".

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