Capítulo 53 - Preço

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Eu precisei ir para casa ainda naquela noite, um pouco mais tarde, mesmo sabendo que eu não teria concentração para estudar mais... e muito menos para dormir.

Henri saiu do seu quarto antes de mim para ver se o caminho estava livre, e então eu poderia sair sem que ninguém me visse, ou para tentar expulsar a todos, como ele mesmo disse.
Eu desci correndo as escadas indo imediatamente de encontro ao meu carro.

Eu estava convicto de que não teria imprevistos, mas tudo mudou quando me virei para olhar ao redor e ver se não havia ninguém escondido no jardim me observando. E tinha.

Quer dizer, ela não estava necessariamente escondida, e muito menos me observando. Estava com o celular no ouvido, deveria estar no meio de um assunto importante, pois precisou ir para o lado de fora.
Quando me viu sair correndo da casa de Henri e abrir a porta do meu carro, Lizie não parecia acreditar no que estava vendo. Sua expressão, por mais rápido que eu pudesse ver, foi a mais confusa possível. Bom, eu não fiquei lá para explicar o que estava acontecendo com mais uma mentira.

A realidade caiu nas minhas costas de vez quando cheguei em casa. Eu deveria estar sentido que perdi uma parte de mim, mas não consigo. Tudo o que consigo é criar expectativas e alimentá-las com tudo o que aconteceu hoje. Eu não tive medo, como quando eu estava com o meu primeiro namorado e pensava sobre isso, Henri não precisou fazer esforço nenhum ou algo do tipo para conseguir o que eu antes tanto guardava. Tenho também um pouco de receio de que tudo possa ser assim de agora em diante.

Quando deitei para dormir, ao invés de chorar como de costume, eu sorri, pois lembrei da sua satisfação, e isso também me fez satisfeito. Não sei quando a sua aprovação passou a ser tão importante para mim, mas as vezes, sinto que é a única coisa que preciso.

Ontem, o meu domingo se resumiu em tentar descobrir quem enviou a famigerada mensagem que tanto tirou a minha paz. E se enviou novamente, mas eu acredito que não, pois Henri me diria. Tive uma bela crise de ansiedade e acabei dormindo mais cedo por causa dos medicamentos.

*

-Sério? Não combina nem um pouquinho com você.-Diz Cami, quando chega até a mesa em que eu e Karen estamos no refeitório. Se refere a um livro que a outra lê, e a propósito já está terminando.

Karen tira o seu olhar do livro e a encontra.

-Não me lembro de ter te perguntado.

Tento esconder o meu riso levando o meu copo com refrigerante até a boca. Cami tem razão, mas não é bem por aí. Karen é péssima em leitura, e a professora recomendou ler livros para aprimorar ao invés de enviar mensagens ameaçando os seus exs, inclusive já a vi pular diversas páginas.

-O que não fazemos por alguns pontos no final do ano, não é?-quando arrasta a cadeira para sentar, sei que o silêncio e a paz chegará ao fim imediatamente.-Você tá bem? Não o vi o dia todo.

Quando me dou conta de que está falando comigo, largo o meu celular para tentar não parecer que estou agindo estranho. Estive mais atento do que o normal quando em relação ao meu celular hoje. Primeiro que espero alguma coisa de Henri, já que ele não deu sinal desde o sábado e quando o vi hoje, estava com os seus amigos e sequer olhou para mim. E segundo que aquela pessoa da mensagem mistériosa pode tentar se comunicar comigo, e eu espero que sim para poder esclarecer tudo de vez.

-Estou...-Respiro fundo.-São só essas provas finais... estão acabando comigo.

-Ah, é claro, como eu poderia me esquecer?-Ri, como quem lembra de algo engraçado.-Eu e o Louis nunca conseguimos estudar muito quando estamos juntos, sabe?... a gente sempre acaba se pegando e esquecendo de tudo.-Tento forçar um riso e disfarçar o constrangimento. Karen tira os olhos do seu livro e a encara um pouco.

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