Capítulo 50 - Dupla

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A famigerada aula de física chega para todos uma hora, e eu tenho medo que o professor possa pedir para formarmos os malditos grupos.

-Oi. Eu ainda não te procurei para pedir desculpas por te deixar sozinho naquela festa idiota. Eu tinha uma emergência.-Karen chega até a minha mesa enquanto eu começava a finalmente entender o conteúdo novo.

Entretanto eu deixo o que estou fazendo e volto a minha atenção para ela pois não a julgo por ter feito aquilo.

-Eu não estava sozinho.-Sorrio.

-Ah, claro, espero que ela esteja bem na clínica, ou seja lá aonde for.-Lembra. Callie vai gostar de saber que tem sido lembrada por algumas pessoas, inclusive por aquele tal de Ian, que me abordou mais cedo para perguntar sobre ela em voz baixa e quando não tinha absolutamente ninguém por perto para ouvir. Eu apenas disse que ela também não respondia as minhas mensagens.-Vi a idiota da Lizie falar com você ontem...

-É...

-Eu não contei para ela sobre vocês. Não sabia se deveria.

Eu não sei exatamente o que pensar sobre isso, só sei que não é da conta de nenhuma das duas. E que Henri me odiaria mais ainda, porém não faz diferença a essa altura do campeonato.
Dou de ombros.

-Faça o que achar justo.

O professor demoníaco e único que pede para trabalharmos em grupos levanta-se de sua cadeira, algo difícil de acontecer.

-O que estão esperando? As provas finais serão dentro de alguns dias! Quero os grupos ou duplas em formação, já que não conseguem pensar sozinhos!

-Eu posso ficar com você se quiser.-Sugere. Mas não vou aceitar. Ela sumiria na primeira emergência, e não faria muita diferença mesmo.

-Não precisa. Prometo que vou ficar bem.-Afirmo com um pouco de convicção, ela reluta um pouco antes de fazer menção de voltar para a frente da sala. Me dou conta de que os nossos grupos são os únicos que não estão juntos ainda.

-Vocês não ouviram? Eu pedi para formar os grupos!-Se refere a nós. Eu, Henri e Karen. Devagar, olho para o lado, Henri acaba de levantar com cara de quem detesta tudo o que está acontecendo.-Eu já permiti que mudassem uma vez, não vou permitir de novo. E não quero ninguém trabalhando sozinho.

Karen respira tão fundo que penso que seus pulmões vão encher e acabarão explodindo quando volta para o meu lugar e arrasta uma cadeira vazia para sentar. Cruza as pernas e os braços e fica balançando o pé de uma forma irritante.

-É... pelo visto alguém não vai fracassar em arruinar as nossas vidas.

-Eu... não tenho muitas dúvidas.

Por um instante me dou conta e agradeço a algum ser superior por Lizie não ser da nossa turma. Henri se aproxima, e como sempre, o meu coração quer sair pela boca.

-Eu iria preferir a morte.-Murmura ele quando acaba de sentar-se. Karen está como uma bomba relógio, prestes a explodir e destruir toda essa sala de aula.

-Cala a boca! Eu não vou ser obrigada a te aturar!

Não estou surpreso. Apenas escondo a minha cara com um livro e me encolho na cadeira desejando sumir.

-A porta e a janela estão abertas, não estão?-Ele provoca. Seu lado provocativo chega a ser interessante, pois é usado preferencialmente quando quer irritar alguém, e quando digo alguém, quero dizer sua ex.-Se você precisar de uma ajudinha pra vazar daqui, pode contar comigo...

-Seu monstro! Se você encostar na minha irmã, eu vou...

-Todo mundo tá indo mal pra caralho em física, certo?-Questiono, de repente, a interrompendo. Preciso acabar com isso parar evitar uma tragédia.-Vamos nos aturar por pelo menos alguns minutos.

É perceptível que Karen luta para manter a calma e quase que não consegue. O encara como se o seu olhar fosse capaz de fuzilar, ele, pelo contrário, está calmo, enquanto finge ler alguma coisa. Bem, admito que Callie era o que tinha de leve e o alívio cômico desse grupo. Agora, eu poderia sentir o clima tenso de longe.

-A Lizie é uma idiota mesmo. Ainda bem que é adotada, não posso culpar a minha genética.-Volta a dizer, surgindo de um repente. Eu lamento pelo que os meus ouvidos vão ter que aguentar nos próximos minutos, já que ela está disposta a realmente discutir.-Não consegue nem perceber que está sendo usada para provar uma mentira...

Viro-me para ela e tento dizer com o olhar para calar a boca, pois sei aonde esse assunto pode acabar chegando.

-Quanta infantilidade. Posso pelo menor foder a sua irmã em paz?-Ele volta a provocar. Finjo não ouvir isso. Me pergunto até onde vai o seu humor recorrente até que se torne aquele que costuma ser.-Essa dor de cotovelo só faz mal para você.

Quando Karen levanta-se de onde estava sentada, de repente, sinto como se uma tragédia estivesse prestes a acontecer.

-Pra mim já deu. Acho que acabei de "menstruar".-Caminha até a frente da sala para mentir para o professor e sair dessa, furiosa, e nenhuma novidade aparente.

Então me dou conta de que estou sozinho com Henri. Diferente das outras vezes, agora eu não tenho mais certeza se sei ou não lidar com ele. Entretanto não deixo de pensar que era isso o que queria.

-O que disse para o meu pai?-Pergunta de repente, não me dando a chance de pensar numa possibilidade de fazer a mesma coisa que Karen fez. Tento parecer confuso.-Vi vocês conversarem ontem, e de repente ele decidiu que nós deveríamos ser amigos...

-Não falamos sobre você.-Afirmo.

-E não deveriam.

Não deixo de pensar em como o nosso acordo indireto está sendo cumprido. Não tenho dúvidas de que o Dr. West gosta mesmo da minha mãe. E de como ele é egoísta, é claro, se Henri realmente for perigoso como ele dizia, acabou de dar carta branca para ele me prejudicar, como também dizia. Tenho convicção de que tudo era uma grande armação para acabar com as amizades do próprio filho -ou pelo menos as que restassem- a troco de nada.

-Desculpa... por ter ido até a sua casa naquele dia...-Começo a dizer algo estúpido de repente.-Eu não deveria...

-Você sabe muito bem como deve me pedir desculpas...-Me surpreende, lembro bem do que sugeriu um dia e aquele maldito frio na barriga volta.

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