Capítulo 56 - O Maldito Baile

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O frio na barriga sempre mostra-se presente quando lembro-me do maldito baile e do que provavelmente acontecerá ainda nessa noite. Minha cabeça dói e tenho falta de ar constantemente. E acontece principalmente quando lembro que não fiz nada para impedir.

A semana fez questão de passar rápido, e eu não consigo lembrar de como nem percebi que já acabaram as provas. Devo ter sido uma negação nas últimas. A questão é que não tive mais a oportunidade de conversar com Henri desde a terça-feira, quando houve aquele incidente envolvendo o diretor do colégio e o seu punho.

Eu o vi antes de ontem, quando eu e a minha mãe fomos a um jantar improvisado em sua casa.
Eu não queria comer mesmo, e muito menos ouvir as declarações sem graça ou planos de viagem. Falei que iria até a casa de Callie saber como ela estava com o seu pai. Mas eu obviamente não fui.

Subi as escadas e ele já esperava por mim. Nenhuma palavra foi dita, sabíamos exatamente o que fazer. Posso dizer com clareza que achei que transariamos, mas isso não aconteceu. Estava muito arriscado, e eu tinha fé de que teríamos outras oportunidades... antes de tudo desabar, já não sei se teremos.

Desde então, a única informação que tive sua foi uma mensagem que respondeu dizendo estar bem. Uma única mensagem, contra diversas as quais enviei. Segundo uma fonte segura, ele foi expulso do colégio e o seu pai tentou converter a expulsão em suspensão alegando que Henri não estava bem no dia. Eu aposto que colocou toda a culpa no famigerado transtorno de personalidade, mas é evidente que teve envolvimento no seu estresse naquele dia.

Não há milagre que me faça levantar hoje. A manhã de sábado parece tão sombria, talvez porque tenho certeza de que acontecerá uma grande tragédia ainda hoje. Eu não sairei desse quarto nós próximos dias.

Ouço a minha mãe me chamar na porta do quarto, pede para eu descer. Sua tão falada viagem será hoje, se isso for algum tipo de despedida organizada, eu vou pedir logo que me poupe. Mas pela sua insistência parece ter grande importância. O que seria mais importante que a sua viagem a qual fala a cada dez minutos?

Eu não vou ceder.
Me cubro novamente. Mais tarde eu posso pensar em levantar para pegar algo para comer durante a minha hibernação, mas por enquanto eu estou bem. Penso também em evitar o celular, pois não quero ter que dar uma entrevista de primeira mão e com exclusividade para Camille, ou dar de cara com as prováveis postagens sobre o evento que provavelmente acontecerá. Cada pensamento me deixa um pouco pior do que o outro. Acho que vou acabar morrendo.

-Sai daí seu idiota, tem quase uma hora que eu estou te esperando lá em baixo!-Sou praticamente obrigado a sair do meu casulo quando ouço a voz de Callie na porta do meu quarto. Não é possível, se eu não estiver alucinado, deu um jeito de fugir. Entretanto a minha surpresa é maior quando posso reparar que já não parece mais um zumbi, deve ter banho de sol naquele lugar, bem como um presídio. Também não está mais cadavérica, provavelmente tinha comida por lá também. E seus cabelos estão penteados, o que é a surpresa maior para mim. Definitivamente não está mais parecendo alguém que troca a água do café por vodka.

-O que aconteceu com você? Eu quero a Callie de volta.-Brinco, dá um sorriso falso e entra no quarto. Me pergunto como alguém pode mudar em tão pouco tempo.-Quantos exorcistas tinham por lá?

-Isso não é engraçado. O meu pai me fez pintar até a porra do meu cabelo. Eu tô me sentindo uma borboleta sem asas.-Acaba rindo também. Começo a me levantar para saber dos seus problemas e esperançosamente esquecer uma parte dos meus. Só então reparo na cor do seu cabelo preso. Definitivamente uma borboleta sem asas.-Eu acho que vou enlouquecer. Mas até que é divertido.

-Agora eu posso olhar para você sem pensar que estou assistindo uma serie de zumbis. Veja pelo lado bom.

-Ah, cala a boca. Eles só me deram dicas de como me vestir.-Pela convicção em que diz eu poderia até acreditar. O lugar está fazendo bem para ela, e sabe muito bem disso, só tem dificuldade para admitir.-Eu esperava mais. Tipo uma lobotomia.

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