Capítulo 39 - Distração

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Dessa vez o meu sábado não se resumirá em assistir filmes e dormir o dia todo. Estou prestes a sair.
Como já era de se esperar, Henri foi suspenso pelo resto da semana, e por parte da semana que vem mais uma vez, e se isso ocorrer novamente ele pode ser expulso. O professor de física teve um ataque de nervos dizendo que sua turma está indo por água abaixo e que isso prejudicaria a sua reputação profissional.

Eu concordei que ajudaria Henri passando o conteúdo perdido só para que ele parasse de gritar comigo, e acho que todo o resto da sala me agradeceu silenciosamente.

A ultima festa de Callie não foi como a anterior, foram só alguns adolescentes desocupados bebendo no meio da semana sem motivo algum. Nada de grande escala ou que passasse dos limites. A polícia fez com que terminasse antes das dez.

A coisa mais interessante que eu posso até lamentar ter perdido foi que aquele tal de Ian do time apareceu por lá, foram para o quarto mais uma vez, mas não aconteceu nada. Callie só queria gravar a sua declaração sobre como aquela transa tinha sido boa, sobre a necessidade que ele tinha de dizer que estava bebado, e como queria fazer novamente. Não fizeram, ela deu um jeito de reproduzir o som gravado no celular, na caixa de som. Quem estava lá, ficou sabendo de tudo, quem não estava, como eu, também.

Quando estou prestes a sair, observo que a minha mãe também está. Pelo visto andou faltando no trabalho novamente, se não estiver de licença, eu realmente estou bem por fora dos assuntos dessa casa. Decido perguntar para onde está indo. Mesmo não me importando muito.

-Vou me consultar com o Dr. West.

-O que?!-Pergunto, meio indignado mas tentando não parecer.-Mas... você nem está doente.

-Eu caí e fraturei a minha coluna no trabalho, querido, achei que tinha contado para você.-Coloca a mão na parte inferior das costas quando chega a escada, apoiando-se na parede. Ela nem deve estar tão mal assim. Sempre teve uma saúde melhor do que a minha, mas tem se preocupado mais do que o necessário com isso desde que o meu pai morreu.

Por um minuto, me ocorre todo o risco que corro a respeito de a minha mãe estar indo se consultar com o pai de Henri. E se ele disser que o filho pode ser uma ameaça para mim? A minha mãe começaria a me lembrar disso todo santo dia. Eu não quero me afastar de Henri... pelo menos não agora!

-Mas... tem milhares de outros consultórios por perto.-A sigo enquanto desce os degraus da escada devagar, como se estivesse uns trinta anos mais velha.-E a consulta com o Dr. West é muito cara!

-Eu pedi um adiantamento. Se for sair, tenta voltar antes do jantar e leva a sua irmã para a aula de balé depois do colégio.-Alcança a porta com dificuldade enquanto continua me ditando tarefas.

Eu já não posso evitar, qualquer esforço seria em vão. Não consigo nem inventar uma mentira.
A única parte boa é que tenho total certeza de que o pai do Henri não estará em casa durante essa tarde.

*

Não bato na porta, e muito menos toco a campainha. Também não avisei que viria, não tenho o seu número, e também não sei se deveria ter.
Callie me disse de manhã que passaria o dia todo e talvez a noite foragida por conta dos seus pais que encontraram a bagunça na casa dois dias atrás, então não haveriam riscos de deixar o meu carro por perto. Não penso muito em fugir agora, mas acho que é cogitável.

A porta não está trancada, como quase sempre. É como se ele sempre esperasse alguém. Quando abro, entro e a fecho atrás de mim, observo o quão monótona e silenciosa é a sua casa. Não que a minha também não seja, tirando o fato de a minha mãe viver chorando de repente.

A porta destrancada é um dos sinais de que ele está aqui, mas só então tenho certeza. E essa certeza é causada por um barulho vindo do corredor, em meio ao silêncio.
Posso ouvir melhor enquanto caminho até lá.
Por algum motivo, não tenho mais medo da reação que terá ao me ver. E também não me importo... eu só quero vê-lo.

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