Capítulo 36 - Importância

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Aula de física ainda é sinônimo de medo para mim. O professor insuportável ainda não se deu conta de que é mil vezes mais difícil aprender com outras pessoas tirando a concentração por conta de um maldito grupo. No meu caso, agora dupla, já que o destino foi extremamente cruel comigo. Eu não quero lidar com as provocações de Henri, ele sabe muito bem como me atingir. Também não quero dar um basta nisso, já que parte de mim esperou ansiosamente por esse momento a sós com ele. Eu tentei colocar na minha cabeça que tenho que sair dessa, tentei eliminar as minhas expectativas por completo, pois isso nunca iria dar certo. Eu ainda tenho medo do seu comportamento explosivo e possessivo.

-Eu juro que tentei conversar com a patricinha para voltarmos ao grupo, mas ela não concordou.-Callie tenta me consolar, provavelmente ao ver a minha cara insegura ao levantar da cadeira onde estava, a minha frente.

Não deixo de notar a impaciência de Karen na frente da sala. Não deve estar sendo fácil lidar com Callie e suas indiscrições, mas com certeza deve ser mais fácil do que com Henri.

-Eu entendo.-Digo, com um pouco de lástima e rancor.

-Eu sei que não vai ser tão ruim assim.-Finalmente segue até a frente da sala para ir de encontro a Karen antes que eu a expulse. Eu acho que deveria fingir que estou doente, ou sei lá, assim escaparia dessa aula.

Mas pensando bem, do jeito que a minha mãe é paranóica, ligaria para o Dr. West imediatamente. E ele é mais alguém que eu não quero ver tão cedo.

-Acho que não dá para escapar agora, não é?-Diz, se aproximando. Começo a folhear o livro que está sobre a mesa, minha insegurança faz isso por mim quase que automaticamente. Henri arrasta a cadeira, colocando-a a frente da minha mesa e senta-se.-É ridículo e engraçado como você sempre tenta fugir.

O tão conhecido frio na barriga que tenho quando Henri está por perto volta a se mostrar presente. Desisto do livro. Ele já percebeu que não consigo me concentrar mesmo.

-Eu cansei disso.-A minha voz quase não sai. Talvez seja porque não estava nos meus planos dizer isso.

-Não sei do que está falando.-Sua expressão não muda e continua agindo como se nada tivesse acontecido.-Se for sobre a matéria, eu também.

-Eu estou cansado de você.-Decido arriscar. Eu realmente não estou, apenas de como sua personalidade pode ser insuportável as vezes. Antes de qualquer coisa, eu preciso descobrir se em alguma hipótese, Henri se importaria com o que eu acho dele.
Dessa vez, ele se aproxima um pouco para poder responder, apoiando os seus cotovelos na mesa.

-Que ótima notícia.-Nele, não há nada além de frieza. Não tento fingir que não estou impaciente. Concluo que é definitivamente impossível ter um diálogo maduro com Henri.-O que te fez achar que eu me importo com você?

Ri.

-Esquece...-Volto para o meu livro, mesmo sabendo que não vou conseguir raciocínar o que estou lendo e que posso me dar muito mal nas provas. Só consigo pensar nos meus sentimentos destruídos antes mesmo de existirem. Acabei de ouvir o que precisava: nunca irá existir um "nós", eu gostaria de obter de volta todo o tempo que perdi pensando nele e nas mil hipóteses de perdoa-lo, afinal, sou bom nisso. E também o que perdi pensando naquelas situações inusitadas as quais estivemos juntos, as quais sempre me deixam com um certo frio na barriga só de pensar. As noites de insônia pensando naqueles malditos beijos também seriam uma boa, eu poderia ter dormido bem mais.

O mais esquisito é a sensação diferente de qualquer coisa que eu já tenha sentido antes.

Não acho que eu esteja apaixonado, inclusive não quero que isso aconteça em hipótese alguma, deve ser só um pouco de carência. Tudo aconteceu tão rápido, e também teve a morte de Seth e tudo mais. Eu estava vulnerável, e pelo visto ainda estou.

-Por que entrou no escritório do meu pai?-Sua pergunta repentina não tem nada a ver com o assunto anterior. Eu gostaria que tivesse.-Você o conhece...

Suas afirmações são uma armadilha. Quando Henri quer muito descobrir alguma coisa, ele não pergunta. Imagino o porquê de querer saber sobre isso. Deve achar que corre riscos do seu pai me contar, em uma situação improvável, quem realmente é e porque age como tal. Acredito que isso sim, mostra que ele se importa com o que eu acho. Henri é tão esperto e tão ingênuo.

-Eu... só estava procurando o banheiro.-Depois que o digo, lembro do nome que havia na porta do escritório. Sinto vontade de bater na minha própria testa.

-Mentira. Você sabia exatamente aonde estava.-Pelo menos agora, além de apreensivo, parece um pouco (bem pouco) preocupado. Desmentido o que disse antes. Pelo visto eu não sou o único ruim em fingir aqui.-E o seu nome estava na lista de atendimento dele.

Suspiro. Se eu preciso acabar com tudo isso, também preciso contar a verdade, ou pelo menos parte dela.

-Sim. Eu me consultei algumas vezes, mas acho que isso não deveria ser da sua conta.

-E porque foi até o escritório?

-Minha maldita curiosidade!-Tento manter o tom calmo.-Está satisfeito?

-Ainda não...

-Não conversamos sobre... você.-Volto a falar mais baixo do que deveria, adiantando o que imagino que ele perguntaria em seguida.-Se é isso o quer saber.

-E porque falariam?-Dá de ombros, cruzando os braços.-Por acaso eu estou te incomodando no colégio ou algo assim?

Seu tom de ameaça é meio irrelevante. Então é isso? Ele tem medo que eu conte sobre como costuma me encher o saco?

-Não...-Tento focar no livro para acabar logo com esse assunto.-Você não se importa comigo, como disse.

Levanta-se da cadeira. Não consigo distinguir ao certo se está irritado ou não. Mas por que estaria?

-Se não tivesse ido embora, eu te mostraria o quanto me importo.

Imagino que esteja falando sobre o sábado. Eu me torturei algumas vezes por ter ido embora, mas me dei conta de que foi a melhor coisa a se fazer. Não posso continuar alimentando essa incerteza.

O observo enquanto sai da sala após pedir permissão ao professor. Porque ele não pode simplesmente sair assim da minha vida?

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