Ao abrir os meus olhos, me dou conta de que preferia nunca mais fazer isso.
Minha cabeça dói bastante, e o meu corpo também. Meu olhar meio embaçado corre por todo o quarto de Callie. Sinto-a na sua cama ao meu lado. Bem, pelo menos sei que (por enquanto) estou salvo, mas não posso dizer que estou são.
O relógio analógico na sua mesinha de cabeceira diz que são sete e meia da manhã. Tudo o que consigo ver antes de levantar e correr até o banheiro mais próximo para vomitar. Sai como jatos, chega a ser assustador. E acabo de colocar na minha cabeça que nunca mais vou consumir álcool novamente.
Minha cabeça está explodindo, mas ainda assim tento pensar. Juntar peças de uma quebra cabeça gigante para descobrir o que aprontei ontem, momentos depois de agir como se a minha vida estivesse no fim.
Me lembro de ter bebido mais um pouco com Karen naquele mesmo lugar. Eventualmente, eu o procurava, e ele sempre estava por perto, inquieto, parecia querer ir embora, porém não podia. E foi então, que com o tempo, eu já não o encontrava mais. Isso porque minha visão estava turva, e eu mal conseguia dar um passo sozinho. Descobri que sou fraco quando em relação bebidas alcoólicas da pior forma possível.
Tudo o que tenho em mente são pequenos flashes de memória. Lembro vagamente de algumas coisas e chego a me questionar. No meu braço, posso ver uma nova marca de dedos. Isso me faz lembrar que Henri agarrou-o firme ontem, mas não me recordo o motivo.
Eu posso ter acabado com tudo. Destruído todas as mínimas chances que tinhamos de voltar, e nem me lembrar de nada. O que faria a minha culpa ser maior.
-Está cedo para ter uma crise.-Ouço Callie dizer na porta do banheiro. Deve ter uns vinte minutos que estou aqui, vomitando e tentando recordar de tudo.-Não se preocupe, eu sou o seu anjo da guarda.
-Me diz... o que aconteceu ontem.-Tento levantar o olhar com dificuldade. Minha cabeça ainda dói bastante.-Mas diz com calma, por favor...
Ela ri, já posso imaginar que acabei sozinho comigo mesmo. E as coisas que posso ter feito na sua ausência?! Meu Deus!
-A Karen descobriu que o novo namorado estava traindo ela numa outra festa e simplesmente vazou.-Dá de ombros, seguindo até o espelho para encarar sua maquiagem dormida que não foi retirada.-Você começou a me ligar, e eu larguei o Ian só de cueca no quarto dele para ir te procurar como uma louca!
-L-lamento...-Digo, sem muita sinceridade. Até aí tudo bem.
-Te encontrei sentado em um canto, chorando e com uma garrafa de vodka do lado, praticamente inválido.
-Ufa.-Suspiro, tentando me levantar. E é então que volto a ter medo, quando Callie olha para mim, como quem diz "acha mesmo que acabou?!".
-Te arrastei até o carro e o Henri estava lá fora, acho que tinha ido levar aquela garota em casa. E sinceramente, não sei por quê voltou.
Volto a minha atenção completamente para ela, que no momento remove a sua maquiagem, ou pelo menos parte dela.
-E... eu...
-Você foi até ele e o abraçou.-Revira os olhos, sorrindo logo em seguida.-Disse que estava com saudades.
Minha mão automaticamente bate na minha própria testa e começo a andar de um lado para o outro. Eu costumo fazer isso quando estou extremamente nervoso. Não tenho certeza se quero saber o que aconteceu em seguida.
-E... o que aconteceu em seguida?
-Bom... pode me agradecer por estar por perto para te segurar, pois ele não gostou nada disso.-Ri, saindo do banheiro. Eu a sigo, esperando que tenha acabado por aqui.-Eu juro que nunca vi uma relação tão estranha na minha vida...
-E aí você me trouxe para casa... e acabou, não é?
Quando entramos no seu quarto, corro para a janela imediatamente. Dou de cara com a sua cortina fechada.
-Querido, eu estava chapada. Chapadíssima. O Henri nos trouxe. E você só precisou pedir uma vez.
Suspiro. Acho que parou por aí, para a minha sorte. Eu não quero nem saber o que rolou durante o caminho. Admito com todas as letras que foi uma baita irresponsabilidade da minha parte. Isso nunca mais vai acontecer novamente, pois tenho quase certeza de que tudo o que fiz foi irritá-lo mais ainda.
-Você já disse que o ama e eu só fiquei sabendo ontem.
-O que?!-Abandono a janela imediatamente. Pelo visto ainda tenho mais verdades para encarar.-Como assim?!
-Você ficou calado durante o caminho, por incrível que pareça. E só foi fácil de suportar por causa do som maneiro que tem naquele carro. Eu ainda vou roubá-lo um dia.-Volta a rir, me sinto obrigado a revirar os olhos. Eu posso até imaginar.-Quando chegamos, você demorou um pouco para descer. E tenho certeza que ouvi você dizer "eu falei que te amo, lembra?".
-Isso é coisa da sua cabeça.-Pego o meu celular, que por sorte ainda está no meu bolso e com carga e envio uma mensagem para a minha mãe vir me buscar. Posso ir buscar o meu carro mais tarde, se o guincho não tiver sido mais rápido. Ainda não estou em condições de dirigir.
-Bom, espero que não tenha sido. Foi tão fofo, apesar dele ter te ignorado e mandado cair fora.
Fecho a porta do seu quarto após sair. Eu não quero mais saber de nada relacionado a ontem.
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Bullying
Romance"Ele me importunava todos os dias e eu chegava a perder a paciência. E foi então que eu descobri que ele queria chamar a minha atenção... mas não era somente isso o que ele queria." AVISO: possível gatilho. * violência (física e psicológica), abuso...