Eu não estou acostumado com perdas de pessoas. Na verdade, entre pessoas próximas, eu só tinha perdido o meu pai, até então, não posso dizer que tenho experiência e sei como lidar com esse tipo de coisa, porque eu não sei.
Continuei na linha com Seth, ouvindo nada além da sirene de ambulância chegar, depois disso, alguém encontrou o seu celular e desligou a chamada, eu não tive coragem para fazer. Continuei com o aparelho colado no ouvido por mais ou menos vinte minutos, em estado de choque e parado. Não caíam lágrimas dos meus olhos e as minhas mãos não paravam de suar. Minhas pernas tremiam também, por isso voltei a sentar na minha cama.
Por culpa da minha agorofobia, permaneci pelo resto da noite no meu quarto sem ter ideia do que tinha acontecido. Só sabia que houve um acidente... e que a vida ainda não tinha me feito sofrer o suficiente.
Eu não dormi naquela noite, mal conseguia fechar os olhos. Não me acalmei nem por um instante, e tudo isso no meu silêncio desconfortável e torturador. Eu não saíria para ir atrás de Seth, os pais dele me expulsariam do hospital na certa, e também, eu não queria envolver a minha mãe nisso dando satisfação de onde eu estava indo, ela tinha outras prioridades naquele momento além de se importar com eu estar literalmente surtando.Não larguei o celular nem por um segundo. Eu só queria que ele me atendesse e dissesse que estava tudo bem, que não tinha se machucado muito, e que me amava... como sempre fazia. Eu estava pronto para responder a mesma coisa imediatamente.
As horas passaram e nada tinha mudado. E foi na noite de domingo que, por um instante, venci o pânico e decidi que iria até a casa dele, seus pais não sabiam que éramos namorados, eu poderia, sei lá, dizer que somos da mesma escola. Achei justo mentir para o bem pelo menos uma vez. Eu então me dei conta de que a noite estava mais fria que o normal. Vesti o meu casaco e desci as escadas torcendo para a minha mãe não perguntar para onde eu estava indo. Mas o que aconteceu foi muito pior;
-Querido?-Ela disse, quando eu já estava com a mão na maçaneta da porta, prestes a sair de casa. Ela segurava o iPad e sua expressão era de quem estava horrorizada. Dei a meia volta um pouco impaciente, não sabia o que esperar.-Olha. Não é o seu amigo? Acho que já o vi aqui uma vez.
Quando olhei para a tela, senti uma das piores sensações da minha vida. Lá estava uma foto de Seth, provavelmente tirada no colégio, ele estava sorrindo. Com a notícia do acidente logo abaixo. Movi minha mão trêmula até a tela e rolei para baixo pra ler o resto da notícia, e lá estava dizendo que ele tinha falecido no fim da tarde por consequência de uma complicação na respiração. A notícia tinha sido publicada minutos atrás.
Minha mãe deve ter percebido que mudei de cor, afinal, voltou o tablet para si mesma e só então leu o resto da notícia. Eu caminhei de volta para a escada, totalmente em estado de choque. A cada passo, eu sentia como se tivesse uma tonelada de culpa nas minhas costas. Talvez se eu não tivesse ligado naquela maldita hora, Seth não teria perdido a atenção no trânsito. Eu não o merecia, e sua morte foi totalmente minha culpa.
-Meus pêsames, querido!-Eu ignorava as palavras de consolo da pessoa mais inconsolável que conheço enquanto subia os degraus sentindo como se tivesse uma cachoeira atrás dos meus olhos prestes a fazer meu quarto transbordar e me matar afogado.
E foi mais ou menos o que aconteceu quando entrei e fechei a porta.
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Bullying
Storie d'amore"Ele me importunava todos os dias e eu chegava a perder a paciência. E foi então que eu descobri que ele queria chamar a minha atenção... mas não era somente isso o que ele queria." AVISO: possível gatilho. * violência (física e psicológica), abuso...