Capítulo 28 - Impulso

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Fiquei escondido dentro do banheiro e de porta trancada quando descobri que tinha alguém transando no quarto de Callie depois que eu saí durante um minutinho. Deve ter meia hora que estou aqui. As vezes ignoro as batidas na porta, eu lamento pelas bexigas alheias.
Todos os "convidados" foram intimados a trazerem bebidas de todos os tipos, o que significa que isso pode dar problema. Uma casa cheia de adolescentes bêbados e com uma música tão alta que me causa enxaqueca é tudo o que há de mais errado.

Desde que Karen deixou um enigma para eu resolver, continuo confuso. De vez em quando penso que Henri não tem nenhuma sensibilidade, mas ele continua usando a tal corrente que sua mãe lhe deu quando o abandonou, isso deve significar alguma coisa. Não discordo de Karen, ela está certa em me aconselhar a me afastar, eu também me aconselho a isso, e espero que eu o faça, mesmo ainda pensando tanto nele.

Decido deixar o banheiro quando parece que alguém vai derrubar a porta, saio ignorando a pessoa em questão que me olha de cara feia.
Desco as escadas imaginado como Callie pode ter providenciado essas luzes que piscam e me cegam. Também tento imaginar de onde saiu tanta gente, tem pessoas que nunca vi nem no colégio. Gente se pegando por todos os cantos, alguém vomitando num balde, garotos dançando sem camisa e outras barbaridades. Esse é definitivamente o tipo de lugar que eu odeio estar.
Não encontro a anfitriã em lugar nenhum, nem mesmo na cozinha, onde também está quase lotada de gente. Por sorte (ou talvez nem tanto) encontro Cami atrás do balcão. Seu namorado está ao seu lado, é bom que não estejam se pegando como os demais casais aqui presentes. Ela o deixa e se aproxima antes que eu chegue lá.

-Não tem mais onde enfiar tanta gente! Eu tô pra enlouquecer! Onde você estava?-Fala um pouco mais alto no meu pé do ouvido para que eu ouça em meio a música ensurdecedora. Tenho que admitir que estou surpreso. Amanhã ainda é sexta, e todos estão agindo como se as férias tivessem chegado.

-Estava no quarto. Mas saí porque tem alguém se divertindo lá dentro.-Respondo no mesmo tom.-Viu a Callie em algum lugar?

Camille ri. Que droga, o que eu perdi durante esse tempo?

-Ela é quem está se divertindo.-Diz.
Me afasto com uma expressão de assustado. É como realmente estou, não consigo imaginar aquele ser de cor verde fazendo sexo, e nem quero.

Também não quero imaginar quem seja o sortudo, só vai aumentar o meu trauma. Me afasto, andando de costas e com a mesma expressão enquanto Camille se acaba de rir.
Volto para a sala, tentando apagar as imagens de horror explícito que criei na minha mente. Tem tanta gente que mal consigo sair do lugar. Encontro Karen, está no sofá conversando com um cara, não parece nem um pouco preocupada, na verdade parece até estar aproveitando a situação. Para quem provavelmente precisou ser chantageada para comparecer, ela parece bem.

Fico entre ir e não ir falar com ela. Não é uma boa hora para dizer que decidi largar o colar no mesmo lugar em que encontrei quando voltar ao colégio. Bem, é melhor não, mesmo.
Vejo que a mão do garoto mais velho ao seu lado alcança a sua coxa e começa a subir devagar.
Todo mundo está pervertido hoje ou é impressão minha?
Estou ficando sufocado. Detesto estar no meio de tanta gente assim, com a luz oscilando e todos esbarrando em mim. Preciso tomar um ar para decidir o que vou fazer, já que larguei a minha mochila no quarto onde está acontecendo a coisa mais assustadora que o meu cérebro pode imaginar.

Estou abrindo caminho para a porta aberta para poder sair. Minhas pernas travam quando o vejo. A princípio fico meio confuso, a luz permanece piscando e não consigo nem raciocinar direito, mas tenho certeza de que é ele.

Me afasto antes que me veja, parece procurar por alguém. Na verdade, parece que veio aqui exclusivamente a procura de alguém em específico.
Meu olhar apreensivo o segue até o sofá onde Karen está sentada. Ela revira os olhos e levanta-se aborrecida quando o vê. Cruza os braços e ouve o que ele diz. Ele não se esforça muito mas parece querer convencê-la de algo. Sua expressão permanece fria enquanto ela está irritada pra caralho.
Mexe a cabeça negativamente e ele sai. Não deixo de notar as pessoas do colégio que o olham, impressionadas.
Eu gostaria de ter ouvido o diálogo, por mais que não seja da minha conta. Eu gostaria de ter certeza de que ele não tem razão.

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