Capítulo 17 - Imprevisto

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Hoje é sábado, convidei Seth para sair e ainda não decidi se isso é bom ou ruim.

Eu ainda não sei lidar com a minha confusão sentimental e com o que aconteceu dois dias atrás, não quero ter que mentir dizendo que nada mudou. Eu odeio sentir mil coisas e não falar quase nada.

-Vou te buscar as oito, tá bom?-Seu entusiasmo em me ver me deixa ainda mais deprimido por não poder retribuir do mesmo jeito. Ainda bem que estamos ao telefone e ele não pode ver a minha cara de "isso não é uma boa idéia, mas você é tudo o que tenho e eu não posso te perder".

-Tá bom.-Tento responder no mesmo tom.

-Ok, até mais tarde então.-Continua na linha mais um pouco.-E... eu te amo, não esquece, tá?

É tão inesperado que não sei o que responder para que possamos encerrar a ligação. Eu acho que as pessoas deveria avisar antes de dizer essas coisas, tipo, "eu vou dizer que te amo, pensa aí no que responder".

-Eu também.-É tudo o que sai da minha boca.

*

Outro assunto que tem martelado na minha cabeça, é a informação que Cami me "passou" ontem.

Eu a chamei para conversar (sem Callie por perto) e pedi desculpas pela forma que agi, eu sei que posso ter agido por impulso, mas eu precisava saber do que se tratava aquela fofoca que ela tinha para contar sobre Henri. Não que eu vá usar contra ele um dia, foi só para juntar algumas peças... se for possível.

A garota mais sonsa que conheço riu e então começou a dizer:

-Sabe... a Karen é muito minha amiga e confia muito em mim.-Lutei comigo mesmo para não revirar os olhos nessa hora.-Ela ficou com o Henri e tudo... e rolou aquilo lá que eu te falei.

-É... o que mais?-Tentei não parecer muito interessado. Ela olhou ao redor, mexendo no seu cabelo loiro oxigenado.

-Eu sei que parece loucura, mas a Karen não mentiria.-O suspense desnecessário me fez querer dormir, mas eu não podia.-Ela disse que encontrou vídeos de pornô gay abertos no computador dele.-Sussurrou tão baixo que tive dificuldade para ouvir.-Mas não temos certeza, pode ter sido um dos garotos para sacanear com ele... sei lá... essa história é estranha.

Assenti, concordando que a história é realmente estranha. Por mais idiota que seja, alguém pode ter tentado sacanear com ele dessa forma... mas o Henri é a última pessoa que eu posso imaginar como sendo algo além de heterossexual, não faz o menor sentido, mesmo que ele tenha me beijado, pode ser uma curiosidade (estranha) dele, ou o mais provável, pode estar tramando algo tão perverso que eu não consigo nem imaginar. Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo, mas pretendo manter o máximo de distância dele.

*

Já são quase oito horas e eu nem estou pronto ainda. Na verdade, eu nem sei se vou, se eu soubesse que sair numa noite de sábado não significaria tanto para Seth, eu mandaria uma mensagem dizendo que estou doente... merda, mais mentiras.

Lilian aparece na porta do meu quarto me informando através de sinais que aquele homem feio está lá em baixo com a mamãe. Concordo com ela imediatamente na parte do "feio", mas não digo que ele contribuiu com a destruição da minha vida quando me mandou para aquele treino.

Meu celular vibra e por um segundo penso que deve ser uma mensagem de Seth desmarcando. Mas não é.

"Babado FORTÍSSIMO sobre o meu vizinho"

Só podia ser Callie, a mensagem vem acompanhada de uma imagem. Tem uma garota só de sutiã no quarto de Henri? Estreito os olhos ao olhar para a foto.
Estou minimamente incomodado e nem sei porque. Talvez eu não queira saber o que está rolando no quarto dele e ponto final. Eu não quero saber dele.
"Me poupe" respondo.

Imagino que Seth já esteja saindo de casa. Eu não quero sair, que merda. Por que diabos eu fui dar a idéia?!

Eu não quero ver ninguém e não sei como vou agir na sua frente. Eu não sei como não mentir para ele, e eu detesto mentir para ele. Não sei como vou reagir quando ele me contar sobre como a sua semana foi perfeita, e sobre como a semana que vem também será. Não sei como vou reagir quando ele me perguntar no que estou pensando no momento, porque é provável que eu não esteja pensando nele, por mais que eu o ame (pelo menos acredito amar).
Eu não posso mentir mais, se eu quero desmarcar, tenho que falar a verdade.

Disco o seu número no meu celular e sou atendido imediatamente.

-Oi?-Diz.-Estou no meio do caminho, eu não demoro, prometo.

Respiro fundo.

-Na verdade... eu não vou poder ir.

-Por que, amor?-Ouço barulhos de buzinas.

-Eu só... não estou me sentindo muito bem.-Não estou mentindo, muito pelo contrário. Eu realmente não estou nem um pouco bem.

-Ah. Tudo bem.

-Desculpa, eu estraguei tudo...-Digo com toda sinceridade possível.

-Não, de jeito nenhum!-Sinto um breve alívio, Seth é a pessoa mais compreensiva que existe, e tenho certeza quando digo que ele é único.-Não se preocupe.

Me sinto um pouco melhor, bem pouco mesmo. Não quero que ele se sinta culpado por nada.

-Obrigado...

-Por nada!-Posso sentir que ele não está nem um pouco chateado e isso é bom.-Você sabe que eu te am...

Congelo totalmente por dentro quando ouço o barulho ensurdecedor do outro lado da linha. Ele é interrompido pelo mesmo. É exatamente como o barulho de um acidente de transito, pulo imediatamente da cama onde estava sentado anteriormente.

-Seth?!-Exclamo, desesperado. Não tenho resposta.

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