Capítulo 59 - Final

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AVISO: possível gatilho.

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Nós definitivamente não escolhemos como, quando ou por quem vamos nos apaixonar. E também, não há previsão alguma que indique isso, ou que vamos começar a agir feito idiotas e -literalmente- matar ou morrer pela pessoa em questão. Os nossos sentimentos, mais especificamente os meus, são mil vezes mais intensos e totalmente mutáveis.
Como quando você acorda sorrindo e vai deitar chorando. Ou até mesmo quando você acorda sorrindo e levanta-se chorando, como costuma ser o meu caso. E o universo está lá, sempre conspirando para que isso aconteça.

Eu não me lembro exatamente da primeira vez que ouvi dizer que os opostos se atraem, tudo o que sei é que sempre me questionei sobre essa afirmação. Eu sentia uma breve agonia de imaginar que eu poderia me atrair por alguém que fosse o total oposto de mim. Os meus pais eram um belo exemplo disso; a minha mãe, dramática, as vezes soberba e um pouco sem noção. Não consegue ver um abismo sem que queira se jogar nele, mas essa parte eu não posso julgar pois a herdei dela. Já o meu pai, era a melhor pessoa que já viveu nessa terra. Quando ele se foi, eu me questionei durante dias o motivo disso ter acontecido, mas não vem ao caso agora. Estou trabalhando em não ser dramático, e para mim relembrar um passado triste é drama.

A minha química com Seth era perfeita. As vezes, eu chegava a acreditar que tinhamos sido feitos um para o outro. Eu me pegava olhando para ele, parado como uma estátua, e me questionando internamente se realmente o merecia. Ninguém conseguia ser tão compreensivo comigo havia anos, chegava a ser um pouco desconfortável as vezes, eu sentia que o estava incomodando de alguma forma, mas não estava. E então eu percebi que ele me amava. Ele me disse, umas cem vezes.
Ele era perfeito, era a minha alma gêmea, era tudo o que faltava para que eu me sentisse completo. Exatamente, era, e não foi a sua morte que lhe fez deixar de ser. Foi o Henri.
No momento em que o Henri passou a dar um novo significado para a minha vida eu me questionei um milhão de vezes se aquilo estava realmente acontecendo. Afinal, ele passou tanto tempo me fazendo achar que eu fosse menos do que nada e até desejar a minha própria morte, como eu poderia amar uma pessoa dessas?. Porém, de repente eu esqueci completamente que essas coisas tinham acontecido.
E com o tempo, eu percebi que o perdoaria mesmo se ele me matasse. E esse é o momento exato em que a gente percebe que não tem para onde correr.

E esse sentimento não se trata só de pensar nele a todo momento. Ou me submeter a sacrifícios, como me livrar da minha virgindade e não me importar com os machucados eventuais nos meus joelhos, afinal, era para lhe dar prazer, ou até fingir que não estou ouvindo quando diz que sou idiota, todo mundo já teve motivo para isso em algum momento.
É algo bem mais profundo, um sentimento esquisito que me faz tomar medidas extremas em momentos mais extremos ainda. Um sentimento que provoca atitudes impensáveis, como quando o entreguei para a polícia anonimamente.

Não foi como se eu não tivesse pensando nas consequências. Pelo contrário, foi tudo o que eu consegui pensar: as malditas consequências. Ele provavelmente iria embora para bem longe e evitaria o contato comigo para não ser descoberto. Eu pensei mais rápido.
Não viveria sem ele. Por mais que tentasse, a minha ansiedade me mataria esperando a cada dia, hora, minuto e segundo por uma notícia ou contato. E eu não fui egoísta em fazer isso, na verdade eu fiquei até mais confiante quando parei para pensar, um pouco depois de que o fiz, ou melhor, do que pedi para Callie fazer, logo após dizer que estava preocupado pelo pai de Henri ter chegado bêbado em casa, e eu ter ouvido um suposto barulho enquanto saía da sua casa. Ele seria levado pela polícia e interrogado, diria que o pai caiu bêbado, pois seria bem provável. Eu sou a testemunha que estava no momento da morte. Eu teria visto tudo, e fugi porque estava horrorizado com a cena. E além disso ele não pode ser preso por ainda ser menor.
Se nada ocorrer como pensei, pode ser que eu tenha um plano B... que espero não precisar colocar em prática.

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