Capítulo 13 - Comportamento

31.3K 3.1K 508
                                    

-Eu entendo muito bem você não ter atendido, não precisa pedir desculpas, prova de recuperação é uma porcaria mesmo...-Seth alegra o meu dia ainda de manhã do outro lado da linha, eu não gosto de mentir, mas explicar toda aquela história de esconder o meu exame médico seria meio cansativo.-Mas eu achei que você tinha notas boas.-Ele ri.

-Eu faltei um dia de prova.-Continuo mentindo.-Estava doente.

Ontem a noite, quando cheguei em casa, minha mãe acreditou sem muito esforço meu que eu estava molhado de suor por ter jogado tanto. Ela também não é de se importar muito quando está cheia de calmantes. Aparentemente, só não convenci a minha irmã mais nova. Esse lance do problema de audição deve fazê-la prestar mais atenção nas pessoas, e a julgar pelo seu olhar, ela deveria saber muito bem o que eu estava sentindo, e que eu só conseguia pensar em uma coisa.

Subi para o meu quarto e tranquei a porta, eu poderia comer mais tarde, pois no momento eu tinha algo bem maior para digerir. Aquela situação.
Eu não conseguia parar de pensar nas palavras que disse ao meu ouvido. E também como aquilo foi perigoso, afinal, estávamos só nós naquele vestiário gigante. Eu tomei um calmante que me foi receitado e fui dormir para tentar parar de pensar um pouco.

-Nós podemos nos ver mais tarde, se você quiser.-Tento mudar de assunto.

-Com certeza!

*

O impulso me trouxe até a casa de Callie antes do horário do colégio. Eu raramente (muito raramente) venho aqui, e quando venho, é porque tem mais de um motivo.

-Olha só! Veio me buscar!-Abre a porta para que eu entre. Eu não avisei que viria, mas não seria diferente. Eu estou pronto para o colégio, ela, pelo contrário, parece um zumbi de um filme de baixo orçamento e segura uma garrafa de leite.-É um prazer.

Posso ouvir a música de rock clássico vindo do andar de cima enquanto sinto o cheiro de cigarro, pelo menos é cigarro normal dessa vez.
Mas eu não vim buscá-la, eu vim por outro motivo. Ou talvez vários, vários motivos idiotas.

-Você quer?-Me oferece a sua garrafa com leite, nego imediatamente.

-Eu preciso ver a sua grade de horários. Perdi a minha e as nossas são parecidas.-Até que estou melhor em mentir ultimamente.

-Ah!-Coloca a mão no meu ombro e me empurra até o pé da escada. Pelo visto está com preguiça de subir também.-Pode subir. Tá lá na escrivaninha do meu quarto. Você sabe onde é.

Ainda um pouco inseguro, coloco um pé no primeiro degrau e posso ouvir o barulho da madeira. Não vou voltar atrás. Continuo subindo.
Sei qual é o seu quarto dentre os outros de portas fechadas por causa de um adesivo com o símbolo de radioatividade na porta. E é de lá que a música vem. Exatamente a cara de Callie.

Empurro a porta com um pouco de receio, não quero que algum animal venenoso me morda ou algo assim.
Atravesso a sua bagunça e alcanço a sua janela ao lado da cama com lençóis revirados. Parece que esta não é aberta constantemente, mas para a minha sorte, não está enferrujada.
Cuidadosamente me posiciono de uma forma discreta para observar a casa ao lado.

O que diabos eu tô fazendo?!
Devo estar dando de cara com o quarto de Henri a uma pequena distância, e o meu coração acelera quando o vejo. Não estou envergonhado de vê-lo sem camisa ou algo assim, tenho medo que me veja e pense que sou realmente um pevertido.

Por muitas vezes me questiono o que estou fazendo aqui. Esqueço constantemente que vim averiguar o porquê de ele ser tão estranho e nada além disso.
Não vejo nada de comprometedor e sinto que estou perdendo o meu tempo. Estava nos meus planos perguntar para Callie se ela já presenciou alguma ação estranha dele, mas não quero meter ela nisso.

Tento relutantemente deixar de observar o cara que me odeia só de toalha do outro lado enquanto está checando algo no seu computador. Tento notar nos seus diversos troféus no seu quarto para não parecer patético.

Novamente me questiono, o que diabos eu estou fazendo?

-Não acredito nisso.-Callie me flagra na situação mais constrangedora da minha vida, me afasto da janela imediatamente.

-N-não é o que você está pensando...

-Eu... só ia dizer que nunca consigo abrir essa janela completamente...-Parabéns para mim, o meu impulso idiota a deixou desconfiada. A última pessoa que deveria desconfiar.-O que você achou que eu estava pensando, Kody?

Aperta o botão da caixa de som para desliga-la e cruza os braços. Se essa janela não desse para o quarto de Henri eu a pularia imediatamente.

-Eu...

-Ah meu Deus. Não me diga que ele está fazendo de novo.-Callie caminha até onde estou, porém ela fica de frente para a janela, sem ao menos disfarçar.

-Fazendo o que?

-O bonitão chegou quebrando tudo ontem depois do treino.-Revira os olhos.-E tava murmurando algo sobre alguém que não deveria ter ligado... sei lá, ele é louco.

Me afasto devagar tentando imaginar o que pode ter acontecido. Provavelmente algo aconteceu depois daquela cena toda no vestiário, sei lá, não devo ser tão importante assim para fazer Henri surtar.

BullyingOnde histórias criam vida. Descubra agora