Capítulo 1 - Bullying

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A escola já não me parece mais empolgante desde que eu tinha... sei lá, cinco anos de idade. Não é por ter que estudar, eu realmente gosto de aprender, de verdade. É por ter que levantar as sete da manhã todos os dias, o que poderia até ser uma tarefa fácil, se eu conseguisse dormir a noite.
Pegar no sono por volta das quatro da manhã -ou as vezes nem pegar- é o meu pior hábito não opcional. E é justamente por isso que eu ocasionalmente acabo dormindo durante as aulas.

Corro para alcançar os portões da escola ainda abertos por ter me atrasado (um pouco de mais) hoje, pra variar. Consigo, e decido também não comemorar tão cedo. Ainda tem outro problema.
Ele está lá no meio do corredor como todo dia a essa hora. Eu diria que está esperando por mim, e talvez realmente esteja. Recuo um pouco para poder me esconder, ele nem faz menção de sair. Está fuçando algo no seu armário. Droga. A minha sala da primeira aula é nesse corredor, eu preciso dar um jeito.
Tudo bem, se tudo der errado, é só correr. Ainda tem algumas poucas pessoas espalhadas, se eu passar pelo meio ele não vai me ver.

-Ei!-Pessima ideia. Eu me odeio pra caralho.-Para onde pensa que está indo?-Henri me alcança, ele é um pouco mais alto do que eu... e, bem, se eu disser que um dia o achei atraente vou ter que bater em mim mesmo mais tarde. Ele é uma merda de pessoa e tem provado isso nos últimos meses.
Tudo começou quando eu fui encontrar o Seth numa cafeteria. Nós realmente não tínhamos nada ainda, só queríamos conversar um pouco. Queríamos nos conhecer melhor e eu estava a fim de conversar com alguém, ele tem sido a melhor pessoa do mundo desde que o conheci naquele mesmo lugar dias atrás. O que eu não tinha reparado era que o Henri estava passando por lá, um pouco mais distante de nós. E ele concluiu por sí próprio que aquilo era um encontro.-Cadê o seu namorado?-Tento ignorar enquanto continuo andando, mas ao que aparenta ele me segue. Eu sei exatamente como fingir que nada está acontecendo quando tem um idiota me insultando.-Espera, não responde. Eu tenho uma pergunta melhor. Quem é a garota da relação?

É incrível como o corredor parece dez vezes mais longo do que o normal quando Henri está me seguindo e falando merda. Eu queria mandar ele calar a boca mas da última vez não deu muito certo.

-Eu te fiz uma pergunta! Merda!

Eu estava equipado com um "foda-se" pronto para atirar contra ele, mas não há nada que o irrite mais do que não responder suas ofensas inúteis.
Tudo bem, talvez não tenha sido uma boa idéia. Sinto como se tivesse sido atropelado quando Henri me empurra. Eu não teria como vê-lo, estava de costas. Esbarro na porta da sala de aula que a princípio achei estar fechada. Não estava, para o meu azar. Estava apenas encostada. Que merda de dia. Ouço-o rir lá fora enquanto levando do chão tentando lidar com os olhares de todos na sala em minha direção.

*

Durante todo o dia, a única coisa que me deixou um pouco aliviado foi não ter deslocado o meu joelho ou algo assim. Henri parou de me perseguir por algumas horas, acho que fazer todos da turma acharem que eu estava louco foi suficiente.

-O professor de biologia voltou com toda aquela merda de que cigarro dá câncer.-Callie bate com força a porta do seu armário, o que acaba irritando a si mesma. Ela está quase sempre irritada.-Porra... hoje em dia até a droga do ar dá câncer.

A princípio, conheci Callie quando tínhamos 12 anos, eu estava chorando sozinho no corredor por ter caído no treino de futebol e ela me ofereceu um pouco de vodka que tinha roubado dos seus pais. Seu cabelo é tingido de verde e sempre está cheirando a maconha.
Ela não é minha amiga ou algo assim, é só alguém que me faz companhia eventualmente.

Vejo que recebo uma nova mensagem de texto, é do Seth, ele diz que quer me ver mais tarde para me contar algo. Penso no que responder para não parecer patético.
Saímos pela porta no fim do corredor e finalmente posso sentir que estou um pouco livre de ser atacado por Henri. Ou não.
Eu estava olhando o meu celular mais para baixo, então não pude ver que ele se aproximava. Mas tinha espaço o suficiente para ele não precisar esbarrar em mim. Seu ombro se choca contra o meu. Eu teria desequilíbrado e caído se não fosse a parede.

-Ei! Olha por onde anda!-Diz, olhando para mim por cima do ombro e parecendo razoávelmente furioso por um motivo não aparente.-Bicha.

Decido não responder a sua ofensa, eu realmente tenho coisa mais importante para me preocupar. Abaixo para pegar o meu celular que tinha caído no chão.

-Na real, Kody...-Diz Callie, ouço o barulho do seu isqueiro enquanto ela ri.-Eu tenho certeza de que ele faz isso para chamar a sua atenção. Eu tenho experiência com essas coisas.

Levanto-me e a encaro como quem ouve um absurdo. E eu realmente tinha ouvido um absurdo. Tenho quase certeza de que Henri faz o que faz porque é um babaca homofóbico. Ele só quer me reprimir, não precisa da minha atenção.

-E eu acho que você deveria parar de beber um pouco.-Brinco, enquanto continuo andando e tocendo para Callie estar errada.

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