Capítulo 48 - União

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-Querido, você deve saber que eu e o Sean estamos nos gostando de verdade... não é?-Minha mãe diz, na porta do meu quarto, as seis da manhã. Eu queria ser surdo como a Lili nesses momentos.

-Claro.-Ergo as sobrancelhas, com ironia.

-Nós vamos jantar na casa dele hoje. É só para nos conhecermos melhor, sabe? Eu ainda sinto que deveriamos ir com calma.

Suspiro. Isso não pode estar acontecendo, nem digeri tudo o que aconteceu entre mim e Henri a menos de três dias atrás. Tenho o evitado como posso no colégio, na esperança de que ele esqueça tudo isso.

-Sim, deveriam.

-As sete horas! Esteja prontinho!

*

A idéia de entrar na casa de Henri acompanhado da minha mãe nunca nem tinha me passado pela cabeça. Chega a ser desesperador, eu não queria nem descer do carro.

Para o meu azar, ela está mais interessada nesse relacionamento bizarro do que eu imaginei. Passou boa parte do dia no salão de beleza e continua perguntando se está bonita, eu assinto sem ao menos olhar sempre que isso acontece.
Eu não consegui encontrar um motivo para fugir e não estar em casa na hora de vir, e nem rolou dizer que estou doente, pois quase sempre estou. E ela com certeza diria "Ah, mas o Sean pode lhe receitar".

Falando no diabo, quando ele abre a porta, tenho a sensação que tive na última vez em que estive aqui. Uma péssima sensação.

-Que pontual! Estou impressionado.

-Ah, nem tanto. Aposto que estou alguns segundos atrasada.-Responde ela, reviro os olhos sem me importar com as possíveis consequências da minha atitude de adolescente rebelde. Ele a cumprimenta com um beijo na mão. Que tipo de gente faz isso?!
Pede para que entremos. Agora as minhas chances de correr para longe acabam por completo.

-Kody! Eu quase não o notei aí.-Diz, me fazendo perceber que infelizmente não estou invisível como gostaria de estar.-Como vai? Nunca mais tivemos uma consulta... e nunca mais o vi por aqui.

Estende a mão para mim, eu demoro por volta de cinco segundos para segurá-la com cara de quem não deveria estar fazendo isso.

-Espera, você já esteve aqui antes, querido?-Por um milésimo esqueço de um detalhe notável, a minha mãe. Se fosse outra pessoa quem dissesse, ela poderia até não notar, mas como foi o Dr. Satã, ela fez questão de ouvir.-Que surpresa! Poderia ter me contado.

-Sim! Ao que tudo indica, ele e o Henri já são conhecidos.-Volta a se intrometer.

-Tinhamos... que estudar juntos. Só isso.

Já que o assunto "Henri" foi colocado na mesa quase que literalmente, me pergunto onde ele está nesse momento. E espero que não apareça tão cedo... pelo menos até eu achar um motivo para cair fora.

Seguimos o Dr. West até a sala de Jantar luxuosa. Minha mãe está inquieta e meio insegura, acho que puxei a ela em diversos aspectos, mesmo que deteste admitir.
Sento-me a mesa imensa de costas para uma pequena varanda e de frente para a porta a qual entramos.

-Disse que tinha uma filha também, certo?

-Sim! A Lilian foi passar a noite na casa de uma amiga hoje.-Minha irmã mais nova não sabe o quanto é sortuda por não estar aqui, neste momento tão esquisito. Se eu tivesse amigos, com certeza inventaria de ir passar a noite na casa de um deles. -E o Henri? Onde ele está? Quero muito conhecê-lo.

Maldita hora em que a minha mãe decidiu tentar ser simpática e perguntar isso. Apanho a taça com água na mesa a minha frente e bebo, o nervosismo me faz fazer isso.
Dr. West se preparava para responder quando ouvimos a porta da entrada fechar. Pelo menos o silêncio assustador de uma mansão esquisita serviu de alguma coisa. Agora tenho certeza de que ele está aqui. Quase derrubo a taça na hora de devolver a mesa.

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