Capítulo 49 - Acordo

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-Será que o Sean vai me pedir em noivado ou algo assim? Eu realmente não estou preparada...-Nos últimos dias tenho sido obrigado a ouvir as suposições paranóicas da minha mãe. É impossível não revirar os olhos nessas situações.-É bem improvável mesmo... não tem nem dois meses que nós nos conhecemos...

Não é que eu gostaria que tudo isso acabasse. Eu até que prefiro vê-la assim do que chorando sempre que tem a oportunidade. Tudo se baseia em eu não saber as verdadeiras intenções do novo pretendente. Tudo o que sei é que ele não presta.
A próxima fala paranóica da minha mãe é interrompida quando Lili chega a cozinha, onde estamos, para lembrar que está quase atrasada para a reunião de pais na escola.

-Ah, sim, meu bem, eu juro que não estava esquecida.-Fecha o notebook, o qual usava para fazer compras de provavelmente roupas novas. Se tiver decidido finalmente usar o dinheiro que o meu pai nos deixou, começará a chover pedras hoje.

-Você... sente que o ama mesmo?-Pergunto, de repente. Não que isso vá mudar alguma coisa na minha vida. Se ela disser que sente estará mentindo ou precipitada de mais.

-Claro que sim, Kody, que pergunta mais cabulosa...-Ri.

-Acha que ele sente o mesmo?-Volto com outra pergunta involuntária.

Observo os sinais que a minha irmã faz. "Podem falar mais devagar? É difícil entender!".
Prefiro que não entenda. Penso.

-Bem, eu acho que sim...

-Ah.-Assinto. No fundo, bem no fundo mesmo, assumo que espero que sim.

*

O colégio já não é mais o mesmo e isso é evidente. Não encontro ninguém com uma garrafa de água tendo vodka dentro e cabelos verdes bagunçados logo as sete da manhã. Também não podemos conversar através de mensagens, pois evitar o celular faz parte do tratamento. Entretanto, não duvido que lá esteja melhor do que aqui.

-Advinha quem vai cuidar de você agora?!-Me surpreendo quando a minha aspirante a amiga e fofoqueira de plantão, Camille, aparece de repente quando eu estava prestes a virar o corredor. Me assusto, é claro, não é para menos.-Sim, eu! Até pedi umas férias para o Louis!

-Tudo bem, mas acho que não preciso de babá.-Continuo andando, eu até que me esforcei para não soar grosseiro.

Entretanto acho que deveria fazer ao contrário, pois ela contínua me seguindo.

-Vou encarar isso como um sim. Você não imagina o quanto é difícil ficar longe do meu amor, faço esse sacrifício pela nossa amizade.

Tenho vontade de perguntar se ela finalmente enjoou do atual namorado, mas decido me abster. É algo que Callie faria com certeza, eu gostaria de ser tão indiscreto quanto ela as vezes.

-Tudo bem. Mas eu não tô sabendo de nenhuma fofoca para te contar. Eu sei que isso é o seu oxigênio.-Tento manter o tom cômico enquanto abro a porta do meu armário. Ela ri.

-Mas eu acho que vai ter. Dentro de alguns segundos.-Diz, viro-me para ela, que olha para o outro lado. Sigo o seu olhar imediatamente, tentando ser discreto. A irmã adotiva da Karen, que a propósito está saindo com o Henri caminha na minha direção. Tento imaginar o moivo.-Eu gostaria muito de ficar, mas preciso ir ao banheiro. Não demoro.

Observo enquanto Camille sai pelo corredor olhando para trás. Deve estar mais curiosa do que eu. Tento imaginar também o que ela sabe, ou pelo menos desconfia.

-Oi... você deve ser o Kody...-Fecho o meu armário logo após esquecer para quê o abri e volto a minha atenção para a garota de cabelos castanhos ao meu lado.

-Sim...?

-Desculpa por aparecer assim na sua frente... já que não nos conhecemos.

Cruzo os braços, ao ponto de perguntar logo o que ela quer, e eu já teria o feito, se não estivesse sendo tão simpática. E não há motivos para tratá-la mal por estar saindo com o cara que eu gosto. Ela não tem basicamente nada a ver com isso.

-Sem problemas.-Digo.

-É só uma dúvida, sobre a festa daquele dia... eu sei que pode parecer besteira, mas depois que o Henri foi falar com você naquela hora, ele voltou completamente diferente...

Tento imediatamente parecer confuso, mas tenho um pouco de dificuldade. A minha vontade de contar tudo é imensa.

-P-por que você acha isso?-Se ela fosse mais esperta perceberia que estou escondendo alguma coisa.

-Bem, ele estava esqusito...-Pensa, e espero até que termine, pois não parece pensar na velocidade em que todo mundo pensa.-Você estava com a Karen, certo?

Assinto. Não posso acreditar que ela acha que ele estava com ciúmes da Karen comigo. Deve ser insegura ao ponto de pensar que ele ainda gosta dela. E que irmã péssima a Karen é, nem contou que o Henri provavelmente não gosta de garotas de verdade.

-Você acha que ele...

-Olha, eu não sei. Não faço a menor ideia. Por que você não pergunta para ele mesmo?

Ela assente e dá de ombros, um pouco insatisfeita. Eu gostaria tanto de contar toda a verdade.

*

Meu dia não foi nada fácil. Ter Cami na minha cola dizendo estar me fazendo companhia foi um saco. Me senti aliviado somente nas aulas em que não tivemos juntos. Ainda tive que ouví-la discutir a relação com o seu namorado durante cada intervalo, senti vontade de vomitar na hora da reconciliação.

Mas para ser sincero, a única coisa que eu não esperava hoje era dar de cara com o Dr. West no corredor, quando estou prestes a sair para ir embora.
Vi Henri poucas vezes hoje, e ele parecia meio distante. Foi difícil prestar atenção com minha nova companhia indesejada contando tudo o que sabe sobre as pessoas desse colégio. Eu não podia, de jeito nenhum, deixá-la perceber que eu queria vê-lo, mesmo que de longe.

-Que surpresa! Essa é a hora em que os alunos mais exemplares deixam o colégio, não é?-Pergunta. Ele não quer realmente saber de mim, vai perguntar sobre a minha mãe daqui a pouco."Não. São os que querem evitar todo mundo" penso.

-Eu... acho que sim.

-E a sua mãe, está bem?-Eu sabia. Me surpreende que ele tenha me parado no meio do corredor para perguntar da minha mãe, em meio a tanta ocupação, talvez o seu tempo não seja tão precioso quando se trata dela. Eu assinto querendo ir para casa logo.-Já que não respondeu naquele dia, se importa se eu levá-la para viajar?

-Você realmente a ama?-Murmuro o que deveria ser só um pensamento ou uma suposição. Já lamento por isso, pois tudo o que não quero é prolongar essa conversa.-Tipo... de verdade...?

-É claro que sim.-Percebo a sua convicção, se estiver mentindo, mente muito bem.-Tem toda razão em estar preocupado...-Ergo as sobrancelhas. Aposto que está me xingando mentalmente agora mesmo.-Mas você sabe... se pensarmos maior, poderemos até ser uma família em breve. Se depender de mim, está tudo certo.

Meu estômago embrulha neste momento, quando penso na possibilidade. Mas me tranquilizo quase que no mesmo momento, pois sei que isso jamais vai acontecer. Espera só até a minha mãe ter uma crise existencial daquelas. Fico surpreso que o pai do Henri possa ser, de certa forma, sensível. Mas o que me surpreende de verdade é a sua paixão que aparentemente surgiu de repente.

-Mas... eu achei que deveria ter medo do meu futuro-meio-irmão, nesse caso.-Digo, com um tom de confusão total. Espero que cheguemos a um acordo logo para que esse diálogo sem graça possa valer a pena.-Agora eu estou confuso.

Pela sua cara, quer mais que essa coversa acabe do que eu.

-Veja bem, Kody... você não precisa ter medo do Henri. Só tenta não aproximar muito dele.-Assinto, mas ainda não cheguei aonde deveria.

-Eu sei. Sei muito bem o que estou fazendo, não precisa se preocupar.

Faz menção de sair com cara de quem já ouviu o suficiente e está disposto a parar de querer ferrar com o próprio filho. Espero que tenha entendido o recado.

-Preocupação de família, você sabe muito bem como é.-Acena, já um pouco longe pois seu celular começou a tocar.-Mas tudo bem por mim, nesse caso... até mais!

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