Capítulo 15 - Proporções

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-O mesmo horário!-Diz o treinador ao passar por mim no corredor. Eu o odeio.

Para começo de conversa, minha mãe o convidou para jantar lá em casa no sábado. Eu tinha saído com Seth novamente, e quando cheguei presenciei a conversa que estavam tendo. "Estou tentando introduzir o Kody nos esportes para afastá-lo das drogas, estou preocupado..." Ele disse, com toda convicção do mundo. "Ainda não consigo crer naquela história sobre... maconha, meu Deus..." Dizia a minha mãe, eu fiquei puto pelo treinador estar me usando para voltar com a minha mãe. Deve saber como ela é fraca mentalmente falando.

Eu subi para o meu quarto e só saí hoje de manhã. Aquele treino é um castigo, eu não quero passar por aquilo de novo.

-Você faz uma diferença em tanto para o time, né?-Callie debocha.

Me preparava para revidar com outro tipo de deboche quando presencio uma cena estranha no fim do corredor. Não posso ouvir, é claro, o corredor está quase lotado, mas é quase como se eu pudesse.
Aquela tal de Karen, a garota que fica com o Henri, está discutindo com ele. Eu sei que não vai mudar nada na minha vida, mas eu gostaria de saber o motivo e também gostaria de dizer que ela está certa, mesmo sem saber do que se trata.

-Caralho...-Callie obviamente seguiu o meu olhar e encontrou a mesma cena.-Ele tá... explodindo de raiva.

Observo os seus punhos cerrados enquanto ouve o que a garota diz com o dedo apontado para sua cara. Viro-me e continuo andando na direção oposta. Eu sei muito bem em quem ele irá descontar essa raiva toda. Não quero estar por perto.

-Que exploda.-Digo.

-Kody! Volta aqui! Ele mandou ela calar a boca! Que cara mais imbecil!-Ignoro o que a minha companhia diz e continuo andando. Não quero mais saber de Henri para não ter que mentir novamente para Seth.

*

O treino não foi tão mal assim. O treinador não me obrigou a jogar, mas me obrigou a ir, dizendo que, se não, complicaria nas minhas notas. Eu fiquei sentado observando e me sentindo útil por isso, afinal, era tudo o que eu podia fazer. Mesmo que a maioria (ou todos) os garotos ainda se perguntassem o que caralho eu fazia lá.
Eu pensei estar livre do vestiário, mas não estava. O treinador queria me enfiar no time de qualquer jeito. Parte de mim até que queria me aprofundar novamente em uma experiência sem contexto que tive semanas atrás. Droga, não!... Eu vou lá apenas para trocar de roupas. Só isso.

O vestiário está cheio, não entrarei lá agora de jeito nenhum. Decidi esperar do lado de fora, escondido. Ainda é final de tarde, não posso nem me esconder em algum lugar sem luz aqui do lado de fora para me trocar. Entretanto isso seria uma péssima idéia.

Penso no que posso fazer para matar o tempo, e quando me dou conta já estou discando o número de Seth no meu celular. Não sei o que ele faz nesse momento, mas preciso que saiba que estive pensando nele... mesmo que eu não tenha feito isso com tanta frequência como antes. Eu o amo e quero que saiba disso.

-Olá?-Me afasto da porta de entrada do vestiário.-Se eu estiver interrompendo me avisa, odeio ser incoveniente.

-Não mesmo...-Responde, seu tom não mostra entusiasmo e nem desânimo.-Estou feliz que ligou.

Penso, com o telefone colado na orelha. O silêncio toma conta da ligação. Eu tenho certeza de que ele está ocupado e não quer dizer, eu gostaria que ele dissesse. Não quero que ninguém se sinta obrigado a me dar atenção.

-Eu...-Volto a falar para preencher o silêncio.-...é...

-Quer que eu vá te ver? Já está em casa, né?

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