Capítulo 8 - Verdade

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Descobri que Callie foi suspensa por dois dias por terem contado para o diretor sobre a sua obra de arte, então eu estaria sozinho nessa. Deveria ter acontecido o mesmo com Henri, mas ninguém o viu fazer. Ontem eu fugi um pouco mais cedo do colégio, afinal, não quero morrer quando finalmente estou apaixonado e tenho uma razão para ficar vivo.
Seth me ligou e eu novamente não contei nada sobre isso, só ouvi sobre a sua vida perfeita e país super protetores e atenciosos.

Tento remover o agora rabisco de marcador permanente do meu armário usando álcool, até que está funcionando, mas sinto que estou gastando os meus dedos por demais após esfregar por quase uma hora. Descanso a minha mão por um minuto.

Não tenho olhos na nuca, mas é possível sentir facilmente quando tem alguém parado atrás de você, e eu percebo logo. Viro-me para olhar, dando de cara com Henri.

Ele está sério mas não parece muito irritado. Me encolho um pouco, espero não levar um soco. Ele não me empurra contra os armários dessa vez, só se aproxima como um predador.

-Aposto que a idéia foi sua.-Diz, com toda certeza do mundo.-Saiba que não sou eu quem curte pau por aqui.

Quando abaixo o olhar, percebo os seus punhos cerrados. Tento não deixar transparecer mais que estou aflito. Acho que não preciso de Callie para assumir a culpa como ela disse que faria, eu posso dar conta.

-Por que?-Pergunto, mas nem sei sobre o que estou falando ainda. Eu não sou o único garoto gay do colégio, mas sou o único que Henri faz questão de perturbar todos os dias. Isso me faz questionar muitas coisa. Será que ele descobriu mais alguma coisa que eu ainda não sei sobre mim? Eu acho pouco provável. Constantemente o vejo fazer piada sobre "defeitos" ou diferenças de outras pessoas, mas não passam de piadas ou risos idiotas. Deve haver um motivo bem específico para eu ser a sua vítima favorita, e eu pretendo descobrir agora.-Por que caralho você faz isso?

Volto a levantar o meu olhar para ele deixando o assunto subentendido.

-O seu jeito me irrita.-Suas palavras são tão vazias quanto a sua explicação. Tenho certeza de que não é só isso. Henri desvia o seu olhar do meu fingindo revirar os olhos como quem está sem paciência.-Eu quero que você pare de existir.

-Sério?-Respondo, saindo da sua frente. Ele não vai me bater. Não agora, então não tem motivos para eu esperar.-Isso não significa que deve continuar me tratando feito lixo.

Sigo pelo corredor na direção da sala de aula. Não terminei de limpar o armário, mas isso não importa tanto agora. Eu não quero ficar perto de Henri.

-Isso é tudo o que você é.-Volta a dizer quando menos espero.-Um nada. E se continuar me irritando, vai apanhar até assumir isso.

Ignoro, tendo em mente que ele não quer se prejudicar mais do que já está, mas com um leve peso na consciência por ter desfalcado o time do colégio.

*

A aula de educação física é, possivelmente, a que eu mais odeio. Não tenho que praticar pois meu coração acelera de uma maneira estúpida quando corro, mas isso não impediu o professor de me mandar ficar plantado na arquibancada assistindo e anotando no caderno tudo o que estou entendendo -o que se resume em nada- até que um novo exame médico fosse feito.

Não é nem um pouco divertido escapar das bolas atiradas por Henri em minha direção de propósito. Decidi portanto sentar no lugar mais afastado possível.
E finalmente o meu momento favorito dessa aula havia chegado, o término.
Me ocorre que não tive tempo para pensar sobre a coisa mais estranha (depois daquilo que aconteceu no sábado) ; eu caminhava (não tão) feliz e sozinho pelo refeitorio quando, muito de repente mesmo, uma das minhas ex companhias, a Cami, perguntou se eu queria sentar na mesa onde ela estava com seus novos amigos e namorado. Eu neguei sem muitas palavras, é claro. Eu a conheço muito bem para saber que estava com pena da minha solidão, e eu não me importo.
Bem, me importo um pouco quando tenho que passar pelo meio dos amigos de Henri, onde o mesmo está. Dou de cara com todos os garotos do time espalhados quando desco a arquibancada para sair daquele ginásio. Até que o canivete que Callie carrega não seria má idéia agora. Me arrependo de não ter descido e encontrado o resto da classe antes de todos saírem.

Percebi que Henri, antes de me ver, dizia algo para o treinador, talvez estivesse implorando para voltar, é muito provável. Ele não está com o uniforme do time, diferente dos outros. Parou imediatamente o que estava fazendo e ficou me encarando como quem diz "olha a merda que você fez. Está satisfeito?".
Vejo Jonz, para a minha surpresa ele me cumprimenta quando passa por mim. Pelo visto aquela ordem já não funciona tanto quando antes.

-Cuidado cara, pode ser contagioso.-Errei por pensar que Henri não faria alguma piada idiota. Por que seria diferente? Pelo treinador estar presente? Algo me diz que isso não muda muita coisa.

Abaixo a minha cabeça quando passo ao seu lado para que ele saiba que eu me rendo por hoje, paz é tudo o que eu quero.

-Não deveria se importar com isso, Kody.-O treinador, para a minha surpresa. Paro de andar imediatamente e viro-me para ver se realmente tinha ouvido aquilo. Tudo bem que ele andou saindo com a minha mãe meses atrás, mas isso não é motivo para me aconselhar. Eu nunca gostei muito dele e sempre deixei isso claro. Entretanto eu também tenho algo para dizer.

-Eu sei.-Digo, enquanto fito a ficha na sua mão, não quero ter que olhar para ele para que pense que preciso de ajuda. E também não quero olhar para o idiota Henri.

-Acredito que o Henri não faça por mal.-Volta a dizer, dando dois tapas nas costas do grandalhão ao seu lado.-Deve ser a erva falando por ele.

-Droga! Eu já disse que...

-Fui eu.-Interrompo, se eu tivesse coragem de encará-lo veria que ele está mais confuso do que nunca achando que estou aprontando algo, mas dessa vez eu não estou.

-Não precisa mentir, ele não vai te machucar.

-Não estou mentindo.-Dou a meia volta e continuo andando e arrastando a minha bolsa. Tudo o que eu quero é ir para casa, onde eu posso não existir em paz.-E não tenho medo dele.

Ouvi o treinador mandar o Henri colocar o uniforme enquanto eu saía do ginásio. Eu não me arrependo de ter feito a coisa certa, Henri precisa aprender que pelo menos nisso, sou superior a ele, e que para se dar um tapa na cara não precisa de agressão física.

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