POV Lauren
Tatiana apenas acena com a cabeça, me lançando um olhar como quem diz “Algo está errado, quero falar com você” e sai em seguida. Mas antes que eu pudesse dizer algo, o médico que estava cuidando de Camz, aparece e se surpreende com aquele monte de pessoas.
-Todos aqui pela mesma paciente? - Todos acenamos e ele sorri. - Bom, ela está, aparentemente, bem. Os sinais estão estáveis e ela está consciente, mas bem fraca. Então vou liberar a visita de 2 em 2. Peço que sejam silenciosos, tudo bem? - Todos acenamos novamente e concordamos que Sofia e Dinah devem ser as primeiras. Eu decidi que vou ficar por última, para aproveitar mais.
-Tô preocupado com a Sofia, Laur. - Chris diz, assim que as duas adentram o corredor para ver a latina.
-Eu também, Chris. Ela foi bem fria. Não que eu não entenda, mas acho que ela passou por muita coisa. Fica aqui, eu vou conversar com a Tatiana. - Ele acena e eu sigo até a sala que eu já conheço. Bato na porta, ouvindo um “Entra”, abro a porta e coloco minha cabeça dentro da sala. - Licença? - Ela levanta a cabeça e se ajeita melhor, ao perceber que sou eu.
-Lauren, eu tava te esperando. Pode se sentar, por favor. Fica a vontade! - Me sento na cadeira que ela indicou. - Eu vou ser direta: Eu fiquei preocupada com o que eu ouvi da Sofia. Seria interessante se vocês encorajassem ela a passar com algum profissional. - Ela faz um gesto simples com a mão em negação. - Nem precisa ser comigo, se ela não se sentir confortável, mas, agora que as coisas estão tomando outro rumo, ela precisa de alguma orientação.
-Você acha que ela pode ter depressão ou algo do tipo? - Pergunto confusa.
-Não, Lauren. Quer dizer: eu não posso dar esse diagnóstico baseada em algumas frases. É algo que realmente precisa ser analisado com calma. Mas não se trata só de depressão. Lauren, ela só tem 16 anos. Ela perdeu o pai, teve que cuidar da irmã, pois a mãe virou uma alcoólatra que batia na filha, viu a irmã ir parar diversas vezes no hospital, viu a irmã quase morrer por causa da mãe, foi arrancada da única família por causa de uma revanche birrenta… Percebe a quantidade de gatilhos? Uma pessoa mais velha e mais estruturada que ela não conseguiria reagir bem. Pode ser que eu esteja errada e eu espero que esteja, mas isso pode gerar diversas questões complicadas, vários gatilhos, várias coisas que podem acabar dificultando a vida dela daqui pra frente e, se ela não souber lidar com isso de forma saudável, não sabemos no que isso pode se transformar. - Eu aceno com a cabeça. - Você acha que consegue falar com ela?
-Eu vou tentar. Mas não hoje. Vou esperar a poeira baixar um pouco e converso com ela, talvez, se a Camz pedir, ela aceite mais fácil. Mas vou fazer o possível. - Ela acena agradecida. - E quanto à Camz? Como fica com tudo isso?
-Bom, as consultas continuam, quando estiver mais estável, vamos, finalmente, começar as consultas individuais e, quanto à medicação, é melhor vocês passarem novamente com Evelyne.
-Quem?
-A Doutora Brochu, a psiquiátra.
-Vocês se conhecem? - Ela fica ligeiramente sem graça e acena com a cabeça.
-É minha esposa. - Minha boca forma um “O” perfeito em surpresa e ela ri. - Enfim, remarquem a consulta, ela já sabe o que aconteceu e vai orientar vocês como retomar a medicação de modo seguro. - Eu concordo com a cabeça e me despeço, voltando para a sala de espera.
Agora quem entrou foi minha mãe e Tia Milika. Chris me olha interrogativamente, mas aceno em negação, para deixar o assunto para depois. O rodízio continua. Todos entram apreensivos e saem sorrindo. Quando chega a minha vez, meu coração bate acelerado dentro do peito, chega a doer. Fiquei por última e, por estarmos em número ímpar, entro sozinha, o que, confesso, adorei.
Paro em frente à porta, levando a mão lentamente até a maçaneta e abrindo. Assim que tenho acesso ao quarto, vejo Camz meio sentada, meio deitada, olhando para a porta.
-Hey? - Chamo e ela estende o braço bom para mim, me chamando, com um sorriso tímido no rosto. - Como você tá se sentindo?
-B… Bem. - Ela diz com esforço, por conta do tempo que passou sem falar.
-Isso é bom! Fiquei tão preocupada, Camz! - Pego sua mão e me sento de lado em sua cama.
-Desc… Desculpa.
-Não precisa se desculpar. - Levo minha mão ao seu rosto, fazendo uma carícia leve e ela fecha os olhos para aproveitar o toque. - O que importa agora é que você está bem e logo vai estar em casa, junto comigo, de onde não deveria ter saído! - Ela sorri, mas logo abre os olhos e sua expressão fica preocupada.
-A Sofi não tá bem, né? - Ela diz em uma voz baixa.
-Não se preocupa com isso, amor.
-É minha irmã, Lolo. Me diz o que aconteceu? - Ela aperta minha mão e eu solto um suspiro pesado.
-Ela passou por muita coisa, já tá tudo resolvido, mas ela ainda não superou bem. Eu até conversei com a Tatiana e ela disse que é pra gente incentivar ela a fazer terapia também, só por precaução. - Ela acena com a cabeça.
-Mesmo? - Eu concordo com a cabeça.
-Ela vai ficar bem, Camz. Você tá aqui agora pra ajudar a cuidar dela.
-A DJ disse que eu tô há quase um mês apagada.
-Sim, você não faz ideia de como todo mundo sentiu sua falta.
-Vocês vieram aqui todos dias?
-Eu e a Sofia, sim. Todos outros vinham pelo menos umas 3 vezes por semana.
-Lolo? - Me chama, mesmo não precisando, já que eu não tirei meus olhos dela. - Obrigada. E… Desculpa por ter colocado a Taylor em perigo.
-Camz, você não teve culpa de nada. - Ela tenta falar algo, mas interrompo. Coloco minha mão em sua nuca suavemente, fazendo seu rosto ficar perto do meu. - Não tem nem o que dizer, Camz. Você foi tão vítima quanto ela. - Os olhos dela marejam e eu colo nossos lábios.
MEU DUMBLEDORE! Como eu senti falta disso!
Ela passa seus braços sobre meus ombros, separando nossos lábios e afundando seu rosto em meu pescoço.
-Lolo? - Ela chama abafada.
-Oi, meu amor.
-Eu te amo!
Ok, meu coração parou, podem decretar a hora da morte!
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Voltando a Viver
FanfictionLauren, 22 anos, intersexual, inteligente, engraçada, sonha em estudar Música em Julliard, mas se isola do mundo por não saber lidar com sua condição. Camila, 18 anos, ultimo ano do Ensino Médio, conta os minutos para finalmente poder ir a Julliard...