Desembucha, Sofi!

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POV Camila

Em silêncio, sigo até meu quarto, com Sofi em meu encalço. Me sento na cama, enquanto minha irmã se senta na poltrona.

-Sofi, o que está acontecendo? - Pergunto imediatamente. - Desde que eu acordei, você tem agido distante e tá mais quieta que o normal. - Ela suspira e se ajeita na poltrona. - Me conta, por favor.

-Vou tentar resumir, é bastante coisa, mas não quero que fique brava por eu não ter dito antes! - Minha preocupação grita, mas aceno tranquilamente com a cabeça, ignorando a agonia interna. - No dia que tudo aconteceu, a mãe do Josh foi até o hospital com uns policiais, dizendo que tinha ordem do Juiz pra me levar pra um abrigo, já que eu não tinha nenhum parente capaz no momento. Acabei indo pra lá. - Ela solta um suspiro ainda mais pesado. - Enfim, mas no outro dia os Jauregui conseguiram me tirar de lá, mas.... Deixa pra lá. No dia que você acordou, a Sinu morreu. - Oi? Morreu? Achei que ela tava presa, sei lá! - Não achei necessário falar sobre isso antes, já que ela não representa mais nenhum risco.

-Onde ela foi enterrada? - Ela morde o lábio inferior, enquanto expira lentamente. Conheço esse conjunto: Ela tá com medo de me dizer algo.

-Eu não sei. - Ela diz baixo e eu arqueio minha sobrancelha. - Eu tava revoltada, falei que não queria saber e que podiam enterrar como indigente. - Me surpreendo com as palavras de Sofia, enquanto ela desvia o olhar.

-Sofi, o que mais você não está me contando?

-Nada, Cami. - Ela fala apressada, só confirmando que sim, ela está escondendo algo.

-Fala, Sofia!

-Quando me levaram… Eu ouvi tanta coisa, ela me humilhou de todas formas possíveis. Ela… Me fez tirar a roupa na frente de todo mundo… E, se os Jauregui não tivessem conseguido chegar naquele momento, ela ia deixar o Josh… Deixar ele fazer o que quisesse. - Ela diz a última palavra em um sussurro.

-ELA IA O QUE? - Falo, dando um pulo da cama e indo em direção a ela, sentindo minha barriga latejar.

-Mas não aconteceu nada, os Jauregui chegaram bem na hora, parecia até combinado. Mas só senti alívio. E não precisa se preocupar com isso, já foi!

-Você contou pra eles? Como eu só tô sabendo disso agora, Sofia? - Falo, andando de um lado para outro, enquanto passo as mãos pelo cabelo e ignoro a dor na minha barriga.

-Eu não falei nada. Mas mesmo assim o Juiz fez com que ela perdesse a profissão e ela precisou se mudar com o filho.

Começo a andar de um lado para o outro, apavorada.

Minha irmã quase foi estuprada por um louco, por minha causa! É óbvio que ela está abalada, óbvio que ela ia ficar estranha!

-Cami, não fica assim. Eu estou bem, ele não teve tempo de fazer nada.

-Sofia, me faz um favor? - Ela acena, concordando. - Guarda essa histórinha de faz-de-conta pros outros. Pra mim, você fala a verdade! Desembucha! - Ela abaixa a cabeça e seu corpo tremendo denuncia seu choro.

-Foi horrível. Aquela mulher me levou pra um quarto escuro e fedido, ficou falando coisas horríveis. Dizia que, já que eu era “putinha”, ia ser uma pro filho dela. Ele me tocou, Cami. Foi tão nojento! Eu nunca me senti tão suja! Eu tentava lutar, mas eles sempre me davam tapas na cara. - Ela fica em silêncio, apenas chorando e eu fico parada, estática. - Toda noite é a última coisa que eu penso. Eu só consigo me acalmar quando o Chris me abraça e eu sinto o cheiro dele. - Me aproximo dela e, ainda ignorando a dor, me agacho e a abraço, deixando ela chorar até se acalmar. - Cami… não conta pra eles, por favor. Eu não quero dar mais problemas pra eles! - Me afasto e seco seu rosto, vendo seus olhos vermelhos e inchados.

-Sofia, presta bem atenção no que eu vou falar, tudo bem? - Ela acena fracamente. - Você não está bem, todo mundo já percebeu isso. Como você acha que o Chris está se sentindo vendo você se fechar? Sofia, eu te conheço bem demais e sei que, por mais raiva que você tivesse, você não mandaria enterrar Sinu como indigente! Você não teria esse sangue frio, não a minha Sofi! - Ela abaixa a cabeça e recomeça o choro. - Sofi, olha pra mim. - Ela levanta o rosto, com uma feição retorcida pelo choro. - Eu não vou deixar que aconteça com você o que aconteceu comigo! Você não precisa me dizer que está arrependida por não ter enterrado Sinu pra eu saber que você está, sim, arrependida. Sofia, pela primeira vez, em muito tempo, temos alguém que está disposta a lutar por nós. Não só uma pessoa, uma família! Entenda que você não precisa mais segurar tudo isso sozinha, você tem pra quem pedir ajuda e eu vou melhorar, Sofi. Você pode baixar as guardas e se permitir ser uma menina de 16 anos como qualquer outra! Não desperdice isso. Não acabe com sua vida. Não se torne outra eu, você não merece isso!

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-ELE O QUE? - Chris grita no meio da sala, ficando imediatamente vermelho e trincando os pulsos. - Eu vou matar aquele babaca! - Sofia se encolhe nos meus braços, quando ele dá um murro na porta.

-Chris, você tá assustando a Sofia! - Mike interrompe.

-Eu vou arrancar as bolas daquele filho da puta com faca cega e fazer ele engolir! - Dinah rosna.

-Gente, vocês não estão vendo que ameaçar ele é a última coisa que a Sofia precisa? - Ally interrompe. - Ela está absurdamente assustada por si só, não precisa de mais demonstrações de agressividade! - Ally vem até minha irmã e a abraça.

-Ok, vamos organizar isso!. - Clara diz, engolindo seco e tentando disfarçar seus olhos vermelhos e marejados. - Sofia, você devia ter nos falado. Isso é um crime gravíssimo que eles tinham que ter respondido! Não esconda mais esse tipo de coisa da gente! Outra coisa, você vai começar passar com uma psicóloga, isso ainda pode te fazer muito mal e temos que contornar, antes que piore. E, por último, Mike e eu imaginamos que você se arrependeria daquela decisão, então a gente enterrou ela e, se você quiser, posso te passar o endereço. - Sofia, como que atraída por um ímã, corre para os braços de Clara. - Pequena, você não está mais sozinha. Você tem a gente e pode contar conosco. Sempre!

Voltando a ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora